sexta-feira, 30 de novembro de 2012

A alma da rosa branca



(imagem - Susie Sun )

A alma da rosa branca

Branca, pura, perfumada, brilhante,
nascida do amor, rara flor, vibrante,
embalada por espinhos quando ainda botão,
regada a orvalho, carinho e dedicação.

Eis que desabrocha, brancura exalada,
eis que enternece, brandura desentranhada,
ainda que rainha, dispensa ostentação,
esconde o glamour, isola a inquietação.

Tenra auréola a coroar simplicidade
faz pulsar um coração, transborda sensibilidade
como se humana fosse a rosa branca
a beijar as mãos que a tornaram bela e branda.

Entre pétalas macias, a maciez de um rosto
refletindo no olhar o verde-claro das folhas,
sua alma (in)visível se desprende, a semear
todo amor e gratidão por quem soube lhe amar.

(Carmen Lúcia)


quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Entardecer





          (imagem de Susie Sun)




Tanta beleza a tarde traz...
Perco-me em horizontes
desmaiados no infinito
englobando céu e mar,
envolvendo a terra na perplexidade
de não ser dia nem noite...
Ser cores foscas, nuvens afoitas,
embaçadas, a espera do que será...

Ser tarde, ao se despedir da manhã
e saudar a noite que virá...
Sou tarde no momento da transição,
quando o sol vai se apagando,
as cores abrandando
a intensidade de sua gradação.

Sou tarde no momento da aparição
do brilho da primeira estrela,
a anunciação...
Quando se acende a candeia
no auge da imaginação...

Quando o belo se personifica
na plenitude de meu sonhar,
quando tomo a atitude
de com a tarde me identificar,
de com a tarde esvaecer,
de com a tarde, entardecer
...e tarde ser.


(Carmen Lúcia)


domingo, 25 de novembro de 2012

Talvez


Talvez...

Talvez...
Talvez ...
O tempo reverta
a descrente esperança
em certeza...
e me traga a surpresa
de um bem inesperado
que nem sempre se alcança...
 

Ou o amanhã retroceda
ao ontem ininterrupto
que se estenda ao futuro...
Caminho escuro...
E tudo fique na mesma.
 

História que tento mudar,
rima que não quer mais rimar,
poesia que já não se faz notar...
Enfatizada, mastigada, engasgada ...


Talvez...
O hoje vivido
tenha valido
uma eternidade...
E meu eu distraído
não tenha medido
tanta felicidade...
 

Nem notou as manhãs
de belezas louçãs,
momentos desprezados
na espera do amanhã
que talvez nunca venha...
Ou se faz de rogado.


Talvez...
Esses versos piegas
sejam fiéis mensageiros
do tempo verdadeiro
e mensagens sinceras...
 

E carreguem bagagens
de sonhos e miragens,
gerúndio se estendendo
em todos os tempos
trazendo-me a chance
de continuar sendo...
 

Mesmo num tempo já ido...
mesmo sem nunca ter sido.


(Carmen Lúcia)

Poetando

Poetando...

Poetando...


A noite estrelava em minha janela aberta...
Chamava-me até ela para que eu visse o quanto estava bela.
Num impulso “Bilacquiano”, comecei a vê-las...
Como é lindo entendê-las!Amar  é ouvir estrelas.
Meu sonhar levou-me até elas...

Sonho é essência da vida. 
E, segundo Neruda, em versos,
passa incólume por ela
quem não ousa o incerto,
sucumbindo no que julga certo
e desiste de seus sonhos...


Aprendi com Shakespeare,
que os acontecimentos do dia
é que tecem a fantasia.
E que nos fazem sonhar...
E tornam a vida espetacular...
Que o tempo não cura ferida nem dor.
Somente o Amor!


De Clarice, um pensamento Lispectoriano:
Não devemos passar o tempo enganando,
mentindo pra nós mesmos, quando não se ama mais...
“Ainda te quero como sempre quis”,
inverdade que com o coração não condiz...
Mas, de tudo, aprende-se lição.
Nada é em vão.


Sabemos o começo, nunca o fim...
"A vida pode ser curta ou longa demais..."
Cora Coralina, semi-analfabeta, ensina:
ninguém sabe de nada, de antemão...
Por isso, para que o viver tenha sentido,
pra que nada tenha sido inútil,
toquemos as pessoas com o coração...


E no tarde da vida, decorridos os anos,
quando a carência de afeto humano
bate tão forte... Desmedida e sem norte...
“Saudade de quem quero abraçar e não vejo”,
“Acabo de receber pelo correio, um beijo.”
Adélia Prado, em seu verso alado,
“Não quero faca nem queijo.Quero a fome.”
Todo o resto, agora, me consome.


