sábado, 27 de dezembro de 2014

Sinos (Feliz Ano Novo, mundo!)



Sinos

Conto com minha insensata sensatez para continuar,
com minha imperfeita perfeição para prosseguir,
com minhas limitadas ilimitações para desbravar,
com minhas potentes fragilidades para não desistir.

Conto com meus erros e acertos para reaprender,
com derrocadas e vitórias para me fortalecer,
entre lágrimas e sorrisos quero me ver
pois assim são escritas as páginas da vida.

E assim foi o ano que se finda,
dores imensuráveis, decepções, fatalidades,
e flores indescritíveis beirando estradas arborizadas
de um palco descortinado onde se encena a realidade.

Claro que tudo foi aceito como lição,
descarto o peso inútil que me foi provação
e me entrego mais leve para o futuro que descreve
o alegre ressoar de sinos a celebrar
o novo ano que virá.

(Carmen Lúcia)


sábado, 20 de dezembro de 2014

Todo tempo




Quando o planeta se tinge de vermelho
e meu coração rouba o azul do céu,
quando estrelas faíscam lascas de espelho
refletindo a emoção indo além do arranha-céu...
 
Quando as canções cadenciadas por sinos
e asas de anjos roçam minha face, num entrelace,
anunciando, ao som de harpas, a reprise de um tempo
em que, antes de tudo, a solidariedade se priorize
e o verbo amar alcance a altura de um sacrário...
 
Quando a sensibilidade comanda os sentimentos
e todo pensamento se resume num só...
ao sentir Sua presença, perceber que não se está só,
quando todo amor apela para ser sentido
por aquele que não vive e inspira dó...
 
Ainda que os vazios se preencham de ausências
e pelos cantos soturnos teime em resistir o mal,
em castiçais as esperanças trepidam
velando o bem que nunca há de se apagar
porque todo tempo é tempo de Natal...
 
 
_Carmen Lúcia_

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Babilônia








Difícil conviver imune de pecados
ou conviver, simplesmente,
em meio a essa Babilônia que se espelha
e se prostra a minha frente
tentando dominar corpo e mente,
impondo um sol brilhante, ilusório,
que cega e se apaga de repente
priorizando decretos humanos
acima dos humanamente divinos...
Desfilando por tortuosos caminhos
uma verdade anacrônica, desgastada,
deteriorando-se passo a passo
num confronto irreversível com meu tempo,
com o que penso, com o que faço...
Vestes escarlates e púrpuras bailam
convidando para uma dança sensual
onde a razão e o bom senso
se desequilibram nesse ritual
e se afastam dos princípios certos da moral.
Impossível beber do cálice sagrado
e conciliá-lo ao pecado mortal.
Procuro outros jardins que não sejam os da Babilônia,
onde as sementes plantadas gerem frutos do bem,
onde a vida transcorra simples como os rios,
embora chorem o que o homem deflora
maculando suas águas límpidas que cristianizam
navegadas pelo amor, luz e serenidade
numa trajetória imaculada.

_Carmen Lúcia_

Instabilidade da alma



Quero rir uma risada boba
nascida à toa em qualquer lugar,
trazendo à tona todo sentimento
para explodir e extravasar no ar,
até tornar-se gargalhada
franca e escancarada
pra contagiar.

Quero abraçar motivos,
fúteis e expressivos
para me encantar...
Todo detalhe que me baste e afaste
do desencanto de não mais sonhar...
Se porventura dormir a magia
ou a tristeza quiser acordar
de um baluarte vem a alegria,
o meu consolo se eu quiser chorar.

Quero reviver prazeres
colhidos, contidos nos alvoreceres,
vividos e guardados em minha lembrança,
lugar onde o tempo jamais alcança
ou não tenha tempo para alcançar.
Quero recolher palavras
pra preencher a minha fantasia
e cirandar durante noite e dia
sentindo pingos de pétalas macias
chovendo em mim, versejando rimas,
num festival de cores que a vida anima.

Quero da madrugada, a oração,
a serenata pura, sem estrelas ou luas,
pra que eternize extrema emoção,
a comoção do orvalho entre lágrimas,
a melodia vinda do coração,
momento silente, do âmago ardente,
e do poeta que "finge a dor que sente",
mas que consente quando tudo silencia
e chora a alma na mais bela poesia.

