quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Tu
























Semeia-me de esperanças.
Faz-me brotar nos jardins dos corações
juntando-me a essências ignoradas,
não sentidas nem cultivadas.
Nutre-me de emoções…
As que me trouxeram até aqui
e hão de juntar-se a outras
para também me conduzir,
 veleiro a velejar onde quero,
buscando o ideal que ainda espero,
sempre a me esperar também.

Conduz-me com teu amor…
Sei que a dor é passageira de teu barco,
 faz-se doer, sofrer, desvanecer,
lapidando o ser,  expondo  o existir,
 evolução  sem embalagem
do viver incauto de apenas ser
trazendo o brilho antes escondido,
revelando o ourives da alma a renascer.

Permite-me continuar meu rumo…
Se por algum motivo  desaprumo,
sejas a paciência divina
a perdoar os limites de minhas finitudes
tentando simplificar  as longitudes.
Levanta-me quando eu cair.
Certamente serão muitas quedas.
Quero tua mão a me amparar,
teu colo sarando meus ais.
Tu, meu amigo, meu filho, meu pai…

Sejas minha velha embarcação
pelo mar das palavras “velhejando”
 colhendo o belo em versos e magias
empolgada da tua empolgação,
despida de pena que não valha.
Transita-me por caminhos abaulados
apontando os dois lados da medalha.


Carmen Lúcia






sábado, 19 de novembro de 2016

O poeta voltará




















O poeta foi ali…
Lá, acolá, não sei onde…
Sei que voltará.
Foi buscar fragilidade
em solos lavrados de fraternidade.
Foi ainda mais além…
Acender o farol do mundo,
iluminar o breu profundo
que aqui se estabeleceu.
Buscar a estrela de Belém,
sinos repicando o bem,
 neve pra branquear o chão,
tornar o natal tão lindo
ainda que mera ilusão…
Foi regar a primavera,
colher a flor mais bela
a exalar  emoção.
Em tardes outonais,
roubar o dourado das folhas,
 a nostalgia encantada do tempo
para o desengano do agora
 que não se encanta mais.
Foi pedir paz onde há guerra
tão fria que a alma aterra
e congela sentimentos.
Foi estancar o inverno,
fechar o portal do inferno
de onde os demônios
disseminam o mal…

O poeta foi ali…
Lá, acolá, não sei onde…
Só sei que voltará.

(Carmen Lúcia)


sexta-feira, 18 de novembro de 2016

Unicidade




















 
 
 
 
Creio em Deus trino
que me fez una...
Insubstituível.
Só um caminho me é admissível
além dos desvios que lançam aos desafios...
Sou como o rio
que serpenteia, contorna rochas,
permeia pedras e as pisoteia.
Não se desnorteia
para chegar ao seu destino.
 
Entre o sagrado e o profano
sou o meio termo...
Nem pura, nem mundana.
Sou humana.
Não vacilo...
No entrelaço das incertezas
fico com a óbvia certeza
de que o bem prevalece o mal.
Procuro a isenção das ambiguidades
que confundem e roubam a tranqüilidade.
Caminhos confusos,
trilhados pela dualidade....
 
E nessa unicidade em que vagueio
passeio em cores e versos,
meu eu manifesto
ao colher de cada dia
a poesia
que me lapida em gestos de amor
em busca da beleza interior.
 
 
Carmen Lúcia
 


















Medo...
De despir-me das vontades
e nua de desejos 
 e ensejos
perder minha identidade.
De desistir dos sonhos
e imbuir-me de marasmos,
cultivando um amanhã enfadonho.
De mergulhar no vazio;
dele não conseguir sair
e por mais que eu tente, nele persistir.
De perder a inspiração,
vítima da síndrome do papel em branco
...e fragmentá-lo com meu pranto.
De que a sombra se interponha
e me impeça de ver a luz,
o belo, o arrebol, o sol...
De que pensamentos funestos
conspirem contra mim, no universo,
e me retornem ainda mais perversos.
De não encarar a verdade,
alienar-me à falsidade
e por mais que me custe,
mascarar a realidade.
De não ter ousado,
não ter lutado,
não ter recomeçado,
não ter acertado,
mesmo tendo amado.
Medo de não perder o medo.
Carmen Lúcia

quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Desconsolo


U




           













Hoje, após anos de poesias
ainda me encontro caçando sonhos
um tanto meio que aturdida…
Os planos já não somam tanto,
perderam o brilho da magia,
 não acompanham o ritmo da vida.
Porém me pego ainda iludida
equilibrando realidade e fantasia,
vivendo entorpecidas utopias,
gastas, choradas, feridas.