            (Carmen Lúcia)
Carmen Lúcia Carvalho de Souza
09/07/2008

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Como esconder a verdade?


Como esconder a verdade?

Como esconder a verdade?
Quem sabe se eu risse aos cântaros,
mostrasse a face desconhecida,
riso imbuído de mágoas,
de futilidades estabelecidas,
abrir-se-ia novo cenário,
passarelas de falsos amigos
cobrindo-me de flores surradas
assim como seus parcos sorrisos
querendo brindar comigo
o riso forçado e inibido,
enquanto os soluços da alma
irrompem por serem traídos...


Quem sabe se até gargalhasse
e virasse de pernas pro ar,
um palco seria estendido
para meu personagem atuar
cenas banais, amores persuadidos,
aplausos soariam tão fortes
como a mentira conivente
da intérprete que transborda e mente
uma reles história irrisória,
enquanto por dentro chora
a sua verdade escondida,
essência que a ninguém interessa,
o que ninguém mais apreça,
e o que tanto espero...


Valores já esquecidos,
como chorar num ombro amigo

meu pranto sincero.

Carmen Lúcia

domingo, 18 de novembro de 2012

Momento certo

Momento certo

Momento certo...

 Só me pronunciarei no momento exato,
aquele que me trouxer a certeza
de que as incertezas se esvaíram pelas frestas
e as asperezas, num pacto com a fumaça,
perderam toda a força, esvoaçaram sem arestas
e o que prevaleceu não há o que desfaça.

Só me farei presente ante a resposta convincente
de que o passado realmente passa,
concedendo mudança de estação,
ainda que a resposta de hoje
mude a pergunta do amanhã.

Só me mostrarei quando o sonho se tornar real...
Quando puder tocá-lo e não me fizer mal
como tantos outros que não pude viver,
onde a duras penas precisei retroceder...
E perder...

Só retornarei quando se abrir a pista
sentindo cores costuradas em  minh’ alma
permeada por essências de flores e amores...
onde  dores execradas  em jazigos, sepultadas,
não mais permitam que eu perca de vista
...a primavera...


Carmen Lúcia

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Vem...


Vem...

Vem...

Vem...
Acordar os amores
que dormidos ficaram
sem os carinhos teus...
Vem...
Harmonizar afetos
que rondam em desafetos
pelos caminhos meus...


Vem...
Reacender estrelas
que apagadas fizeram
o céu entristecer...
E as noites reclamam,
as poesias clamam
a luz de teu querer...


Vem...
iluminar sorrisos
fechados, sem avisos,
sem ter porque sorrir...
Vem...
recolorir as flores,
deixá-las multicores
felizes no jardim...


Vem...
Suavizar as dores
que com tua partida
só tendem a crescer...
Vem...
dar um sentido à vida
que hoje estremecida
não sabe mais viver...



Carmen Lúcia

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Se não for amor...

Se não for amor...

Se não for amor...
(imagem:bolgsmaravilhosos)

Se não for amor
qual outra definição
a esse enlevo que me enleva
e me leva a toda hora
para onde tu estás?
Ainda que meu corpo fique
minh’alma sempre vai.


Se não for amor
que nome então se dará
a esse fogo que acende,
incendeia sutilmente
aquecendo sem queimar...
Que me ruboriza a face,
rouba todos meus disfarces
e revela o meu pensar?


Se não for amor
por que esse ardor em nós persiste
na entrega às carícias,
à doçura dos momentos
de emoção e de malícia
e ainda quer prevalecer
na mais bela forma de querer?


Se não for amor...
por que o brilho em nosso olhar
confundindo o luar
a beirar nossa janela,
prateando nossos corpos
entrelaçados, enamorados
em graciosa trama de calor?
 

Só pode se chamar Amor!

_Carmen Lúcia_

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Circunstâncias




Circunstâncias reverteram meu perfil,
invadiram-me a alma,
redigiram meu destino...
Teia ardilosa!Armadilha sutil!
Transtornaram os meus planos,
vasculharam meu avesso...
Fizeram-me, da medalha, o reverso
e de meu sorriso, o inverso.


Circunstâncias mudaram o meu rumo,
inverteram meu trajeto,
impuseram-me decreto...
Tomaram-me as rédeas,
conduziram meu futuro,
embargaram-me o presente,
embaçaram meu passado
que prefiro nem lembrar
para não me ver chorar...


