quinta-feira, 16 de agosto de 2018

Curriculum vitae
























Curriculum Vitae
Meu nome: Poema Luz...
Sou taurina, a arte me fascina, me seduz...
Interligada aos recônditos profundos
Conectada às belezas, às delícias do mundo.
Sou gozo e conforto, valorizo o viver bem...
Preservo o que é valioso e o que mais convém...
Movo céus e terras em prol dos que não têm.
Sou sensível, vulnerável, flexível...
Assoberbam-me as excelências da vida,indefinida...
Suscetível a mudanças, maleável a relevâncias,
Para mim, luar é palpável, estrela...transitável,
Como a umidade do ar... penetrável.
Desfruto os cheiros das plantas que crescem a cada dia,
As gotas de orvalho e o sol das manhãs que se anuncia,
Sou levada ao paraíso pelos meus sentidos,
Libero sentimentos, não os quero contidos.
Só me detenho quando a minha frente
Me deparo com as limitações de minha mente
Mergulhada na imensidão de minhas infinitudes.
Desconheço as leis, meu bom senso me basta,
Ele é quem comanda meus atos,
Me ensina a discernir os fatos
E das iniquidades me afasta.
Sou calma...até lenta no agir,
E nada temo, nada me faz fugir...
As minhas imperfeições procuro assumir.
Repudio a superficialidade,excessiva vaidade,
Embalagens que o tempo extermina,
A essência do conteúdo é o que predomina
E o que já passou pela prova do tempo...
Raízes que não apodrecem, nem leva o vento.
Meus bichos e plantas me cobram carinho
E eu me aconchego qual pássaro no ninho.
Suave, sensual, me perco de amores, me excitam os pudores...
Sou frágil cristal, sou mulher fatal, sou porto seguro,
Choro as emoções, absorvo paixões, sou ancoradouro...
Anseio o novo, me perco a olhar o que está por chegar.
Pacienciosa, aguardo o amor me chamar...
Estou apta para amar!


_Carmen Lúcia_

Peregrinação


























Vamos sair…
Andar a esmo
sem o tempo a perseguir,
o tique-taque dos minutos
feito bomba-relógio
prestes a explodir.
E mesmo não sabendo onde ir
sigamos qualquer direção,
por ali, por lá, mais além…
Sem porém.
Ouçamos a emoção,
bússola na peregrinação
das incertezas de se chegar.
Nosso olhar falará por nós,
guardemos na alma nossa voz.
Olhares captam o interior,
o que realmente somos.
Escrevem na linha do tempo
o tanto guardado em segredo,
as entrelinhas do enredo.
Sejamos o nosso porto
para as horas de cansaço.
 Nele ancoremos  entrelaços
onde a vida fez questão de nos atar.
Vamos sem rumo…
Barcos sem orientação.
Num ir-se sem volta.
Sem revolta.
Sendo as batidas do coração.

Carmen Lúcia

quinta-feira, 2 de agosto de 2018

Onde Deus possa me ouvir-pe Fábio de Melo




Meu canteiro




























Desfaço de tudo que me contradiz.
De tudo que não me compõe e contraria.
Tentando, à revelia, ser feliz.
Regando os bens que ainda preservo.
Quero-os sempre junto a mim.
Faxino os cantos impregnados de anos.
Teias de sedução, redes de ilusão.
Logros do destino.Desatinos.
Enfeitiçaram-me os desencantos,
permanecem molhados de pranto,
lugares onde chorei tanto…
Mas onde cresci.
Amarelaram meus versos,
 revelaram meus protestos,
desprezaram meus amores,
minhas dores, o meu  canto.
Profanaram o território santo.
Bebo as horas mortas de prazer
na esperança de as reviver.
As fuligens de meu quarto
sopro e o refaço.
As dores, planto-as num vaso.
 Relembram o passo a passo
dessa jornada de culpas e descaminhos.
O recomeço, deixo a mim,
a quem pertence minha vida.
Assim como as flores, ao jardim,
de onde colho mudas
e cultivo um canteiro em mim.


Carmen Lúcia




terça-feira, 31 de julho de 2018

A vida em movimento






















Abre a janela.
Da alma e do mundo.
Lá fora o sol espelha.
Reflete o rosto dela.
O movimento da vida
convida a andar.
O som da natureza chama
sem falar.
Os jardins oferecem mel de seu labor.
Flores se dão, imensidão.
Captam olhar,
a mais recôndita emoção.
O perfume exalado inebria,
percorre caminhos intransitáveis.
Borboletas voam bailados,
esnobam cores, suavidade,
sedução,pecados…
Colibris levitam arrebatados.
Girassóis dispensam o sol,
 adornam o redor de seu cabelo.
Sobre a relva molhada,
os pés descalços
descarregam o stress da jornada.
O horizonte beija a terra.
A noite vem cobrindo o sol.
Hora do arrebol. Da nostalgia.
Não é noite nem dia.
Não espera a lua.
Nem sabe se virá.
Só a realidade
e o encantamento
de ter vivido o hoje.