Vejo o sol nascer, o céu se iluminar,
as cores pincelarem um rico cenário
a ornamentar um mundo de cruezas,
a lua a se achegar mostrando seu mistério,
mistificando a lei do universo,
trazendo o belo e toda sua grandeza
onde a beleza não se encaixa,
onde o homem é impermeabilizado
para que seus respingos não o fragilizem
e o que é humano se faça despertar.

Vem, inspiração, ajuda-me a sonhar
mesmo que não haja mais motivo…
Faz-me digna de seu dom,
aumenta o tom de minha poesia,
preciso tanto ouvir seus versos,
conhecer as rimas e sentimentos
inversos e desconhecidos
que perdidos hoje me alagam
e não falam mais a minha língua.


Carmen Lúcia


domingo, 23 de outubro de 2016

Por que não?

























Dá-me uma razão aparente,
um motivo convincente
pra me fazer mudar.
Desfazer-me de mim,
ser camuflada e ruim,
traçar meu próprio fim.

Por que não posso ter
o destino que se me atrela
 se minh’alma aberta revela
o enredo de meu filme
projetado por detrás da tela,
visto por ninguém.
Ninguém sou eu também.

Por que calar o meu verso
se nele  me refaço,
com ele sou universo,
  nele  morro e nasço,
percorro terras, voo, me acho.

Por que mostrar meu reverso,
 o vazio se instalou aqui dentro
e o mundo que adentro
tem o não que me impuseste
e o teu poder de decisão.

Dize-me o porquê do não,
mostra-me tua razão,
convence-me a mudar
e tu serás o tema
da mais insonhável utopia
pranteada num poema.

(Carmen Lúcia)


sábado, 22 de outubro de 2016

Sem direção

















     

Aponta-me um caminho
de pedras, de flores, espinhos…
Mostra-me a direção,
uma pista, um traço, um vão…

Devolve-me ao meu ninho
devastado pelas incertezas
das convicções embusteiras,
 armadilhas traiçoeiras
 plantadas para depredar
o espaço onde piso os pés
e ando ao revés sem nunca chegar.

Ilumina a escuridão da sombra
que anoitece meu itinerário,
quero ver a luz brilhante
acender o pavio da vela
e toda sacrossanta fé
incandescer o santuário,
revelando, num instante,
o final de tanta espera.


Indica um ponto sequer,
um sinal, qualquer hora,
uma rua, um porto, um cais,
um talvez, um agora...
um lugar onde possa chegar,
uma estrela que me guie
já que a manhã não vem mais
e preciso continuar…


(Carmen Lúcia)



segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Meu pranto






















Aqui derramo meu pranto.
Com ele a essência do mais íntimo,
do mais impenetrável de mim.
Com ele o que tenho de mais santo
e nem sei se quero o seu fim.

Lembranças que me dizem o quanto
de saudade me alcança.
 Lágrimas que mais chorei
sagrando sentimentos tantos
que jamais imaginei sentir
e passaram a existir, enfim,
à medida em que me dei conta
que ser humano é assim.

Guardado em pote de cristal
num templo surreal, aqui,
para  não se contaminar
visto não ter havido nada igual
e refletir, ao meio-dia, o sol,
luz a vasculhar da alma a poeira,
fuligens do tempo que se esconde
deixando a vida acontecer inteira.

Aqui derramo meu pranto.
Não houve como segurar…
Tão santo, tão brando, tão tanto.
 Das entranhas, um acalanto,
do coração, um venerável canto,
correndo o risco de se macular.