_Carmen Lúcia_

"O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente." (Fernando Pessoa)

terça-feira, 4 de novembro de 2014

Precios(idade)




Essa minha nova fase...
Novo capítulo, novo ciclo,
final e recomeço de nova estação,
folhas caídas, árvores desvestidas,
mudança que gera conflagração
até que a poeira se assente ao chão.
Procuro por palavras espalhadas
juntamente com as folhas, em variação,
que definam essa minha nova etapa
e teçam versos ritmados à emoção...
Nada que me prenda ao passado
para que não me ausente do presente
e que ele me apresente uma forma evoluída
de conduzir com sapiência a minha vida.
Que eu nunca perca o encantamento de ver cores,
a simplicidade continue a ser meu lema,
e quando não puder me expressar com as palavras,
que minhas mãos falem, a transbordar afagos.
Que a mágoa nunca venha me rondar,
mas se vier, seu espinho eu possa retirar
e quando um dia a lágrima brotar,
que o coração fale pelo meu olhar.
Quando estiver cercada por pessoas
e a sensação é de não ver ninguém por perto,
é a solidão que num momento incerto
chega de soslaio, mas logo se escoa.
Inevitável será sentir saudade...
Lembranças que do peito quero esvaziar
para que as novas ocupem seu lugar
e minha (precios)idade eu possa desfrutar.

_Carmen Lúcia_
05/04/2011

O resto não importa






No peito, marcas que tento apagar,
na alma, vincados os sonhos que ainda restam...
Nos olhos, misto de fim e começo,
no coração, batidas descompassadas, aos avessos,
prenunciam vida e recomeço...Novo endereço.

Na mala, vastas e ricas experiências.
Recair nos mesmos erros? Reticências...
É preciso tentar, dar a cara a tapas,
viver o novo, talvez desconcertante etapa;
rasgar fotografias amareladas
que fazem sofrer e não levam a nada.

Abrir cortinas e janelas,
deixar o sol entrar, inundar...
Mesmo que por uma fresta.Que festa!
Ver lá fora a esperança voltando
e o amor timidamente bater à porta...

Vou abri-la!O resto não importa.



              (Carmen Lúcia)

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Mestre




Obrigada, mestre,
por me teres mostrado caminhos
e despertado em mim o desejo de prosseguir avante.
Obrigada , mestre,
por me teres apresentado às letras,
faróis luminosos que me instigaram a ir
desbravando escuridão, fazendo-me crescer
e me tornar cidadã do bem.
Obrigada, mestre,
que não mediste esforços
para que eu conseguisse escrever, ler, conhecer
o que está a minha volta, o mais distante,
o insignificante, o importante, o imprescindível.
Obrigada, mestre,
por teres doado parte de ti
para que eu me completasse ser humano
consciente de meus deveres, prescindindo, ás vezes,
de meus direitos em prol de meus semelhantes,
seguindo sempre teu digno exemplo.
Obrigada, mestre,
por me teres tornado mestra
e contribuído, em parte, com o que contribuístes
por inteiro durante todo o tempo em que me foste leme.
Obrigada, mestre!
Ser-te-ei eternamente grata!
Carmen Lúcia

sábado, 11 de outubro de 2014

Ah, poeta!




Ah, poeta, desenhista do lirismo,
observador  das minúcias da alma,
detalhista de tudo que o cerca,
arquiteto de pormenores,
do que avista pelos arredores,
psicanalista que descreve a vida
e revela o além , a sobrevida
e nada ou ninguém o detém.

Quando morre, nunca morre de fato
e num impacto renasce na flor,
ressurge na alegria ou na dor,
rebrilha no brilho da estrela que se apaga,
conduz o frágil timoneiro em sua barca parca,
pincela de cores espaços escuros, amores falidos,
ocupando vazios e intervalos obscuros.

Reacende a esperança que embora morta
recomeça a verdejar por entre estrofes
onde versos são reversos
das decepções e hostilidades,
das injustiças e desigualdades,
humanizados docemente em poesia,
na magia de transformar espinho em fantasia
na busca incansável de amenizar a agonia.

