terça-feira, 26 de junho de 2018

Saindo dos trilhos


















Sou humana, sou fulana, sou senhora,
com direito a deslizes e imperfeições.
Meu relógio só enfeita, não tem hora,
vivo o hoje, cada dia, o agora.
O amanhã é imprevisão
e o tempo não se demora.
Você que reclama,
me enxerga e não me vê,
não sabe que tem ainda
 muito a me conhecer...
Jogue-se, sem medo, ao prazer,
faça o melhor acontecer.
Se fez errado, vai se benzer…
A prece perdoa o pecado,
mas do tempo perdido
vai se arrepender.



Errei por incontáveis vezes,
consciente,  sem pedir perdão,
 e com muita valentia
usei o coração
enquanto a razão dava vazão
ao julgamento da sociedade
 coberta de precariedade,
ao corretamente político,
enfático, enfadonho, pragmático,
avaliando a inconsequência
de um desequilíbrio fugaz,
 do brilho intenso dos olhos,
encontro de mim com a paz,
feliz ao me descarrilar dos trilhos,
ver o mundo passar sem olhar para trás
e viver intensamente 
uma vez mais.

Errei…mas acertei
e errarei ainda mais.

Carmen Lúcia



domingo, 17 de junho de 2018

Vida cor-de-rosa

















Abre-se o cenário.
Real ou imaginário?
Tons de rosa ondulam,
modulam uma passarela.
Tal visão arrebata-me o chão.
Alço voo, sem macular o imaculável,
o tapete mágico a revelar
não só a vida cor-de-rosa,
como o tema de mais uma ilusão.
Aterriso e me arrisco a acordar.
Pé ante pé perpasso tanta beleza
e me despojo do cansaço.
O perfume rosa me refaz.
Danço. Espatifo flores.
O vento nos faz girar.
Sinto-me parte dessa arte.
Sou dança.Emoção que arde.
Ninguém é capaz de esboçar.
Não há dom que retrate esse tom.
Turva-me a mente. Novamente, o vento.
Carrega esse momento
e cada esperança se lança ao chão.

Carmen Lúcia






terça-feira, 12 de junho de 2018

Para Luiza Caetano




















Quis tanger o mundo,
abraçar o universo,
ser raio de sol,
acalentar o reverso,
nascer com o arrebol,
rescender-se à beleza,
morrer com o pôr do sol,
erradicar a tristeza,
renascer a cada dia,
ser verso sem rima, poesia,
pincelar muros caiados
com toques de alegria,
rebuscar em pátina os espaços,
juntá-los, reduzir os passos,
cruzar as paralelas,
plantar amizade entre elas,
espalhar cheirinhos de alecrim,
embeber a todos…e a mim.

Transcendeu fronteiras, eiras e beiras,
uniu mares, terras e lares,
realizou seus intentos,
semeou suas paixôes.
Em barcos com Fridas e Pessoas
navega talento que ainda ressoa...
Quebrou cercas do intransponível,
no infinito ora vive.

Pelas janelas do céu posso vê-la.
Agora é estrela.


Carmen Lúcia

segunda-feira, 11 de junho de 2018

Entregas





















Entrego-me ao crepúsculo das horas,
ao tempo que não se demora,
ao sonho impalpável
irrompido da  aurora
onde minhas mãos resvalam,
tremem, teimam, demoram
pelo cansaço da persistência.
Entrego-me ao intransitável,
às lonjuras sem demarcação
a transitar minha existência,
minha solidão.

 Às veredas purpurizadas,
aos canteiros de jasmins,
às belezas não sondadas
que não vejo, mas existem sim,
aos sonhos interditados
sem avisos nem porquês,
ao desejo de ir, apesar de…
À  sensação que vai passar
e permanece, sem trégua,
em mim.

 Aos mistérios a rondar,
ao ter que crer sem ver
e ninguém pra revelar.
Ao definitivo do não eterno,
à certeza de haver um fim,
às perguntas sem respostas:
Pra onde vou? De onde vim?
 Meu silêncio a gritar
e ninguém a me ouvir.






Carmen Lúcia