sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

Introspecção


 












 

 

Saio de mim.

Observo-me.

Sou mar vigiando a ilha

volteando seu redor,

tentando explicações...

Busco me compreender.

De longe e de perto

há muito de encoberto.

Pego carona numa onda

que me leva e traz...

passado e presente

 vasculham-me a mente,

travam embate perspicaz

a procura da fase em que me perdi,

onde o obscuro não refaz

o que não lembro mais.

Apaguei com borracha

e ninguém  me acha.

É onde me desconheço.

Onde a angústia mora

e o nada me consola.

Imagino uma escada

e recomeço outra vez

do primeiro degrau.

Vou limpando as fuligens

até alcançar o último,

e clarear o que tranquei.

Talvez assim me ache.

E me traga num encontro

 surreal.

 

 

Carmen Lúcia


sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

Não sei


 












Não sei se isolo
se canto, se choro
se rio ou distancio
pois o que escrevo
não chega até lá...
Não alcança o que rola
o que aflora sem dó
onde meu eu se aloja
e não se desata o nó...
Pincela com maquiagem
dopa a dor por instantes
muda-lhe a roupagem
tenta ludibriar o óbvio
trucidar o que virou pó.
Aí me calo. E paro.
A voz não sai, se retrai.
Nada será capaz de mudar...
Palavras ditas são flechas ariscas,
mordem as iscas,
vão pra não voltar...
Pensamento explode a mente,
corrosivo,
confunde direções,
Invasivo,
penetra o interior
quebra-lhe o sensor
e transborda todo o saber
que não sei.
Carmen Lúcia

quinta-feira, 3 de dezembro de 2020

sem amor, sem flor


 












 

O amor não floresceu.

Perdeu o viço. Minguou.

Ninguém cuidou. Ninguém regou.

Agora só o pódio importa.

A vida não, ela é em vão.

Parou.

O poder disputa subidas,

pisa valores,

doa a quem doa...

E dói demais.

Dilacera. Reverbera.

O amor fica atrás da porta.

O ter vence o ser

e o ser deixa de ser.

A existência banalizada

sufoca a essência, a sobrevivência.

Silencia a alma.

Então, que se distancie...

O abraço pode ser fatal.

O riso é descomunal.

Encontro, só consigo mesmo.

Mergulhar nas profundidades do eu,

entrar na reentrância do âmago,

salvar a relevância do existir.

Regar com lágrimas o solo infértil,

matizar a flor que perdura,

salvar o amor que cura.

 

Carmen Lúcia

 

 


quinta-feira, 26 de novembro de 2020

Paragens


 












 

Prossigo

embora fique aqui.

Após algumas paragens

finco meu machado nessa

e paro.

Cheias de impossibilidades

são paragens que inibem continuar.

Veracidades atrozes,

profecias, prognósticos letais.

A lei do retorno,

consequências fatais.

 

 

A obrigatoriedade

da voz da consciência

impede-me os passos.

Não o meu espaço ilimitado

 guardado no mais sacro de mim

carregando o cansaço de não poder ir.

Quebrando pedras,

plantando flores,

sou Cora Coralina

no isolamento,

 no clamor de meus amores.

 

 Desenho o recomeço.

Abraço o universo.

 Vida sem disfarces,

realidade que desconheço

e feito leque vai se abrindo

numa revelação de porquês.

 

Da janela vejo um novo sol,

a lua nascer de outro arrebol

em sua fase mais feliz...

o horizonte beijar o mar,

o céu escrever outro enredo

e a humanidade atravessar

o oceano de seus medos.

 

 

Carmen Lúcia

 

 

 

 

 

 

 

 


segunda-feira, 23 de novembro de 2020

Mundo paralelo


 













Crio um novo mundo.

Renovo o que esmoreceu,

restos de vida sem vida,

fragmentos de histórias vencidas,

validades não prescritas.

 Reporto o que aqui não cabe,

deporto o que me faz mal.

Fujo do que deprime,

não me apraz o que suprime

o riso, a essência, a matéria...

 Não carece ser prima...