O poeta é imortal.
Da alquimia, a pedra filosofal
conquistada pelo sonho que traduz
o mais recôndito interior de sua alma...
Não, o poeta não morre.
Segue a sua luz.

(Carmen Lúcia)


quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Sem poesia



Senhor, perdoa-me o despautério!
Devolvo-te a inspiração.
Sinto cometer um adultério
traindo a voz do coração.
Meus versos perderam a alegria,
caminham sisudos pela poesia,
meus lábios não dizem o que sinto,
contradiz, minhas palavras, meu olhar.
Tento enaltecer o amor,
que de tão raro se codificou,
quero descrever o belo
que perdeu o viço e se esfacelou.
Perdi-me no compasso, tropecei nas rimas,
fugi de meu estilo buscando o que me anima,
e a cada passo um descompasso me abomina
e o poema segue falso, sem autoestima.
Por isso, meu Senhor, me encontro à deriva...
Pra que inspiração se falta emoção?
Pra que a poesia se já não há fantasia?
Não sei se me perdi ou me perdeu a vida.

Carmen Lúcia

22/09/2009

Morre o poeta?



Morre o poeta?

(para Nathan de Castro)

_in memoriam_



Morre o poeta.
Morre?
Seria morte a canção que canta
as estações da vida em alto e brando som?
Seria morte a flor que anuncia
 a primavera vindo no jardim do amor,
cântico dos cânticos, em versos,
nascidos de seu criador?

Morre a alegria da inspiração
cantando em versos a voz do coração?
Morre o orvalho das manhãs
ao chorar o que na noite se perdeu
e numa lágrima amena, apenas,
desabafar a dor de quem sofreu?

Morre o poeta?
E as rimas que bailam, que pairam
tangendo os vazios, a vida inteira?
Ritmam os versos em cada final 
em cadência suave ou zombeteira,
 tornando-se imortal.
E a poesia extravasada da euforia...
não coube no peito, quis se rebelar...
falar de tudo, sem contudo realmente falar.

Não, o poeta não morre.
Muda de lugar.
Como o brilho da estrela, se perpetua.
Voa para o céu, se aventura.
Onde quer que vá
a luz lhe alcançará
e nos guiará.


_Carmen Lúcia_




quinta-feira, 4 de setembro de 2014

A máscara nossa de cada dia



Em tudo que há de triste
a tristeza ainda persiste
e insiste em me azucrinar.
 O pior é que não mudo,
ocupo os espaços para me acomodar,
alastro a mania de ser triste,
escalo o escuro do mundo,
fecho os olhos como se fugisse,
pouso em qualquer canto como se agisse
para me( in)socializar,
faço-me muda pra não ter que falar
feito mosca morta matada
da comida saciada pelos magnatas
que nunca se fartam de se fartar.

Em tudo que há de triste
sobra nada...
Sociedade estagnada,
dignidade disfarçada
num sorriso (in)convincente
atrás de cada máscara
adequada a cada dia,
a cada sórdida atitude
inserida numa linda melodia.
E a alegria chora distante
vendo o mundo galopado por abutres
exalando o conteúdo acre
destilado de seus fraques,
 sociáveis seres galopantes.

Cruzo os braços e me calo.
Num galope resfolegante
bato em retirada,
 me esvaio, me resvalo
e me tranco no escuro...
entre a sordidez e o mundo
faço um muro.


_Carmen Lúcia_











quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Sós



                     

Agora estamos irreversivelmente sós,
embora juntos estejamos nós.
Dia a dia, a cada instante que passa,
 juntos e a anos luz de distância.
Corpos carentes de alma
ancorados para sempre num cais
onde a névoa impossibilita a visão,
correntes nos lembram prisão
de onde não se sai jamais.
Cumprimos tantas estapas,
andamos os mesmos passos,
dançamos a mesma valsa,
ora em sintonia, ora em descompasso.
Amamos o amor que nos foi legado,
ainda que a melodia, por vezes, soasse falsa,
ou nos calasse a voz para que víssemos
as mudanças das cores do arrebol,
 cada milímetro de movimento dos matizes
a nos encantar, nos colorir, fazer felizes,
sentindo emoções que atingiam o sol
vendo a luz dançar permeando o tempo,
iluminando o vento, passando entre nós.
Estranhos... e nos conhecendo tanto,
desconhecendo-nos, entretanto.
A música parou, a dança acabou, a luz apagou.
Não há como explicar o início ou o fim,
nem como tudo terminou assim.
Quando  acaba a canção
sai de cena a paixão
e o silêncio, o  ritual da solidão.