        Carmen Lúcia



terça-feira, 4 de outubro de 2016

Arte





















 Caminho.
 O percurso de sempre.
Percorro o que não condiz com minha mente.
Um desassossego invade meu ser,
arrasta-me para ver o que ali não existe.
Sussurra-me aos ouvidos: Ouça!
Paro.
Mas a inquietude persiste…
A melodia insiste  em ressoar
a trilha sonora que me persuade.
Uma força misteriosa invade.
Rendo-me.
Deixo-me levar por ondas magnéticas
até onde o sonho permite,
e ele jamais impõe limite…
 Minh’alma deixa aquele lugar.
Lá estou e não estou.
Sem impasse encaro o desafio.
Reconheço-me na arte, no que me impactou,
em toda a beleza que se esconde
na  pura expressão de amor,
força movedora a segurar o tempo.
Arrebatada pelo mistério  de sua magnitude
vejo toda a plenitude de seu esplendor
e ainda me sinto faminta de vida interior.
Comparo.
Arte está imbuída na mística da fé.
Ambas ocupam o mesmo patamar.
Movem, comovem, removem.
E de lá volto ao mesmo lugar
 onde me deixei levar, meu cais,
com a grata sensação
de ter conhecido a paz.




(Carmen Lúcia)




segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Marcas
























No corpo a marca da roupa da moda,
 os tênis de marca realçam os pés...
cabelos marcados de nós desatados 
dos laços de fitas em tons degradê.
Nos lábios as marcas de batom já vencido
roubado de um beijo que muito marcou.
Na pele a marca do sol de verão...
Bronzeado de praia que não se apagou.
No peito, um coração a pulsar disparado
marcando o compasso do primeiro amor.

No rosto as marcas cravadas do tempo,
veloz redemoinho limitando o chão...
Cabelos marcados por lenço amarrado
escondendo o grisalho e as marcas da dor.
Pegadas marcadas no peito desfeito,
 rastros de amor que por ele passou,
os olhos sem vida, sem cor, desbotados,
demarcam as cinzas do que não ficou.
Os passos se arrastam, pesados, cansados,
alastram as marcas que o tempo deixou.

                Carmen Lúcia

sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Silêncio, escuridão e mais nada


























Esperei o silêncio se pronunciar,
as últimas notas musicais se apagarem,
as falas se amortecerem e aos poucos
se esvaírem pelos arrabaldes...
O assovio do vento foi se enfraquecendo
e o tempo ininterrupto ficou ali prostrado.
A última sombra saída dos patamares
no vácuo se escondeu perdendo-se pelos lugares...
A lua não se manifestou, e solidária,
se fez meia, fino anel de prata,
estrelas apagaram suas luzes
deixando o breu da noite ocultá-las...
Um uivo abafado por não ver a lua
aquietou-se na penumbra da rua...
Agora era silêncio, escuridão e mais nada.
Assim quis permanecer...
Início da madrugada...
Nenhum ruído a comprometer,
nenhuma luz a me acender
e eu ali calada...
Momento propício
para um diálogo destoado
em que o silêncio fala por si mesmo
e o pensamento, um eco lá de dentro...
É um choro convulsivo rebuscando a camuflagem,
é o encontro de dois eus discutindo seus disfarces...
O eu que sou, sufocando a espontaneidade ,
o eu que não sou , dissimulando minha imagem.

_Carmen Lúcia _

Entre perdidos e achados


























Tantos retalhos costurados,
remendados um a um,
mente a recriar atalhos,
mão a cavoucar ilusão,
linha a bordar continuidades,
histórias tendendo acabar,
caminhos por onde passar
quando não há caminho algum…
E o que se segue, persegue-se
tentando agarrar
motivos pra sobrevivência,
sentido para festejar
outro nascer livre
no lugar que um dia virá,
 quem sabe aqui ou acolá…

Trilhas do desequilíbrio lúcido
a remexer sentimentos calados,
trazê-los à tona, despertados,                                                        
fazendo barulho estridente,
entorpecida mente,
abrindo fendas e passagens
às vividas experiências,
legados e essências,
buscando outra existência
entre perdidos e achados,
sem metas, sem retas ou direção,
num tortuoso espaço
traçando passo a passo
a rota da imaginação.