Basta ser compatível

 ao se encostar em minha pele

e arrepiar tantos sentimentos

abarrotados em mim.

 Que eu possa vesti-la

e me sentir confortável

em meu jeito simples de ser,

ainda que em tempo instável,

 sujeito a mortes, decepções,

 intolerâncias, prisões

 e sonhos caçados.

 

Então perco o chão

na transcendência,

 eloquência

 impaciência

de levar meu imaginário

(sem elo)

a um paralelo

 mundo são.

 

 

Carmen Lúcia


sexta-feira, 13 de novembro de 2020

Aleluia


 






 

 

A casa é a mesma.

Só não é a mesma cor.

Umas pinceladas claras

  -pátina sobre a dor-

e a leve impressão de que mudou.

Do portal, a Mantiqueira vigia,

a tudo presencia...

o entra e sai,

o leva-e-traz,

as manchetes matinais.

Aves fazem folia

festejam a alforria,

farfalham com alegria...

seriemas quebram a festa.

Tristes trinados... persistem.

A razão ninguém sabe,

nem quer saber....

Plantas nascem, crescem

no vaivém da vida,

chuvas caem, grossas, finas.

raios urram, donos do céu.

Grama esparrama,

lama atola...

A flor aflora, aqui e agora.

O sino da capela não toca

nem convoca.

O riso se cala, a fala é rara.

Há paz. Tanto faz.

O sol ainda nasce,

desperdiça beleza.

O arrebol hipnotiza

e a noite traz o breu.

A lua se escondeu.

Ninguém plantou “Aleluia”...

Ia doer. Chega de dor...

Falta algo. Não sei o quê.

Meu portal sabe.

Talvez você.

 

 

Carmen Lúcia

 

 

 

 


quarta-feira, 11 de novembro de 2020

Um poema diferente


 











 

 

queria que meu poema

não refletisse o que sinto

e em alguns versos inventasse

sentimentos que não sinto

somente para agradar...

ou simplesmente expressasse

o que não consigo escrever...

nem ser....

 

queria que meu poema

alcançasse as manhãs

se banhasse de luz

entremeasse a tarde

roubasse a nostalgia

entrevistasse a noite

e me trouxesse notícias de um amanhã

sem o fardo da incerteza.

 

queria que meu poema me entendesse mais

cobrasse menos o que não serei jamais

- quando grito agruras pra ninguém escutar-

mas  ele ouve e me retorna espelho

o  impacto me faz recuar ao vê-lo

e volto evadida ao ponto de partida.

 

queria um poema manso

-sem as agitações do mar-

um poema branco, brando

barco em águas mansas

abrindo portas para a paz entrar.

 

mas esse poema me foge

o papel não deixa espaço

para alegrias disfarçadas

palavras impostas por precaução

rimas que perderam o viço

emoções caídas pelo chão.

 

 

Carmen Lúcia

 

 

 

 

 

 


segunda-feira, 9 de novembro de 2020

O sonho mais bonito


 








 

 

 

Procura andar onde o coração pede

onde seu passo insista em estar

para que o sonho deslize

sem que precise de novo sonhar

 

Espera o momento certo

aquele que avisa

a hora de vestir a fantasia

o instante da transformação

da abstração para o concreto

da mente para a consumação

 

Invista no sonho...

é combustível para a vida

 janela para a liberdade

é estar aqui dentro, estando lá fora

a buscar entre perdidos e achados

a verdade.

 

Então poderá voar

a procura do sonho mais bonito

aquele que não está escrito

em qualquer página de livro

e de improviso leva às estrelas.

 

 

Carmen Lúcia

 


sábado, 7 de novembro de 2020

Eclipse humano


 












 

O sol espia

provoca

inunda, fecunda

evoca

alcança cá, acolá,

menos o aqui...

não há como alcançar

nem mesmo um raio

consegue chegar lá.

 

O girassol se mostra

aposta

na manhã

no dia que será.

Sob comandos solares

põe à prova

sua liberdade

e se prostra nos lugares

a girar.