_Carmen Lúcia_


segunda-feira, 25 de agosto de 2014

O dia nasce todo dia





O dia nasce iluminado.
Talvez nasça assim diariamente,
só hoje o percebo diferente,
nada encoberto, nada entreaberto.
Escancarado.
Porta aberta para os sentimentos
que se perdem por ressentimentos
e querem nova oportunidade.
 Renascerem diferentes,
 sentidos profundamente,
achados pela diferenciação
 em tempo do amor-consumação,
Serem coração.



O dia nasce mais uma vez,
chance de costurar o que se desfez,
reescrever a vida nas linhas que sobram
dando ênfase a sua história
ou recomeçá-la no papel em branco,
espaço  nunca preenchido,
tempo inútil consumido
pela ausência de um sorriso,
por não saber ter vivido,
pelo sonho interrompido,
 amor não correspondido,
não ter visto a luz do dia
deixando-o simplesmente amanhecer,
e escurecer.

O dia nasce outra vez.
Quantas outras nascerá?

_Carmen Lúcia_


quinta-feira, 21 de agosto de 2014

A mesma chuva





A mesma chuva que molha meu corpo
molha também o teu.
A mesma nuvem pesada 
que escurece meus dias
escurece os teus.
A mesma lama parda e suja
que escora a água da chuva
revela vestígios de nossas pegadas
em direção contrária à luz...

O céu macilento e triste que vejo
é o mesmo que tu vês.
O pranto que minh’alma chora
é o que chora a tua, agora...
Fomos feitos do mesmo barro,
da mesma massa encruada,
pérolas negras geradas no lodo
que não preservaram a beleza,
aviltaram tamanha grandeza
imbuída na palavra amor...

Passamos ilesos por ela
sem perceber o que gera,
sem nos ater no real valor.

Hoje é cada um por si...
perdemos a chance oferecida.
Não vimos o céu se abrir,
deixamos a chuva inundar nossa vida.
Fechamos janelas, facilitamos partidas,
perdemos o chão, a ocasião...
sucumbimos no vazio da solidão.


_Carmen Lúcia_

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Morada da poesia



Ainda não sabia de poesia...
E seus olhinhos percorriam a fantasia.
Tudo podia...
Estar aqui ou alcançar estrelas.
E sem nenhum esforço, conseguir tê-las...

Ainda não sabia de poesia...
E de seus passos, a mais linda coreografia.
De sua alma, a expressão que traduzia
naquela dança, a vida que em si surgia.

Ainda não sabia de poesia...
Fixava seus olhos no desabrochar da flor.
E a via pequena, gigante, de toda cor...
Nenhuma outra magia a tiraria desse torpor.

Ainda não sabia de poesia...
Seus pés descalços na água do mar
transformavam sal em açúcar...
E as ondas brancas, golfadas de algodão-doce,
batizavam seu corpo de menina e moça.

Percebeu a poesia
ao descobrir o descompasso de seu coração.
Pulsações irreverentes, batidas diferentes,
e no papel
registrou o que sentia...

Sentiu a poesia...
Descobriu sua morada.
Por todos os cantos, recantos,
encantos e desencantos...
Viu-se cercada.

E a poesia mora
na lágrima que rola,
no sorriso que esconde a dor,
no riso anunciando amor...
No botão que se transforma em flor.

Ela está por toda a parte...
Basta apenas perceber
e do estado latente,
fazê-la acontecer.

Carmen Lúcia

terça-feira, 19 de agosto de 2014

Alma de poeta




Alma de poeta

Tudo muda,
 arrefece,
mas a alma do poeta
permanece.
Inda em confronto com almas frias,
beiras de calçadas, esquinas, guias,
o  poeta é só poesia.
Transitando por faixas brancas,
faixas negras ou brandas,
indo ou vindo, direções opostas,
seguindo a mesma direção,
almejando qualquer estação
a alma do poeta se recosta
e se volta para uma vitrine
onde está à mostra
o que ele perpetua,
o gesto de ternura,
transparência total,
luz  de candeeiro
brilhante e pura,
delicada porcelana,
a vida que ama,
som de cristal...
Em tempo de guerra
ou tempo normal
a alma do poeta
o mundo aferra
de rico metal
de lírico vitral,
da lucidez insana
de seu sinal.