(Carmen Lúcia)


sábado, 24 de setembro de 2016

Desfile de flores



Poesia criada nos idos de 2007, sem mudanças na ortografia.
Desfile das flores
Num reino encantado de olores e cores,
Onde a fantasia sugere poesia,
Desfilam faceiras, abertas aos amores,
As flores mais belas do "Rancho das Flores”.
Vem a margarida, tão cheia de vida,
Com saia de pétalas, girando, atrevida,
E a orquídea esnobe, altiva e rica
Lembrando a nobreza da corte esquecida.
Agora...suspiros...rubores...pudores...
Maria-sem-vergonha, de ardores, fulgores,
Tão discriminada, até ultrajada...
Porque dá à toa...Que triste! Coitada!
Logo em seguida, o lírio do campo
Com sua pureza, vestido de branco,
Recompõem-se as flores num clima de paz,
Recobram os valores, a moral se refaz.
A um certo perfume...silêncio total...
É a dama-da-noite, beleza fatal!
Atrás dela o jasmim que saiu do jardim
para a dama aplaudir...e sonhar...e sorrir...
E no ar, de repente, um calor eloqüente
Faz as flores tremerem, suores intermitentes
Exalam fragrâncias, ao vê-lo à distância...
É o amor-perfeito com um cravo no peito.
Feito uma estrela, a papoula vermelha,
Com “caras e bocas” a quem quiser vê-la,
Roubando os olhares, a tulipa amarela
E sua postura, beleza singela.
Ponto alto da festa, momento de esplendor,
Violetas dançaram a “Valsa do Imperador”!
Não se apresentaram as viçosas açucenas,
Presas nos caminhos a ouvir cantilenas.
Chegaram as onze-horas colorindo a passarela,
Dando passagem a ela...à rosa...a mais bela...
Curvaram-se todos em respeito à donzela,
Rosa rainha e seus espinhos, as sentinelas!
De repente, um acidente...e fala a bromélia:
-Caiu lá do galho a insinuante camélia!
O chourão choramingou e surgiu no jardim
Com uma placa na mão anunciando:
Fim!

_Carmen Lúcia_

quinta-feira, 15 de setembro de 2016

O poeta não...





















O poeta sabe que não pode parar…
Nada o obriga a prosseguir
a não ser a inquietude louca
ou o frenesi indomável
de combinar palavras
colhidas e equilibradas
na corda bamba imaginária
de um circo dentro de si
sem sombrinhas ou proteção,
palavras à vela, despojo que revela
a verdade que pode ser sua
e  se coloca nua
exposta numa janela.


 Não, o poeta não pode parar…
Tem por sina dizer o que obstina,
tem por norte não temer a  morte
visto que  da alma lança mão,
alicerce da inspiração,
substrato da mente, semente
 que entumece e cresce
enquanto o resto permanece em vão.

 Sem poeta é mundo sem visão,
é olhar por trás da lente que embaça,
não perceber o pranto, o riso, a esperança,
o sonho escondido
por detrás da vidraça
dançando com versos
ao som da inspiração.
É ver a insensibilidade
virar coração…
Viver num mundo triste
onde a realidade persiste
em ser apenas o que é.


(Carmen Lúcia)


terça-feira, 13 de setembro de 2016

Pedaços





Quantos pedaços meus
fincaram trilhos pisados,
rolaram ladeira abaixo,
afogados em poças e lágrimas,
 enroscados em quinas
cobertas de limbo e musgo,
pintadas do medo que investe,
caiadas de coragem tirada do nada
a esconder cada retalho
em cada pedra de atalho,
em tudo que se perdeu…

Quantos pedaços truncados
cravados em pétalas de flor,
em cada gesto de amor,
em cada mescla de cor
aliviando o peso da dor
a dividir partes de mim
entre ir ou ficar,
desistir ou lutar,
e por fim partir,
ficando.

Quantos pedaços me refarão
 trazendo-me a mim
se em caminhos bifurcados
perderam-se, enfim,
e os retalhos reavidos
se desfazem ao cerzir
esgarçados pelo tempo
costurado de momentos
que vêm para em seguida ir…


(Carmen Lúcia)


sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Preciso do tempo





Preciso do tempo…
Devagar, a contento,
levando-me a passo lento
por cantos que nunca vi.
Vem  também de encontro ao vento
e num alento, comigo se deixar levar.
Permitir-se atrasar,
extrapolar  limites,
parar os pêndulos, calar as horas,
deixar-me passar…
Tempo bendito, preciso,
ainda que em mar revolto
dar-me a mão pra atravessar,
atracar em qualquer porto,
acenar  ao  que se vai,
e a quem queira, abraçar.
Barco torto, sem pressa de chegar ao fim,
 Em cada cais vivermos  um pouco mais,
sem o temor do calendário,
surdo a regras e sermões,
unindo-se a mim…
Cavalheiro lendário
que ousou seu senhor dissuadir,
espera um pouco mais…
Quero dar vida ao imaginário,
imagens ao que compor,
cobrar o que não vivi,
devolver o que vi demais.