 

Coração carente

irreverente

não vibra

Triste

se equilibra

resiste

faz sombra

e a luz desiste de entrar.

 

O sol lampeja

raios de vitória

sorri por se alastrar

coroa-se de aurora

cores dançam em desagravo

ao eclipse humano

ao inconsequente

ato desumano.

 

Carmen Lúcia


sexta-feira, 6 de novembro de 2020

Dias iguais


 












 

 

Nessa rotina de dias cruciais,

 mar igual e barcos desiguais,

tempo diferente sujeito a temporais,

o medo, a dúvida, a ansiedade

de mãos dadas querem assustar...

 

Num cerco ao ser humano

fazem a ciranda girar

sem ter onde ancorar ou resistir.

Ao homem resta se resignar.

Guarda consigo os motivos

que o levam a sonhar.

 

Mergulha em si para refletir.

Busca encarar sua alma,

achar algo que o ajude a ser.

Seu próprio ventre para renascer,

sua sensibilidade para florescer,

desabrochar na arte de escrever,

cantar, dançar, viver.

 

No azul de um céu em festa

o sol é luz, é lampejo, é abraço...

A natureza viva manifesta

a paz que viraliza sem fazer mal.

 

O homem compreende, sem falar,

necessário se faz isolar...

quem sabe uma onda de amor

vinda do universo ou algum mar

traga o bem e carregue a dor.

 

 

 

Carmen Lúcia


quinta-feira, 5 de novembro de 2020

Pacto










 

Compactuo comigo mesma.

Coloco um filtro na realidade

onde os sonhos mais urgentes

não querem acordar.

Purifico o que pode penetrar

e me fazer melhor.

Nada é pior que não tentar.

Deixo levezas umedecer o pó,

lugares onde a aridez gerou trincas

e a dor se infiltrou sem dó.

Barro excessos.

O peso torna-se indigesto,

fardo que não quero engolir.

Nada que me impeça de ser,

 crer, viver.

Nada a fragilizar minha realização humana.

Abraço conteúdos substanciais

sem trair minha essência, meus ancestrais.

Dispenso embalagens.

São teias onde posso me enroscar.

À luz do sol aceno.

Arranco o filtro pra ela entrar.

Que se alastre, ocupe os cantos, seja festa.

Faça-me pensar que toda hora é dia

e a cada instante me vejo amanhecendo

por todo tempo que me resta.

 

 

Carmen Lúcia

 

 










 

quarta-feira, 4 de novembro de 2020

O que ainda mais quero


 














O que eu quero é muito pouco...
Ainda não sei ao certo
se busco o que está por perto
ou me lanço onde não alcanço,
se me volto para dentro
atrás de qualquer emoção
ou me espatifo no chão.
Meu coração anseia
palavras ocultas na imensidão,
mesmo “meio que” bombardeado
pulsa ao poema abandonado
e arrisca acender a sua luz.
Sigo seu passo desconcertado,
capto palavras alienadas,
corrompidas, que não dizem nada,
tento escrever em versos
parcos, mancos, brancos,
um poema que não tenha pena
de uma alma triste,
de um coração que insiste
em bater mais do que sente.

Carmen Lúcia

terça-feira, 3 de novembro de 2020

Sem fim


 















 

Queria que voltasse com a manhã

e fosse tão real quanto a irrealidade

dessa mentira de não tê-lo aqui

onde tudo revela que você está.

 

Queria que não fosse embora,

pudéssemos mudar nossa história

e entre erros e acertos

cometêssemos os dois

deixando o resto para depois.

 

Vejo manhãs sem promessas,

fechadas, enroscadas nas janelas,

afetando a intensidade da luz

e a verdade fazendo a sua parte.

 

Resta me perder no horizonte...

roubar cores, desenhar voltas

e me colocar entre elas

sem mágoas e revoltas.

Não deixar o sol morrer...