E a alma do poeta não perece.
Acontece.


_Carmen Lúcia_






domingo, 17 de agosto de 2014

A bailarina da tela




A música surge instantânea ...
Basta fechar os olhos
e a melodia se avoluma
 num som perceptível apenas
a quem há de mais sensível ...
 a quem foi legado
o dom sagrado de perceber
o imperceptível...

As cores, pinta-as o coração...
Tal deslumbre só é compatível às pulsações
de quem define as sensações,
gerando efeitos que invejam o arco-íris,
colorindo uma dança de emoções
num perfeito desequilíbrio da razão...

Uma aura de luz indefinida
define a moldura, incandesce  a pintura
da tela que se acautela quando percebida,
revelando a bailarina pisando cristais,
rodopiando espelhos a refletir
fragmentos de amores imortais.





_Carmen Lúcia_

Sobre o amor





Amor só é amor
quando nada o altera,
nem a tempestade forte,
nem o abismo que aterra.
Não vacila ao temor
nem congela com a espera.
Amor é combustível
inflamável, contagiante,
que move céus e terras,
em movimento ondulante.
É luz na escuridão
dos caminheiros errantes,
é bússola a nortear
caminhos de itinerantes.
Amor é sentimento que perdura,
abriga-se no útero, abraça o embrião,
se faz seu coração até a idade madura
amenizando as dores até a última pulsação.
O amor permeia as estações.
Faz do inverno, primavera,
outono cheio de emoções.
No verão, sol que aquece a alma,
dourando sonhos, consolidando quimeras.
O amor prima pela simplicidade,
vibra com a verdade,
basta sentir e se deixar levar...
Sentimento puro e nobre
que gera a paz, a amizade, a solidariedade,
mas que muitos encobrem
orgulhosos por não se fragilizar.
Riqueza gratuita que alguns ignoram
presos à cobiça de não compartilhar,
surdos à Palavra que ensina a amar.

_Carmen Lúcia_


quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Nada mudaria





Se eu registrasse
as dores que vivi,
espinhos que colhi
encobrindo as rosas do caminho...
As decepções ingeridas,
sorrisos camuflando o pranto,
desencantos, desenganos,
seria apenas mais um clichê
e nada mudaria...

O mundo continuaria a girar
trazendo a noite e o dia,
as mesmas emoções sentidas
permeariam , sob medida,
as imutáveis estações
elegantes ou mal vestidas.

As mesmas esperanças no amanhecer,
mesmos pedidos de novas chances,
recomeçar ou renascer...
Mesma nostalgia ao entardecer,
expectativa da noite para os amantes
que já não são como antes...
Não veem a lua,
perambulam pela noite nua.

Se poesia eu quisesse escrever
alguns realces poderiam surgir,
novas nuances a se expandir
pressionando o sorriso a marcar o papel...
Maquiagem irreal, trunfo ilegal .
No mais, tudo como antes...
Temas, argumentos, sentimentos,
atenuantes...
Se eu chorasse, se eu gritasse
ou implorasse...
Não faria diferença ao mundo.

Carmen Lúcia

sábado, 9 de agosto de 2014

Ao meu pai



Volto ao passado.
Tão distante e tão presente.
Tão gravado em minha mente...
Nem o passar da vida inteira
o distanciará de minha lembrança,
de meus tempos de criança.

Tempos idos e vividos.
Clareados de esperança.
Pai!
Palavra que em meus lábios emudeceu,
mas que em meu coração nunca morreu.

Que minh’alma fala olhando pro céu,
pois sei que agora é lá sua morada,
de lá ele me vê,sua filha amada
que aqui na terra ficou,tão pequenina,
mas que guarda uma saudade tão grande,
que nem sei como pôde um coração de menina
carregá-la tanto tempo,sem apagá-la um instante.