Circunstâncias são tratores,
represálias aos amores...
máquinas devastadoras
que arrastam e assolam
sentimentos mais profundos
e a dor maior do mundo
vem à tona...E detona!
Reabrindo as feridas,
impugnando a vida.



(Carmen Lúcia)

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Insana

Insana

(imagem copiada do Google)

E ela renasce a cada fase da lua...
rouba-lhe o brilho e lhe ofusca o luar,
percorre as estrelas seu insano olhar
e penetra o negro véu, indo além do céu. 
De seus lábios um balbucio visceral
profetiza um tempo que jamais haverá igual...

De repente dança em estranho ritual
e a cada passo avança, imaginando-se normal,
tomando para si cada pedaço do espaço
sem se importar com a plateia atônita,
que aos poucos se esvai,
se descompassa pelos cantos
a amaldiçoar a figura lacônica...

Gira em torno de si toda sensação
como em movimento de rotação... 
Pensa trazer os dias e as noites,
transladando cada estação...
Sinistra, caminha com a lua
que some no céu e ela na rua,
e como miragem, perde-se a imagem.

Deixa o cenário de ilusões e desenganos;
leva consigo a magia e o encanto.

_Carmen Lúcia_

Divina inspiração

Divina Inspiração

Divina Inspiração


E as bailarinas bailam,
dão vida à melodia
que invade o espaço
ritmando a euforia
dos corpos que se entregam
a uma louca magia...
alheios aos que os cercam
seguindo o que os inspiram...

A arte está nos pés
que rodopiam em pontas...
A arte está nas mãos
articulando os dedos
gesticulando emoções...
Está na silhueta
frágil, suave, perfeita.
Está por todo o corpo,
em cada expressão,
está dentro da alma...
Divina inspiração!



Carmen Lúcia

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Meus sonhos...

Meus sonhos...
(imagem copiada do Google)


Meus sonhos ultrapassam medidas,
planam sobre minhas asas,
pousam em minhas arestas...
Em meus cantos, desencantos, nostalgias.
E sempre ganhamos altura...
Quanto maior a dor, mais ousado o voo.
Voamos mais alto que as amarguras...
em nossas aventuras e desventuras
tornando-as fantásticas venturas.


Meus sonhos seqüestram-me de abandonos,
roubam-me da realidade,
poupam-me a fatalidade,
transportam-me ao deslumbramento
fazem de um só momento, eternidade...
onde um sorriso é ingresso para entrada
e a dor é transformada em fantasia.
Morada poética, sem hipocrisia...
Fazem do poeta alma, luz, inspiração,
a imaginar que toda noite é dia...
Ver de perto as estrelas, tocá-las com a mão.


Meus sonhos sugerem poesia...
Embalam-me em seus braços,
abraçam-me noite e dia...
Expulsam meus fantasmas,
livram-me dos medos,
enxugam o meu pranto,
repõem minha energia.


                       (Carmen Lúcia)

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Paisagem Urbana(modificada pelo homem)

Paisagem Urbana(modificada pelo homem)
(imagem do Google)




O sol começa a se espreguiçar.
É a rotina...São dez da matina...
Embaçado, pretende acordar a manhã,
iluminar a estação...Primavera?
Tão linda ela era...
 

O céu se acinzenta...
Nuvens?Não!Fumaça!
Fusão de azul e petróleo
sobre veículos e pedestres apressados...
Odor de óleo queimado...
Som estridente, alterado.Rock and Roll?
Não!Buzinaço a todo vapor...
 

Barulhos de trens do metrô...
Agitos do vai e vem...
Luta do dia-a-dia!
Pela sobrevivência...pela conveniência!
Alguém ainda dorme no banco da praça.
Cachaça?Acordar?Não tem graça!
 

Algo surge no céu, sem escarcéu...
Não é nave espacial...
É a lua prestigiando um luau.
(saudade dos velhos saraus)
Pontinhos cintilam fraquinhos...
Vaga-lumes?Não!Estrelinhas!
(nas entrelinhas)
Querem dar o ar da graça!
Coitadas!Tão sem graça!
 

E o corre-corre continua...
Agora a paisagem é crua e nua!
Luzes incendeiam bordéis...
E os sonhos?Vendidos aos tonéis!
Casas noturnas, peças teatrais...
Encenam vidas reais...
Travestis e prostitutas disputam locais,
esquinas se enchem de marginais...
 

O êxtase excita, alucina,
domina atitudes tribais, canibais...
Poetas observam...perdem-se nas rimas.
Um barzinho, um cantinho e um violão...
Um estampido, um grito, sirene e furgão. 

Numa igreja, louvores e cânticos,
nos cantos, clamores do sexo,
e toda a fé perde o nexo...
 