Carmen Lúcia

segunda-feira, 30 de julho de 2018

Sem limites





















Aberta aos amores,
amanheço.
Pensamentos se aglomeram
 espaçosos onde transito.
Desvaneço.
Sou cores sem nuances,
acordes sem canção,
caminhos sem atalhos…
Ávida aos prazeres
de compactuar com a lua
suas melhores fases,
sorver os anoiteceres.
A mente vai, o corpo não.
Já não acompanho o vento.
Quebrei meu violão.
O tempo me espera na esquina
(meio que à contramão)
onde meus sonhos adormecem.
Quero vivê-los outra vez.
Acordá-los para um samba-canção,
um rock a Janis Joplim,
um tango, el bandoneón.
Um blues em flauta doce,
uma cerveja, um agridoce.

Preciso parar as horas
que  limitam chegar.
Ainda falta tanto pra caminhar…
Falta uma vida…
Aquela que sonhei
e desperdicei
pedindo para me esperar.
Agora ela pede calma
e minha alma aflita, desalma,
em resistência às leis da existência.
Não terminei minha dança,
nem fui onde a emoção alcança.
Não colhi a flor da serra
 nem bebi água vertida,
não me tornei sal da terra,
não curti o bom da vida.
Mas o tempo não dá trela.
Adormeço.
A inquietude me vela.
Amanhã recomeço.


Carmen Lúcia



domingo, 29 de julho de 2018

Espelho


























Que espere a emoção!
Dê-me um tempo a inspiração.
Rasa de sensibilidade
encontro-me com a verdade
de cara lavada
sem máscara ou vaidade
frente ao espelho.
Quem sou?
Ele nunca revela.
O lado que mostra
é o que me prostra
e o que todos veem.
Retrato mal formulado
moldura sem essência
minha passiva armadura
defesa de meu ponto fraco.
Meu exterior de agruras
que tento esconder.
A fragilidade oculta
não deixa transparecer.
Minh’alma não espelha
e preciso saber
o que ela quer de mim.
Como mostrar-me nua
se a nitidez ofusca
e é o que quero transparecer?
Encobre as perfeições
mantidas bem guardadas
veladas, consagradas,
para os tempos de expiação.
Reflete as evidências,
o óbvio, as certezas…
Esconde o coração.


Carmen Lúcia


sábado, 28 de julho de 2018

Em silêncio


























Busco no silêncio, a paz
e a beleza natural que silencia,
onde a inspiração permeia
e a realidade oscila
pendendo para o bem.
Então esboço meu poema
a espera da emoção que sempre vem.
Busco a flor que prenuncia
a primavera todo dia
e a cada estação insiste
em provar que ela existe.
Abro a janela…a luz
de um bem-te-vi
a testemunhar o que vê, 
o que vi…
Na leveza de seu voar
a vida fica mais bela
sem o peso a tributar.
Pelos canteiros pouso o olhar,
colho palavras com cheiro,
rabisco versos a exalar,
deixando rastros, sinais…
O sol chega mais cedo, 
acorda os girassóis
e uma ciranda florida
protesta em cantiga
a liberdade das rimas,
pobres ou ricas,
cantando cores, amores e flores.
Então meu olhar silencia.
No papel fala a poesia.

Carmen Lúcia

sexta-feira, 27 de julho de 2018

Procura























Anda!
Faz o que o pensamento manda,
sai da zona de conforto,
busca o que atrai,
o que perdeu, o que se esvai.
Tenta ser feliz…
Quebra o cadeado,
conserta o que há de errado,
derrama o que trava o peito,
deixa ser o que tem que ser.
Nunca é tarde, ainda há jeito.
Não sonhar é o mesmo que morrer.
Mágoas guardadas são grades,
aferram até arder.
Tornam-se holocausto.
Espelham-se no que faz,
embaçam o olhar,
roubam o que satisfaz.
Enferrujam a essência,
entorpecem a mente,
matam gradativamente.
Impedem de viver.
Reage!
Abre a porta de seu interior.
Sopra os desgastes,
varre todos os trastes
que fazem sofrer.
Esvazia o espaço.
Percorre-o, preenche-o com o que apraz.
Dá o primeiro passo.
Outros seguirão o mesmo compasso
até encontrar o caminho
que a leve até você.


