domingo, 19 de janeiro de 2014

Senhora (tributo à Cora Coralina)



Senhora (tributo à Cora Coralina)


As marcas no rosto não denotavam desgosto,
nem vinham do cansaço,
mas de caminhos percorridos e vividos
sem nunca haver desistido.

As mãos calejadas, rudes, deformadas
lembravam cânticos da terra...
Mãos que cavoucaram, plantaram, roçaram,
prepararam terrenos para o cultivo
sem ambicionarem os frutos a serem colhidos,
mas pra quem quisesse neles semear.
E sonhar!

Mãos que merecem um poema-emoção
a ser imortalizado, eternamente lembrado.
OS cabelos brancos representavam desafios...
As lutas e desenganos, no decorrer dos anos,
retrato de sua presença-terra,
exemplo de coragem aos inconformados.

Em sua escalada pela vida
driblou dores, removeu pedras, plantou flores.
Deixou um rico legado, precioso aprendizado.
E mesmo no tarde da vida poetizou a sua história,
recriou seus sonhos, gravou-os em sua memória.

À sertaneja meu tributo e toda a glória,
a ela, Cora Coralina, Aninha, Cora...
E denominada por mim, agora...

...Senhora!

_Carmen Lúcia_

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Vida sem vida



Por onde se perdeu a minha vida?
Em qual esquina tropecei em minha sina?
Qual derrocada me deixou tão derrotada?
Que passo em falso me atirou ao cadafalso?
Sou um fantasma que trafega com o vento;
um leve sopro e me ancoro em qualquer tempo,
se vier mais forte, meu suporte se arrebenta
e a poeira do meu rastro se incendeia,
e me abrasa, levando-me à cegueira.

Por que de mim a vida se perdeu?
Pergunta infértil que não leva a nada,
visto que a resposta sou eu...
E o silêncio que me inunda se aprofunda
na essência congelada
retratada em meu ser, que sem saber,
sem se conter, quer responder...

Poderia ter sido feliz, mas não quis.
Sem qualquer explicação, de tudo me desfiz.
Sonhos que gerei e  não busquei
ou tardiamente procurei...
E já não tinham mais razão de ser.
Amor que imortalizei, mera ilusão...
Versos que materializei, inspiração,
espatifados no mais alto patamar,
onde a poesia conjuga o verbo amar;
que desprezei, não o soube conjugar...
E não me amei, nem me deixei amar.

Sou corpo sem abrigo,
espectro sem jazigo,
alma a perambular...
Que ainda ousa a chance
da luz de um novo dia,
virar a página e resgatar a vida,
ir ao encalço da esperança perdida,
sepultar a vã filosofia,
deixar de morrer a cada dia
e a cada amanhecer
dançar a dança do saber viver.
E sobreviver...
Louvando a graça recebida!

E na próxima esquina, ainda espero,
Esbarrar-me com o novo...
Recomeçar do zero!



_Carmen Lúcia_

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Essa tal realidade



De repente o sorriso se apaga,
o tempo se fecha, o dia se acaba.
O medo invade, muda o cenário.
O coração persuade, em vão, a realidade.
Não há argumentos contra seu impacto.
Surge inesperada, inexoravelmente real.
Muda o contexto, o texto, o pretexto...
Rouba a cena, contracena, realiza seu ideal.
Traz a tristeza, intérprete principal
e dentro dos limites de nossa força
passamos a vivenciá-la intensamente,
distanciando-nos do mundo, sorrateiramente,
e a cada experiência, uma ilusão cai por terra...

Clamamos pela coragem, força contrária ao medo.
Paralisar o caminhante seria o segredo.
Mas essa imensa montanha assustadora
envolta em mistérios, herança ancestral pré-histórica
prostra-se a nossa frente, barreira fantasmagórica,
mostrando-nos todas as formas de medo,
guardião dos portais para o desconhecido
levando-nos a crer na mais ingênua mentira,
num fazer de conta que somos
sem nada sermos...
A vida nos comanda à realidade...inesperado
convite marcado, lacrado, convocado,
sem o passaporte da coragem,
sem o aviso prévio...

Convite inopinado.

_Carmen Lúcia_

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

O poder da inspiração



Espero serenamente fluir-me a inspiração...
Então navego, trafego pra onde quero ir...
Pra onde me lança o mais etéreo pensamento,
bem longe, onde ninguém possa alcançar
ou nunca a asa da imaginação irá pousar.

Transito entre versos que escrevo...
Eles me levam pra onde bem almejo...
Pé ante pé, correndo, a flutuar
quando irrompe em minh’alma o vazio
e feito nuvem carregada necessita transbordar.

Só a inspiração me livra desse gerúndio infindo
que tende a eternizar as ações do dia a dia,
cotidiano insano a se infiltrar em meu espírito
que a divagar vagueia espalhando poesia,
concretizando em versos o inverso da utopia.


_ Carmen Lúcia _

domingo, 5 de janeiro de 2014

Paisagens da Vida



Quero ver a vida assim como a paisagem
que vejo do lado de cá da janela,
perfeição divina que se entreabre
aos meus olhos afoitos dessa aquarela.

Quero flores coloridas
e os acordes do amor latente
a beijar-me de manhã
deixando rastros de essências matinais
a traspassar contextos existenciais
suavizando o decorrer dos dias
e alimentando as minhas fantasias.

Mas assim que fecho a porta
e piso a paisagem à minha frente
as cores se desfazem em pressa
que mancha minha aquarela...
O sorriso das flores murcha
e os acordes do amor latente
se desfazem entre o barulho
que me invade de manhã.


E a vida se mostra irreverente,
indiferente aos anseios que me invadem,
sentimentos em combate
fluem sem muito espaço
refletidos em lágrimas que se contém,
desolados entre flores apagadas,
numa paisagem ofuscada…

Assim encaro o caos do dia.
Sento, levanto e vou em frente...
Atrás está minha janela,
moldura de toda a inspiração.
À frente a vida em revelia
distorcendo a fantasia
de minha utópica visão.

Mas dos sonhos não consigo desistir,
absortos no esforço
de um botão que quer se abrir.
 
-Carmen Lúcia e Arlete Castro-