E após vivermos tantas marés
cumpra seu destino, pé ante pé,
sem acelerar as horas…
Deixe que se vão embora,
siga no controle dos dias
conduzindo à revelia
minutos cronometrados
apressados e resolutos.
Faça cada minuto
durar cada vez mais.


(Carmen Lúcia)


quarta-feira, 17 de agosto de 2016

Chuva fina






Chove…
A esperança renasce
em gotas cristalinas
vindas de um céu  despojado
criado pra sempre prover
livrando o não lavrado,
cânticos do bem querer.

Chove…
No deserto de mim
e o frescor da chuva fina
ameniza o limiar do fim,
orvalha o seco da vida,
alaga a dor reprimida,
 estio plantado sem jardim.

Chove…
 O bem que vem do alto
refresca o calor do asfalto,
desfaz o nó bem atado,
apaga o maldito feito
 proibindo a razão de ser,
mareja o chão que decolo
 voando  com minha ilusão
em busca de inspiração
e regresso  um novo verso.

Chove…
A terra fica em festa,
rolam pedras, abrem-se frestas,
surgem borboletas orvalhadas,
infestadas de cores, jardins e heras,
julgando ter chegado a primavera.


(Carmen Lúcia)


terça-feira, 16 de agosto de 2016

No fio da navalha






Põe à prova a existência,
equilibra-se à vivência,
ginga com a sobrevivência,
ampara-se em  linhas frágeis,
andaimes de fios cortantes,
voos parvos e rasantes,
sem direção, motivação
 ou algo  que lhe  valha
a pena da batalha.

Expõe a verve que vibra
ainda que o sonho agonize
e a vida num revide
protagonize o que será…
 Derrocadas vestem branco
pedem a  paz que tardará,
incutindo o tempo inteiro
o destino que se lhe impõem
 prepotentes atitudes
tarjando falsas virtudes,
ilusórios aparatos,
cidadãos de fino trato,
embusteiros (des)mascarados
ante a fé que cambaleia
em nocaute à ilusão
no combate inusitado:
Reação versus Coação.


E no fio da navalha
se equilibra o cidadão,
vítima do inafiançável
poder de (in) decisão
a espera que um dia
prepondere a perplexão
e todo o poder se (re) volte
à real situação.

(Carmen Lúcia)








sexta-feira, 12 de agosto de 2016

Meu pai


Quero você comigo
de novo, meu abrigo,
a me apontar caminhos
que perco a toda hora
sem chegar nem ir embora…
Quero você comigo
a refletir, amigo,
o que fazer agora
no decorrer das horas
do tempo que ainda resta
sem ter você aqui…
Quero você comigo…
Deitar minha cabeça
em seu ombro amigo…
Falar de minha vida,
dos sonhos que ainda restam
e  um dia comigo sonhou…
Pedir nova guarida,
pensar que o tempo não passou…
Quero sua presença
repleta de querência,
 presa na lembrança,
trancada em minha memória,
renascida em suas histórias
a me livrar dos medos,
a me pegar no colo
até cessar meu choro
como fazia outrora.
Quero você comigo
para lhe dar um presente
desses que a alma consente 
e o coração persuade
no ensejo de ser verdade…
Porém, “o que tenho pra hoje
é Saudade.”


(Carmen Lúcia)

Chegada





Chegaste…
num dia qualquer
de uma certa estação…
Sem aviso, sequer,
nenhuma empolgação,
como quem chega sem querer,
dissimulando o querer ficar…
Como um bem maior, um privilégio,
presença indispensável, sortilégio,
burlando o fuso horário,
mudando o calendário,
o itinerário, a hora , o fadário,
senhor absoluto do tempo.

