quarta-feira, 28 de junho de 2017
Liberdade
Mostrei o que sou.
O que realmente modula em mim;
fui contra as marés,
emergi de um abismo sem fim.
Cruzei linhas paralelas,
corri na contramão do vento, do tempo
e me alcancei na última estação...
Rasguei minha carne, expus meu avesso,
o meu contexto
e toda a sensibilidade verbal,emocional,
escondida em contra senso,
sufocando o bem, endeusando o mal.
Postei nua minha identidade
e toda a verdade antissocial ...
chocando a realidade dura.
Vomitei iniquidades cruas
ingeridas por razão irracional
sob forte pressão radical.
Viajo sem malas.
Sem revolta ou bilhete de volta.
Sinto-me leve, nada que me pese,
sem alças das parafernálias
que pendurei num tempo que já teve fim.
Sigo só... melhor assim.
Insana, estranha, profana
é o que pensam e podem pensar de mim.
(Carmen Lúcia)
Quinta fase da lua
O tempo escorre…
E a vida devagar tolhe
devaneios parcos,
poucos,
sonhos enroscados,
perdidos, afoitos,
famintos de querer
ficar.
Ocultos em oposição ao vento
pedem por socorro
e não os carregar,
clamam abraços de um poeta louco
ao não se dar
conta
que o tempo é
pouco
pra investir tanta emoção
e se emaranha nesse espaço roto,
por contradição,
nessa trajetória breve
que descreve
um caminho torto
onde o espinho arde
e a flor já não mais dá.
Mas se o motivo é arte
há que se cumprir a sina
da poesia que invade…
Ainda que o sol se (o)ponha
e na última esquina
de qualquer rua
aponte nua
em inusitada quinta fase,
a lua.
Carmen Lúcia
terça-feira, 13 de junho de 2017
Respostas sem perguntas
Reveste-se de pátina o cenário.
Personagens reais ou imaginários,
envelhecidos,
tribais.
Não pela ação do tempo.
Por ali ele nem
passa.
Ultrapassa.
Assim como a ação da luz.
Descompassa,
não seduz.
Quem são?
De onde vêm?
Paridos de qual solidão?
O que não têm?
O que veda o sofrimento
frente a tal
confinamento?
No gueto,
o unguento a entorpecer feridas,
prisão cercada de fumaça e pó,
desamor a representar sem dó
atos desencadeando nãos à
vida.
E a sociedade, cheia de respostas,
de ideias e intervenções,
ações supostas,
olhos turvos de ramela,
olhar que reprime, atrela,
lança a novas reclusões
sem a profundidade
precisa de um olhar,
onde se é juiz e promotor.
Sem réu.
Onde jaz todo valor
sem julgar a dor.
Arrogância, hipocrisia,
intolerância à revelia,
antropologia imoral,
um faz de conta geral
do rumo certo tomado
e o certo ou errado
já se tornaram utopia.
Vultos sem rostos,
vivos-mortos,
filhos da urbanização patológica.
Não perguntam, querem não ser.
Inibem a cara pro sol, tentam se esconder.
Lançar mão da droga para não doer
a dor que dói mais que se drogar…
São parte da
sociedade,
não excluídos da Constituição,
prescritos na bíblia sagrada,
sagrados em
comunhão
ou o Cristo da revolta,
“Atire a primeira pedra…”
não mais se revolta?
Morreu?
A Cracolândia existe.
É o avesso do mundo.
Seu lado contrário
e imundo.
A realidade triste
que persiste em desdizer
o que sabemos
sobre condição humana.
Carmen Lúcia
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