Imaginá-lo só nascente

aquecendo seu lugar em mim

 

-e que nunca tivesse fim.-

 

 

Carmen Lúcia


segunda-feira, 2 de novembro de 2020

Pandemia


 














Hoje o texto é mais profundo.
Abrange os quatro cantos do mundo.
Perde a suavidade do antes,
a leveza das palavras amenas,
envoltas de amanhã...
Subscreve o depois entre parênteses,
sem ênfase, conteúdo cambaleante,
sem rumo, sem prumo, prestes a desabar.
Repleto de incoerências pesa nas negligências
num contexto que não convence mais.
Dispensa atenuantes, foca-se em fatos
já constatados, marcados, marcantes.
Retranca alegrias,
os planos prolongados.
Perambula reticências...
Dúvidas vestem presenças constantes,
acentuam marcas de expressão
e a impressão de não ter fim...
Lacunas são lacradas de indecisões.
Mas as entrelinhas, doces entrelinhas...
pedem para não acreditar...
Consolam. Tudo vai passar.
Vírgulas pausam, pedem fôlego.
Há espaço e o texto pode mudar...

Carmen Lúcia

sexta-feira, 30 de outubro de 2020

Quando a tristeza passar
















 

 

Quando a tristeza passar

quero comigo dançar

num ritual aos motivos

que a distorceram pra lá.

 

Quero ver o jardim

e a primavera que espera

a tristeza passar,

conservando todo encanto

e o canto do sabiá.

 

Constatar a realidade

-ora me é irreal-

do sol que nasce

em qualquer aurora,

se veste de toda beleza

ao se por ao por- do -sol.

 

Quando passar a tristeza

retomarei meus sonhos

-se ainda estiverem em mão-

retocarei suas cores, seus valores...

Não os sonhei em vão.

 

Um novo sentido à vida

trará novos caminhos,

meus passos temerosos

dependerão do primeiro que der

e me levarão pra onde eu quiser.

 

Como estancar a tristeza?

Já escalou tamanha profundidade

dentro de meu ser...

- se tornou verdade-

Povoou espaços deixados para eu viver...


Grito por uma resposta

 até onde a voz alcança

e ela vem sem esperança...

-Não sei!

 

Carmen Lúcia

 

 

 

 

 

quinta-feira, 29 de outubro de 2020

Retrospecção


 








 

Voltemos ao tempo.

Éramos lindos de planos,

urgentes de amores

carentes de nós mesmos.

Era o tempo da gente

e vivemos tudo de uma vez

sem pensar na insensatez

de que tudo tem seu tempo.

E atropelamos etapas...

 

Fomos até onde o coração pedia

e a razão desentendia,

 onde a chama explodia, ardia

até se apagar...

O resto  não existia.

Éramos você e eu...eu e você.

Éramos lindos na ânsia de amar

de lutar pra ficarmos juntos

apesar das controvérsias,

das peripécias

de se escrever um livro.

 

Éramos lindos apesar das rusgas,

quando nos perdemos de nós mesmos

e ficamos sós, mesmo estando juntos,

sorrisos desgastados,

 o mundo ali pesado,

difícil de carregar...

Que veio nos julgar

 e o levar.

 

 

Carmen Lúcia


quarta-feira, 28 de outubro de 2020

Mudança


 













Abandona o cais.
Navega.
Engole os ais.
Enfrenta as tormentas.
Tu és capaz.
Sai do ventre, rompe a bolsa.
Desliza com a expulsão.
Respira. Chora. Esperneia.
Acata os desígnios da vida.
Ela convoca; não convida.
Supera idas e partidas,
adeuses e despedidas.
Recolhe os sonhos.
Ainda há.
Basta acordá-los
e viajar.
Escancara a janela.
Observa por ela
e o mundo está lá.
Recomeça.
Um dia após outro.
Se preciso, hora após hora.
Realiza o que te aflora,
resgata o que perdeste
e te impulsiona a seguir.
Deixa pra trás
o que não volta mais.



