domingo, 30 de setembro de 2012


Saudade

Saudade
  

Não mais a inocência estampada,
tatuada no rosto, no gosto, nos traços,
nos passos da ingenuidade, tenra idade,
quando a verdade feito um baluarte
sustentava a vida chamada Felicidade.

Não mais a magia do encanto,
do surpreendente rondando os cantos,
do inesperado sendo realizado,
da alegria num sorriso franco...

Não se escrevia...Via-se poesia!
Pintada num cenário surreal,
interpretada pela euforia de cada coração
onde a emoção brincava além das fronteiras
ultrapassando o ápice da abstração.

Não, agora não mais assim...
Nada acabou, tudo se transformou.
A ingenuidade vira maturidade,
a inocência chega ao fim.
Felicidade se reduz a momentos
poucos, parcos, finitos enfim...

A vida mostra uma outra face,
cara lavada, sem disfarces...
O mundo fica pesado, profundo,
o sorriso não sai espontâneo,
o encanto gera desencanto...

Ainda resta a poesia;
nada ou ninguém irá roubar.
Ela traz a primavera todo dia,
na janela...Bailando no ar!
Vibra a emoção adormecida
permeando sonhos que persistem
refletidos nas flores, nas cores,
nos amores que ainda existem,
vivos em lembranças que hoje
se chamam Saudade.
 

_Carmen Lúcia_

segunda-feira, 24 de setembro de 2012


O motivo maior

O motivo maior
(imagem copiada do Google)


De tudo, és um pouco mais;
da vida, o concreto e o indefinido,
da inspiração és o próprio verso,
do infinito, o universo,
de todos os limites, a ponte
pra se alcançar o tarde e o longe.
Das manhãs de sol és luz
que a tudo ilumina e conduz;
da alma que chora és lágrima
que umidifica e abraça
abrindo clareiras, lavando onde passa,
suavizando íngremes jornadas.
És remédio pra dor, és calor,
a essência da pureza, nascente da beleza,
o motivo maior, o imprescindível,
és razão e emoção
unidas, em feliz comunhão,
a simetria , harmonia, poesia...
És o gládio pacificador...
És o Amor!


   (Carmen Lúcia)

terça-feira, 18 de setembro de 2012


Estações do tempo...e da vida

Estações do tempo...e da vida
(imagem copiada do Google)


(inspirada no texto de pe Fábio de Melo:Outonos e Primaveras...)


Final de inverno...
Lacradas estão as folhas
que esverdearam sonhos,
derrubadas pelo vento,
sepultadas pelo rigor do frio
no silêncio das sombras
na escuridão do chão...
Embaladas pelo outono
que tristonho se foi
e ansioso espera
ver renascer a primavera
que adormecida sob o solo
nos priva da visão
de sua germinação...
Fase que não vemos
mas que nela cremos..
É o ciclo de vida e morte...
Vida que não se finda,
morte que não se acaba...
Processo que se encaminha sem pressa,
movimento que vai se cumprindo em partes,
o cair das folhas, fecundidade,
cumplicidade do tempo,
cantos das cigarras, assovios dos ventos,
o ressurgir da aquarela , o florido sobre a terra,
o renascer da primavera...
Cumprida a missão, o outono agora espera
o retorno de outra primavera...
a sua ressurreição.
Assim como a vida...
a próxima estação.

_Carmen Lúcia_

domingo, 16 de setembro de 2012


Celebra sempre...

Celebra sempre...
(imagem copiada do Google)


Celebra sempre...
Hoje o sol veio de mansinho
na janela de teu quarto te acordar,
e o dia se encheu de brilho
querendo também celebrar.
Celebra sempre...
Hoje o sol não apareceu,
mas por detrás da sombra há luz...
Espera a nuvem se dissipar;
o tempo de espera nos motiva a acreditar.
Celebra sempre...
Hoje a tristeza te acometeu,
a fé que te mantém, estremeceu...
Não permitas que ela se vá,
nada é eterno, tudo passará.
Celebra sempre...
Os mesmos sinos que choram a morte
também se dobram em grande porte
anunciando a vida, a alegria,
a esperança no novo que virá.
Celebra sempre...
Ainda que teu sonho tenha ultrapassado
os limites de onde conseguirias ir,
não desistas, invistas nas possibilidades...
Novos sonhos hão de vir.
Celebra sempre...
Troca o pranto por um sorriso,
a felicidade chega sem aviso
se abrires a porta para ela entrar...
E verás que valeu a pena
teres vivido sempre a celebrar.

_Carmen Lúcia_

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Quando uma estrela se apaga...