Meu pai,tão cedo foi levado de mim.
Mas seu pouco tempo foi tanto
que mesmo deixando rolar o meu pranto
ainda sorrio por ter tido um pai assim.
Foi Papai Noel, Super Homem, Super Amigo e mais...
Traçou em minha infância tudo o que hoje sou capaz.

_Carmen Lúcia_

domingo, 3 de agosto de 2014

Amor transcendental




Te amei...
mais do que a mim mesma
 
Te amei...
acima de todos os credos e conceitos
 
Te amei...
ao transcender o topo da supremacia
 
Te amei...
amor incondicional, sem princípio nem final
 
Te amei...
sem preconceitos, normas ou direitos
 
Te amei...
com toda a sabedoria do universo
 
Te amei...
com a insanidade lúcida dos amantes
 
Te amei...
ao encontrar-te nos meus versos
 
Te amei...
como o poeta ama a poesia
 
Te amei...
vislumbrando a primavera em cada estação
 
Te amei...
fiz de ti meu pergaminho e religião
 
Te amei...
nos avessos dos defeitos onde repousa a essência
 
Te amei...
a cada nascer e pôr do sol
 
Te amei...
vivendo os vendavais esperando o arrebol
 
Te amei...
no silêncio de tuas respostas
 
Te amei...
na realidade transitória que perpetua nossa história
 
Te amei...
nas lágrimas vertidas que a alma revigora
 
Te amei...
durante o sofrimento valido a pena ter sofrido
 
Te amei...
quando te achei ao te achares perdido
 
Te amei...
e te amarei para sempre...
muito além do que for permitido...

_Carmen Lúcia_

16/07/2011

Se não houver sol



 Se não houver sol, eu imagino,
e o dia irrompe com clarão divino
em minha fértil imaginação.
As frases vêm com as manhãs
e se estendem pela tarde que se empenha
e se embrenha num  horizonte de aquarelas
até a vinda da primeira estrela da constelação.
Entram por janelas escancaradas,
deitam na cama, esparramadas,
a espera da noite de lua,
dos acontecimentos da rua,
dos detalhes esquecidos,
do escuro das esquinas nuas.
Versos perdidos, sofridos,
palavras sem significados
na reconstrução de sentidos,
na restauração dos fatos,
sentimentos indefinidos,
sem rimas nem refrão.
Descrevem a solidão
sob um luar a sombrear
 vestígios na escuridão.
De repente, a madrugada
anuncia a alvorada
branca, esquálida, pálida.
Um outdoor na calçada
clareia minha inspiração.
Vejo a noite virar dia,
a lua virar sol,
 melodia ser canção,
sinfonia , arrebol
e os versos captados
de onde se pôde chegar
compõem o poema-magia,
 sonhos que ainda irei sonhar.


_Carmen Lúcia_
  



sábado, 2 de agosto de 2014

Realidade




De repente o sorriso se apaga,
o tempo se fecha, o dia se acaba.
O medo invade, muda o cenário...
O coração persuade, em vão, a realidade.
Não há argumentos contra seu impacto.
Surge inesperada, inexoravelmente real.
Muda o contexto, o texto, o pretexto...
Rouba a cena, contracena, realiza seu ideal.
Traz a tristeza, intérprete principal
e dentro dos limites de nossa força
passamos a vivenciá-la intensamente,
distanciando-nos do mundo, sorrateiramente,
e a cada experiência, uma ilusão cai por terra...
Clamamos pela coragem, força contrária ao medo.
Paralisar o caminhante seria o segredo.
Mas essa imensa montanha assustadora
envolta em mistérios, herança ancestral pré-histórica,
prostra-se a nossa frente, barreira fantasmagórica,
mostrando-nos todas as formas de medo,
guardião dos portais para o desconhecido,
levando-nos a crer na mais ingênua mentira
num fazer de conta que somos,
sem nada sermos...
A vida nos comanda à realidade...inesperado
convite marcado, lacrado, convocado...
sem o passaporte da coragem,
sem o aviso prévio...
Convite  inopinado..

_Carmen Lúcia_

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Agosto



              
Quantas vezes morri  e renasci...
beijei as folhas secas de um chão ressequido
coladas em meu rosto pelo suor e lágrimas.
O vento da estação levou o meu canto,
 dissipou a brisa que soprava meu pranto
deixando a poeira arder meus olhos.