De repente, um seqüestro-relâmpago...
Nas casas, noticiários na televisão,
em volta, grades de prisão!
Uma coruja espreita, assustada...
Espera surgir o dia
Pra dormir...sossegada(?)




(Carmen Lúcia)

Disfarces

Disfarces
(imagem copiada do Google)

Cantava, enquanto a dor dançava
marcando um espaço que não lhe pertencia,
enquanto disfarçava a dor que agora era
bem maior que a fé que já não havia.

Dançava, enquanto a dor cantava
no tom mais agudo que já se alcançara,
enquanto coreografava a dança mais sofrida,
e de tão exaurida perdia seu encanto.

Sorria, trazendo a alma em embolia,
 a dor em euforia jazendo o seu pranto...
morria, enquanto a dor vivia
surtindo seu efeito na fase terminal.



_Carmen Lúcia_

domingo, 4 de novembro de 2012

Ainda te espero, amor...

Ainda te espero, amor...
(imagem copiada do Google)


Ainda te espero, amor...
Assim como as manhãs esperam pelo sol
que pincela de alegria o arrebol
e de esperança a circundar recomeços...


Ainda te espero, amor...
Assim como o belo, seu expectador,
a olhar extasiado o que sua alma encantou
e como relicário, dentro de si guardou.


Ainda te espero, amor...
Assim como o estio, pela chuva que virá
calando a cigarra que a seca vem agourar
quando o cheiro de terra molhada inundar...


Ainda te espero, amor...
Ainda que em outra vida...
Nosso amor sempre será assim,
sem planos ou trajetórias traçadas,
sem fronteiras demarcadas,
sem previsão de fim.



_Carmen Lúcia_

sábado, 3 de novembro de 2012

Poema para Clarice Lis


   (minha neta)

(imagem copiada do Google)


Quando a vida já perdia a graça
e a ilusão mostrava sua face amarga,
vens como um clarão que a escuridão abrasa,
luminosidade a incendiar canteiros de esperança,
inocência a esbanjar pelos caminhos que perpassas...

Quando o sorriso já havia se perdido,
se transformado em lágrimas a molhar a face,
o teu risinho puro vem falar de amor
e cativar a todos vestindo a alegria
nos corações isentos de calor.

"O impossível não existe!" falam sem falar
os teus olhinhos afoitos de carinho
mostrando o encanto que permeia as flores,
pondo nessa visão as mais variadas cores
a revelar belezas vindas de todo lugar.

Trazes a luz da manhã, o cheirinho de maçã,
és a tarde a abrandar os raiozinhos do sol,
a estrelinha cintilante a beijar o céu,
a vida a se abrir, o milagre a se concretizar,
a magia a girar nas voltas de um carrossel.


_Carmen Lúcia_

Dias em tons paradoxais



(imagem copiada do Google)





Tem dias que exulto
tem dias que calo
tem dias que escuto
tem dias que falo

Tem dias que transmuto
tem dias que fracasso
tem dias que recuo
tem dias que ultrapasso

Tem dias que arremesso
tem dias que refaço
tem dias que escarneço
tem dias que disfarço

Tem dias que esmoreço
tem dias que extravaso
tem dias que apareço
tem dias que atraso.

Tem dias que reverbero
tem dias que escureço
tem dias que recupero
tem dias que endoideço...

Os dias se nos apresentam
incontestavelmente desiguais,
ou coube a nós a faculdade
matizá-los em tons paradoxais?


_Carmen Lúcia_



O barco da vida

O barco da vida

O barco da vida
 (imagem copiada do Google)


Clareou...Tênue neblina embaça a manhã
que aos poucos desvenda a silhueta de um barco
a irromper uma cortina de luz
navegando a força que o conduz
e o seduz às suas conquistas.

A última névoa se dissipa à minha vista
que avista mil horizontes, sem apontar caminhos...
ocidentes e orientes se declinam balançando o mar
e o barco circunda o oceano tentando se orientar...
ou se ocidentar...

Sobre águas tão profundas lampeja a mística
resultante dos mistérios de uma visão holística...
onde o todo integra um universo que
desconhece onde o sol começa e a lua termina,
onde o dia acaba e a noite germina...
e as estrelas do céu se fundem com as do mar.

E o barco exerce bravamente a sua sina
e se perde ante a minha retina...Ganha o mar,
parte em busca da vida, deixando ao acaso
o arrojo de conseguir aportar no cais
resgates de partes dilaceradas de um todo
e restaurar as essências fragmentadas
do que um dia fora engodo.


_Carmen Lúcia_