Chegaste…
Surpreendendo a manhã
ao entregar o cetro para a tarde,
 revelando sombras em vertical
de pessoas vagando sob o sol,
rito costumeiro e pontual
anunciando o meio-dia,
do dia em que escolheste pra chegar.
Entremeio de manhã e tarde,
 das entrelinhas para o baluarte,
da surdina ao gesto de alarde,
na expectativa  de espreitar  a beleza,
roubar tons em gradação,
cores em formação
no momento exato do impacto
causado pelo sol tingindo o céu
e logo se perder  no horizonte.

Foste…
Junto com as cores do arrebol
morrer também atrás dos montes,
renascer, talvez, um novo sol
a irromper no amanhã,
com a manhã de cada dia.

(Carmen Lúcia)





quinta-feira, 4 de agosto de 2016

Em busca de palavras, na rota do sol



Sigo a rota do sol
quando o vejo bem longe
Irradiando sua luz já branda,
expondo um entardecer tranquilo
de cores tênues, pálidas,
antes do anoitecer...
Vou em busca de palavras
no lusco-fusco, esparramadas,
abandonadas ao ocaso...
E minha alma se inunda
nessa cascata que magia infunda,
aura abençoada, tobogã dos sonhos,
ondulações de cores
suaves como o outono
de folhas caídas,
tapete verde-musgo
mesclado de amarelo-ouro...
Trilha para a fantasia...
Crepúsculo que finaliza o dia
e que sacia a alma ávida do poeta,
transvestindo rotas em magias
ao nascer da mais etérea poesia.


_Carmen Lúcia_

segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Fama




Subiu os degraus da fama,
deu de si o que podia...
o que pensou ser seu melhor,
atropelou o bem que havia
bem ao seu redor...
deixou à revelia
valores que engrandeciam.

Sem ponderação, ultrapassou limites.
Sentir-se lá no alto, observar de cima,
ser cortejada, inflar a autoestima
era mais que um desejo.
Uma obstinação!

Foi manchete de jornais,
notícia de colunista,
capa de revista,
da mídia, a sensação.
Chegou ao topo
das camadas sociais.
Tornou-se a maior atração.

Esqueceu-se da essência,
quis viver de aparência,
mas tudo que é supérfluo
tende a se deteriorar,
dá vazão à turbulência
e todo glamour se esvai.
Começou a despencar
sem ter onde se amparar.

Percebeu que o sol se esconde,
perde-se no horizonte
e toda luz se apaga
quando a alma não tem chama...
E desalmada reclama
os valores imateriais
que lhe foram banidos,
tirando o colorido
de sua forma existencial.

Hoje, da fama à lama,
do cimo ao chão...
Esquecida, ensandecida,
ainda vive de ilusão…
pensa ser uma estrela,
a mais brilhante
de qualquer constelação.


(Carmen Lúcia)

Vejo flores







Vejo flores se abrindo
em meio a  jardins e canteiros,
sinto-me flor o dia inteiro,
 beija-me o beija-flor,
doce carinho passageiro.
Flagro girassóis nascendo,
revirando-se à  luz do sol,
 abastecendo-se…
Giro os rodopios das rodas,
de arrebol a arrebol,
enquanto durem as voltas,
anoitecendo-me…

Piso campo florindo
 abrindo-se ao simples toque
e a olhos vistos resplandecidos 
sem toques de recolher…
As cores de todas as cores 
se pintam em mim
colorem minh’alma
de puro jasmim…
Corro mundos inteiros,
busco o futuro por vir
e o porvir vem chegando…
Ficará até quando?

Roubo o feitiço da lua,
cirando a rota lunar,
viro estrela na rua,
cuido  pra sempre brilhar.
Cruzo linhas paralelas,
viajo outro patamar,
 parto para o  infinito,
desconheço o finito de mim.
Creio que nada se acaba,
muda-se,  não há fim…
Sou aquilo  que penso,
muito além do que imagino.
Não há universo que não se alcance,
ainda que a estrutura balance
e o equilíbrio tenda a desequilibrar…

O pensamento segue o comando
da mente livre para o guiar…
Livre para voar…e virar…
Vira flor, vira cor, vira alegria,
permeia os versos, vira poesia,
vira pássaro, alça voo,
vira lenda ou magia,
vira vida, pula a morte,
vira o que não mais importe,
vira o que queira virar.
Depende da sorte.
(ou do azar)


(Carmen Lúcia)