Agosto, dias sem inspiração, inversos a versos
regados a partidas sem vindas, sem vidas,
 despedidas, ais, barcos sem velas, sem cais.
Lágrimas que deixam na boca o gosto de sal,
entorpecendo a alma, trincando o cristal.

Agosto que trago colado em minha retina,
 enroscado em meu fado, minha sina,
peso de um legado abandonado e bandido
que mesmo sem querer, trago comigo.
Acervo de minhas dores, meus desgostos,
meus dissabores, meus rancores.

Deito-me na terra seca, empoeirada,
cravo-lhe minha alma desarmada,
encosto meu ouvido aturdido
a espera de quem não quer nada
e ouço ressoar em seu mirrado ventre
a flor em semente ser gerada
prenunciando setembro, enfim,
anunciando que agosto terá fim.


_Carmen Lúcia_





quarta-feira, 30 de julho de 2014

Que tempo é esse?



Que tempo é esse?


 Tempo que traz nova vida
e até nos convida para celebrar.
Tempo que arrebata a vida
e ainda se olvida de quem faz chorar.

Tempo que gira veloz,
carrossel de emoções, temível algoz.
Às vezes tempo de paz, de amor e paixões
ou que gera a guerra  sem trégua
e segue gerando  frias solidões.

Tempo, que num repente, muda cenários,
o belo, o feio, caminhos arbitrários...
Cobre de flores a esterilidade do chão,
 entre gotas de chuva e de sol
faz nascer o arco- íris e o arrebol.

Tempo, um vaivém de dores, rancores,
ciranda de risos, amores, perdão...
Tempo que faz do poeta, artesão,
sincronia de arte e paixão.

Tempo que dispensa rimas
rimando a todo tempo
os passos da bailarina,
tempo que morde e assopra,
 beija e se desdobra
para não abraçar.

Tempo que escreve sem linhas
no branco (que assusta) da folha, a sina.
Que leva o remédio da cura,
os disfarçados efeitos especiais
e deixa o que não mais perdura,
o que nos transforma
em (d)efeitos colaterais.


_Carmen Lúcia_










terça-feira, 29 de julho de 2014

Antes que a chama se apague




Quero encontrar palavras
que traduzam meu modo de ser.
O que fui, o que sou, o que um dia serei.
Os fatos reais, banais, atemporais,
que o mundo lembra e esquece,
ou não lembra ou não esquece jamais,
apesar da chama acesa que permanece
e só se apaga quando mais nada acontece.

Que das palavras brotem versos
em canteiros de sóis, girassóis, arrebóis,
a surpreender o mundo que dorme,
ou não se conforme, talvez,
com o desvario da insensatez
ou com o que nos consome,
mas a alegria ainda ronda;
o sonho persistente sente fome.

Os versos azuis pintados
na tela da manhã que reluz
são um convite para a dança
que não posso recusar
enquanto a luz me alcança...
É aí que me enquadro,
consigo me encontrar
e me integro nesse quadro
enquanto meu tempo durar.

_Carmen Lúcia_

sábado, 26 de julho de 2014

A poesia virá...



E a poesia virá
nascida de todo lugar...


livre, plena, pura,
apesar do breu da noite
que traça mistérios no ar
ocultando a lua insinuante
que através de uma nuvem entreaberta
revela um brilho de sedução
provocando um fascínio ofegante
que prontamente despertará.

E a poesia virá
quando ao abrir os olhos
vir a noite virar dia
colhendo toda a alegria
da manhã que sugere renascer
encobrindo a nostalgia
de um sol que se faz poente
e languidamente
desmaia no horizonte
após da tarde, a despedida,
e calmamente se vai...

E a poesia virá
quando a esperança ficar.
Ainda que a dor atormente,
o mundo tornar-se descrente,
o sofrimento teimar em arder
queimando o cerne da gente,
a alma só ganhos terá
lapidada pelo ourives do tempo
trazendo a certeza de que passará.

E a poesia virá,
simplesmente,
sem palavras, brandamente,
com o silêncio que se fará,
traduzido pelo encantamento
dos versos que o poeta interpretar,
enlevado pela emoção
de quem fala sem falar.


 _Carmen Lúcia_