quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

Êxtase























Não, não era pra ser…
Tão perfeito  era,
teve que quebrar,
ou deixar ao vento
pra entregar ao tempo,
que a seu contento
tudo vem buscar.

Não, não seria eterno,
nada é para sempre
tende a mudar,
tudo o que foi terno
vai se transformar
e deixar seu rastro
perfumando o ar
 suavizando a pele
querendo ficar.

 A doce lembrança
ninguém roubará,
vai virar fragrância
embrenhada ao ar…
Difícil extirpar
o que se inspira
para respirar,
e retorna pra ficar.

Não, sei que vai morrer
junto com o sol
do entardecer…
Mas enquanto dure
quero que perdure
mais um dia só…
Feito girassol
iremos girar
entre  cores belas
em pleno arrebol.



 (Carmen Lúcia)

segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

Lado racional



















    
  Meu lado racional é um tanto anormal.
Priva-me das melhores sensações,
 diz que é pra me ver feliz.
Prende-me  se quero ir,
tolhe lembranças de minha raiz,
sufoca minhas emoções
que eu escondo ao engolir,
lança-me  ao que quero fugir,
dopa o sonho que anseio sonhar,
corta-me as asas se as ameaço alçar.

Esse meu lado racional me consome
alheio ao que alimenta  minh’alma,
ao que sacia minha fome,
à paz a me trazer a calma.
Impõe regras, preceitos, conceitos,
coíbe meu modo de ser, de não ser,
de sofrer, espairecer, viver…
Inibe minha vontade, minha identidade,
minha verdade, minha autenticidade.
Nem sabe das cores, das flores, dos olores
que cirandam à minha volta
e me elevam ao mundo que fomento
 onde voa livre meu pensamento
ao encontro das mais fortes emoções.

Ainda que em linhas retas trace minha rota
(esse meu lado (ir)racional),
o coração a razão derrota.

Carmen Lúcia


domingo, 15 de janeiro de 2017

Apenas um sonho























Era um sonho inatingível,
fora da realidade,
das possibilidades
de quem só sabe sonhar.
Trancado a sete chaves
num cofre no fundo do mar,
um mundo à parte
imergindo dons de voar,
desses que ninguém invade
sem estar apto para tanto,
guarnecido de encantos,
 de sentimentos tantos
nascidos do âmago pra se soltar
e chorar pelo que não pôde,
pelo que não coube
e teve que calar
tal a vastidão de seu penar.

Era um sonho inatingível,
praticamente impossível
de se realizar.
 Virar poeta da noite pro dia,
 perseguir a utopia
que não se deixa tocar.
Se tocada perde a magia
e o sonho vem a desabar…

 Inatingível.
Mas era um sonho,
não podia esmorecer,
cair em  abandono,
desvanecer
sem ter visto o sol
do alvorecer,
beijado a nostalgia
do entardecer
sentido a primavera nascer…
Não podia morrer,
deixar o poeta
de mãos vazias, atadas
e a alma repleta de poesia,
mutilada.

Inatingível.
Mas não impossível.
Bastaria acordar e buscar.



(Carmen Lúcia)