Carmen Lúcia

segunda-feira, 26 de outubro de 2020

Um tema





procuro um tema
a me identificar
um porto
a me ancorar
um problema
solúvel
um tema, não um dilema
um caminho suave
entre tantos espinhosos
por onde passei
minha mente cansada
meu estilo prolixo
tendem a complicar
entram num contexto agudo
latente, carente, doente...
-vontade de chorar-
difícil voltar
contudo eu só quero
fazer-me entender
alguém a me escutar
dizer-me sem falar
deixo rastros fáceis
de me encontrar
palavras tentando poemas
pétalas, brilhos, essências, olores,
versos orvalhados, flores
a refletirem minha fragilidade
costurada em minh’alma
a falar de amores,
de arte...

_Carmen Lúcia_


 

sexta-feira, 23 de outubro de 2020

O mundo acaba















Onde acaba o
mundo?
numa ribanceira
num buraco fundo
na beira do asfalto
sob o viaduto
no pé da Pedra da Gáveao
na cabeça da favela
na bala que ricocheteia
quica, repica e ninguém atrela
mata e o povo acata
- só o pó a sobreviver-
e a lua finge não ver...
Ver pra quê? Quem vê a lua?
Na rua visivelmente calma
demônios atiçam a alma
o bom desdenha o bem
o mau faz mal também
e nessa irmandade conjunta
não sobra ninguém...
E o mundo acaba acabando
Dejetos do amor desabando
destroços humanos
armando desfiladeiro
pulando...
Deus não ensinou assim...
E o mundo acaba acabando
dentro e fora de mim.


Carmen Lúcia



 

quinta-feira, 22 de outubro de 2020

Estratagemas



Perco o chão,
Prendo a respiração,
Ouço meu coração...
Vibro de emoção,
Morro de paixão,
Transbordo excitação...
Canto uma canção,
Ao som de um violão...
Digo sim e não
Qualquer que seja a razão.
Fico na solidão
Só, na escuridão...
Grito um palavrão
Sem nenhuma explicação...
Saio de minha prisão,
O sol embaça a visão...
Olho pra multidão
Andando sem direção...
Arrisco uma reflexão,
Faço uma confissão,
Entrego-me à oração,
Dos erros peço perdão...
Ativo a imaginação,
Libero a divagação
Sem noção ou apreensão...
Discutir a relação
Talvez seja solução...
 
Procuro temas,
Estratagemas,
Cenas...
Obscenas ou serenas
Grandes ou pequenas
Enfim,
Busco apenas
O poema.


Carmen Lúcia

 

segunda-feira, 19 de outubro de 2020

Nossa música


 

Nossa música

 

Hoje doeu...

Lembranças povoaram

cavoucaram

feito flechas

atingindo o alvo.

Coração tremeu

gemeu

estrebuchou

tentando normalizar

 parou por instantes

doeu bastante

até não o sentir mais.

Morri por instantes

e então como antes

fui ter com você...

Momento único!

“Canzone per te”

Invadia o céu

e em passos lentos

desatentos

dançamos nossa juventude.

Matamos, por segundos,

a saudade do mundo

falamos o que nunca dissemos

o que na garganta entalou.

 

A música parou

o encanto quebrou

o coração pulsou

e a saudade venceu.

 

Carmen Lúcia


sábado, 25 de janeiro de 2020

Entardece




Pela janela vejo o tempo passar...
Vibrações febris de cores transcendentais,
variações de azuis, violetas angelicais,
a melodia do vento a sussurrar mistérios
vindos do mundo de lá...
A doçura do momento, hipnotizante,
me envolve num encantamento
ao qual me deixo levar...

O amor passa de repente

arrebatando o que vê pela frente,
exalando seu cheiro a inebriar...
Essa insanidade empolgante
me prende, por um instante,
durando a eternidade...

Reencontro-o entre névoas esvoaçantes
e me perco na emoção de seu abraço,
...como antes...
no frenesi de seus beijos,
nosso amor em descompasso.

Escurece...
Não mais enxergo o tempo.
O vento espalha o lamento.
A loucura presa por um fio tênue se arrebenta,
cai, se fragmenta
espatifando a magia da divagação,
o encantamento da imaginação,
velando no silêncio, a ilusão,
que nos leva à felicidade
fracionada pelo tempo,
encerrada pela fatalidade.

_Carmen Lúcia_