quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Caminhos e sonhos









Os caminhos estão abertos…
Um tanto que desertos,
talvez pela escassez de sentimentos
ou pela fartura de almas em desalento.
Basta escolher o que melhor aprouver,
 o mais estreito, o mais perto, o mais certo,
onde os pés não tropecem
e transitem a favor do vento
sem pisarem a paisagem do lugar
num tempo lento, pois pressa já não há.
 Sem se declinar em algum momento,
deixar-se levar pela brisa a passar
num voo rasante, volante,
de carona nas asas de uma borboleta
permeando cores, flores, vida, amores…
Horas morosas vertidas em ampulheta.

Caminhos que levam a conferir
onde se aportaram os sonhos,
os mais lindos, os mais ousados,
os mais inusitados ou tristonhos…
Em que desvio a luz não brilhou,
em que instante deixei de sonhar
e alguns se mofaram sem se vingar,
sem sequer a chance de recomeçar.
Em quais cantos repousam os encantos
que me fizeram sorrir, viver, descrever
o que a alma transborda em prazer.
 Agora clamam por voltar
e eu perdi o rumo, as asas pra voar.
Abraço o desencanto,
tranco os caminhos.
Posto-me num canto.



(Carmen Lúcia)




sábado, 5 de setembro de 2015

Lá fora




Senta-se à beira da janela.
Lá fora o imprevisível a espera…
O olhar se perde no belo que se abre
recolhendo as cores da tarde, que se fecha.
Vê o sol dar seus últimos suspiros.
Algumas estrelas brilham em silêncio
na noite que chega e toma espaço
respeitando a lacuna da lua que não veio
 tornando a noite mais escura.

Fica inerte e nas paredes frias do quarto
reverte seus impenetráveis recatos
em desejo de se lançar na escuridão
sem os badulaques de contra-mão
à procura de um sol que acalente
o inverno de seu coração.
De partir sem saber para onde
em busca que a livre a alquimia
 das infinitudes do mundo,
 retalhos costurados, sobras do dia,
restos de dor dissipados, nenhuma fantasia.

 Deixa a janela que nada mais lhe revela
a não ser o escuro da noite sem lua
e cintilações de estrelas ,
meras ilusões do passado.
Decidida, parte em busca da vida.
Não olha pra trás, se desfaz dos recatos,
tentáculos querendo lhe agarrar
e antes que o sol renasça, de repente,
quer estar o mais ausente,
no longe que seus pés possam alcançar,
a observar,  do poente,
a  vida como se vive
na graça de ser livre.



Carmen Lúcia

terça-feira, 1 de setembro de 2015

Setembro





Enquanto o homem se perde
em vaidade descabida,
na ambição que exorbita 
a desonestidade convicta
a galopar entre nós,
ultrapassando medidas,
regras, arrebentando os nós,
a natureza silenciosa e implícita
move-se debaixo da terra,
conspira a favor, sem trégua,
sem dar espaço pra guerra,
em harmoniosa sintonia,
cumplicidade virtuosa,
terra, semente, amor…
Cuida de seu interior,
da riqueza ainda embrião…
Nenhuma fadiga, muito labor,
esbanja sabedoria
em sua arte-magia,
sublime dedicação.
O bem vem nos ofertar
sem nada pedir em troca,
somente preservação
na singeleza que toca
e que o homem não vê,
não sente, não crê.
O verde começa a surgir...
A esperança a renascer!
Um galho desponta,
algumas folhas prontas
embrulham um lindo botão.
Desabrocha uma rosa…
Amarela!
Prenúncio de Primavera.
Prepare o seu coração…


Carmen Lúcia