Carmen Lúcia

quinta-feira, 26 de julho de 2018

Só hoje


















Hoje resolvi pausar.
Fico aqui e deixo o mundo pra lá.
Estática, vejo-o rodar.
Livre, com a sensação de não estar…
Leve e a impressão de levitar.
Ser (im)pensante, esquecida do instante,
Isolada do que não posso transformar.
Me volto para mim.
Sou corpo no vácuo
despejado por alguma turbulência.
Não clamo por sobrevivência.
Não chego a ser pânico nem solidão.
O meio termo define meu padrão.
Hoje tiro os pés do chão.
Afasto-me do mundo, dou meia volta,
driblo os solavancos, os engodos, a revolta.
Sou meu próprio piloto
a resgatar micropartículas de mim.
Que a física quântica ou o
poder do pensamento
ou tudo que nos conduz,
façam prevalecer suas leis,
sem distâncias ou anos-luz,
e acelerem a teoria do fim.
(Ou recomeço.)

Carmen Lúcia



quarta-feira, 25 de julho de 2018

Uma nova poesia



















Corre, alcança o pensamento,
lamento não leva a lugar nenhum.
Ele já deu voltas ao mundo,
desencadeou belezas,
do cimo às profundezas,
do céu aos mistérios do mar.
Descobriu terras nunca vistas,
foi senhor de muitas conquistas,
desbravou florestas,
varou por entre as frestas,
trouxe-lhe um raio de sol.
Foi a sua transcendência
enquanto limites podavam seus pés
e o concreto a prendia aqui,
se o que mais queria era seguir.
Deixa esse controle.
Pensamento não se comanda.
Liberta a alma.
Pensamento requer calma,
não anda para trás,
segue como as velas no cais
e qualquer dia não volta mais.
Faz um flashback,
recolhe do passado
os retalhos amassados,
cerzidos em sentimentos sagrados,
os seus momentos válidos
e na somatória com os de agora
recomece sua história…
Junte suas asas às do pensamento
e voe, perdendo-se pelo arrebol…
Veja de perto o pôr do sol
e o nascer de um novo dia.
Carmen Lúcia

domingo, 22 de julho de 2018

Surpreendente


















Surpreende-se consigo mesma.
Durante uma pausa da lida,
num desafogo da vida,
a reflexão.
Em quantas se repartiu?
Não bate a questão.
Esteve lá e cá,
 foi dez, cem, mil…uma porção.
Foi palco da amargura,
riso engabelando o dó…
Foi muitas numa só.
Água de remanso, igarapé,
paragem de aconchego, mulher,
banquete pra muito talher,
resignação, perseverança e fé…
Foi prato vazio, a fome a doer,
a volta por cima, o querer comer,
a dor que alucina, o ter que viver.

Navio a voltar e partir,
horizonte a fechar e se abrir.
Foi chegada.Despedida.
Alma multifacetada,
luta renhida.
Foi o resto da vida
pra se iludir.
Foi filha, esposa, amiga.
A mãe que espera
o milagre surgir,
enquanto ajoelha
pra se redimir.

De quê? Por quê?
Nada teria a vida
a lhe retribuir?
Uma fagulha de sol
e lhe fazer
sorrir?

Carmen Lúcia















terça-feira, 17 de julho de 2018

Causa mortis


















A lágrima já não chora,
 seca ou deixa de nascer,
o riso perde a graça
não há razão de ser…
A dor se fecha em silêncio,
 não mais vigora,
cansa de doer…

O verso que antes sorria
e atrevia a inspiração
de morte quer se prover…
A arte nobre do artista
passa a ser vista
sem admiração…
A sensibilidade,
mãe que gera a verdade,
vira insensibilidade.

O ar rarefeito
impenetra o peito,
defronta o pulmão,
não há mais efeito,
ação, reação…
Não há coração.
Banaliza-se a essência,
de carência o amor se faz,
o homem sem consciência,
petrificado jaz.

Perde-se a ternura
no cais da desventura,
em portos que não se veem mais
a brandura dos abraços,
a tristeza dos jamais.
Auroras perdem belezas,
horizontes embromam linhas,
a morte peregrina,
a vida se desfaz.


Carmen Lúcia




domingo, 1 de julho de 2018

Sem opção

















Faz a bagagem.
Para o próximo voo,
serão suas asas, a experiência.
A que a ensinou voar
com lucidez e (cons)ciência
quando a inlucidez reinar,
 as portas se fecharem
e o desafio entrar.
Ao ficar cara a cara com a vida
sem opção de recuar.
Quando o medo que se sente
e arrepia o ventre
deixa de amedrontar.
Jaz em qualquer lugar.
Agora é encarar.
Se as pernas tremulam
e os pés sangram pedras
lança-se mão do que há,
do que nunca será em vão,
do que eleva e tira o chão
e se perpetua feito espada
na luta contra a disparidade e desunião.
Foram anos de aprendizado.
Voos rasantes, minguados,
até alcançar o sol.