(imagem copiada do Google)



Minha estrela se apagou
pra renascer em outro céu...
Onde havia labareda
hoje é o mais escuro véu.
Estrela que me incendiava,
brilho singular que estrelava,
somente ela...uma constelação.
Porta que se abria à minha inspiração.
Nem rastro deixou, apenas se foi.
Navega pelo universo sem fim...
Cintila sua luz em outros versos,
tirou seus olhos de mim.
Quem sabe se na luz apagada
exista um segredo que me destinou...
E nessa escuridão,
encontra-se, embrenhada,
grande revelação!
Ao contemplar as estrelas
procuro encontrá-la,
sem conseguir vê-la.
Então, me vem a certeza:
que são as estrelas
senão luminosos rastros
de ilusões do passado,
cintilações de astros
que recolhem a beleza
pra mostrá-la noutro espaço?
   
   (Carmen Lúcia)

sexta-feira, 7 de setembro de 2012


Eu, o Poder!

Eu, o Poder!
Cala-te, poeta!
Teus sonhos altruístas e liberais
ameaçam os meus, consumistas e tridimensionais.
Tuas atitudes certas imbuem-se de gritos de alerta
às minhas, duvidosas e incorretas...
Teus vôos inusitados e abrangentes
podem estimular muita gente
a quebrar correntes...(hoje,liberdade aparente!)
Vôos incoerentes a uma inverdade existente.
A luz que irradias ameaça clarear caminhos
que quero manter em vão...na escuridão.
Tua essência põe em risco toda a abordagem da embalagem,
roubando-me a prepotência, a persistência...
O teu lirismo contagiante carrega multidão adiante,
mudando seu pensar...
E eu não quero vê-la dissipar.
Tua poesia é como um escudo salvador
livrando-te a alma do poder avassalador...
Tua sensibilidade me acovarda, me amedronta
ao quebrar o gelo da sociedade que me afronta...
Teus anseios pelo fim das desigualdades
ferem meu egocentrismo, minha vaidade...
Enfim, cala-te, poeta!
Não destruas meus castelos construídos
pelo suor, sangue e dor
de um povo pacato e sonhador!

_Carmen Lúcia_
Carmen Lúcia Carvalho de Souza
13/12/2007

quarta-feira, 5 de setembro de 2012


Estrela da manhã

Estrela da manhã
(imagem copiada do Google)

Ei-la que surge em silêncio
calando o infinito de paz celestial,
luz que invade as manhãs,
adentrando o surreal
e permanece enquanto dure
a incredulidade dos perplexos,
rendidos à força de sua atração,
magnetismo que rouba do mortal
a meditação, a visão, o real...

Mantem-se luz...Será estrela?
Vê-(nus) de um patamar a nos espreitar,
cintila candura de luminosa esfera,
desafia neblinas que a interpelam
lançando o néon que a reverbera,
enquanto predestinada anuncia
a vinda da manhã...e espera,
impondo majestosa presença,
nem arrogante, nem modesta,
sugerindo cautela...

Espiã misteriosa, sabe os segredos
de tudo que não pode ser dito,
da imensidão por onde alastra
seu brilho místico, seu rito, seu mito,
a sua estada pelo infinito...
Chega antes de mim, sorri...
Meus olhos bebem a distância
entre eu e ela...
no afã de percorrer seu rastro
e ouvir o que seu silêncio
revela...

Estrela da manhã...
Alvíssima, dalvíssima, talismã...
Que seu encanto não desaponte a manhã
e sua beleza não esmoreça
ao fascínio da imensidão,
perdendo-se entre nebulosas,
armadilhas da ilusão.


_Carmen Lúcia_
 

domingo, 2 de setembro de 2012


Pátria amada!

Pátria amada!
(imagem copiada do Google)

Ah...Quisera eu trancar a voz ...Silenciar!
Não ter no sangue o arrojo... e me calar...
Acovardar-me às injustiças que poluem o ar,
desencantando a vida, erradicando o verbo amar.
Mas me ficou de herança esse impulso que aflora
de rebelar, ter esperança, a toda hora...Agora!
Reativando o brado que um dia foi bradado
e no entanto jaz em terra que ainda chora.
Grito incontido, potente qual alarido,
lamúria triste de um povo sofrido...
Sem encontrar um eco e nada transformar...
E a lei do mais forte é a que se faz vingar...
Lágrima furtiva que rola condoída
como a pedir desculpa à pátria tão querida,
que em berço esplêndido privou de se deitar...
Tão linda e altaneira...injuriada e ultrajada,
onde o cantar do sabiá é um pátrio lamento
e as verdes palmeiras se curvam à voz do vento...
O que fazer senão extravasar o peito
e arrancar palavras que livres circulem
(já que o livre arbítrio é poder aceito...)
em versos e poemas, mágoas que se difundem
bradando a honestidade em gesto varonil,
país de liberdade de um povo servil!

(Carmen Lúcia)