Encara de frente o desafio…
Nem noite escura, nem solidão, nem frio.
Nada que a acovarde a prosseguir,
andar pelo caminho que escolheu,
devolver-lhe a liberdade que perdeu,
 seguir de cabeça erguida
com a leve sensação de que venceu.



Carmen Lúcia





terça-feira, 26 de junho de 2018

Saindo dos trilhos


















Sou humana, sou fulana, sou senhora,
com direito a deslizes e imperfeições.
Meu relógio só enfeita, não tem hora,
vivo o hoje, cada dia, o agora.
O amanhã é imprevisão
e o tempo não se demora.
Você que reclama,
me enxerga e não me vê,
não sabe que tem ainda
 muito a me conhecer...
Jogue-se, sem medo, ao prazer,
faça o melhor acontecer.
Se fez errado, vai se benzer…
A prece perdoa o pecado,
mas do tempo perdido
vai se arrepender.



Errei por incontáveis vezes,
consciente,  sem pedir perdão,
 e com muita valentia
usei o coração
enquanto a razão dava vazão
ao julgamento da sociedade
 coberta de precariedade,
ao corretamente político,
enfático, enfadonho, pragmático,
avaliando a inconsequência
de um desequilíbrio fugaz,
 do brilho intenso dos olhos,
encontro de mim com a paz,
feliz ao me descarrilar dos trilhos,
ver o mundo passar sem olhar para trás
e viver intensamente 
uma vez mais.

Errei…mas acertei
e errarei ainda mais.

Carmen Lúcia



domingo, 17 de junho de 2018

Vida cor-de-rosa

















Abre-se o cenário.
Real ou imaginário?
Tons de rosa ondulam,
modulam uma passarela.
Tal visão arrebata-me o chão.
Alço voo, sem macular o imaculável,
o tapete mágico a revelar
não só a vida cor-de-rosa,
como o tema de mais uma ilusão.
Aterriso e me arrisco a acordar.
Pé ante pé perpasso tanta beleza
e me despojo do cansaço.
O perfume rosa me refaz.
Danço. Espatifo flores.
O vento nos faz girar.
Sinto-me parte dessa arte.
Sou dança.Emoção que arde.
Ninguém é capaz de esboçar.
Não há dom que retrate esse tom.
Turva-me a mente. Novamente, o vento.
Carrega esse momento
e cada esperança se lança ao chão.

Carmen Lúcia






terça-feira, 12 de junho de 2018

Para Luiza Caetano




















Quis tanger o mundo,
abraçar o universo,
ser raio de sol,
acalentar o reverso,
nascer com o arrebol,
rescender-se à beleza,
morrer com o pôr do sol,
erradicar a tristeza,
renascer a cada dia,
ser verso sem rima, poesia,
pincelar muros caiados
com toques de alegria,
rebuscar em pátina os espaços,
juntá-los, reduzir os passos,
cruzar as paralelas,
plantar amizade entre elas,
espalhar cheirinhos de alecrim,
embeber a todos…e a mim.

Transcendeu fronteiras, eiras e beiras,
uniu mares, terras e lares,
realizou seus intentos,
semeou suas paixôes.
Em barcos com Fridas e Pessoas
navega talento que ainda ressoa...
Quebrou cercas do intransponível,
no infinito ora vive.

Pelas janelas do céu posso vê-la.
Agora é estrela.


Carmen Lúcia

segunda-feira, 11 de junho de 2018

Entregas





















Entrego-me ao crepúsculo das horas,
ao tempo que não se demora,
ao sonho impalpável
irrompido da  aurora
onde minhas mãos resvalam,
tremem, teimam, demoram
pelo cansaço da persistência.
Entrego-me ao intransitável,
às lonjuras sem demarcação
a transitar minha existência,
minha solidão.

 Às veredas purpurizadas,
aos canteiros de jasmins,
às belezas não sondadas
que não vejo, mas existem sim,
aos sonhos interditados
sem avisos nem porquês,
ao desejo de ir, apesar de…
À  sensação que vai passar
e permanece, sem trégua,
em mim.

 Aos mistérios a rondar,
ao ter que crer sem ver
e ninguém pra revelar.
Ao definitivo do não eterno,
à certeza de haver um fim,
às perguntas sem respostas:
Pra onde vou? De onde vim?
 Meu silêncio a gritar
e ninguém a me ouvir.






Carmen Lúcia





sexta-feira, 4 de maio de 2018

(In)lucidez





















Prefiro o desequilíbrio lúcido
a revirar sentimentos calados
fazendo barulho pra manter-me viva,
a seguir outro compasso
na contradança da vida
que contraria e impede a valsa.

Prefiro perder-me de vista
e reencontrar-me nova
onde se entremeia a pista
que a todo instante se renova
no “salve-se quem puder”
e salvarem-se todos,
entre mortos e feridos.

Prefiro atalhos cerzidos,
remendados um a um,
à reconstrução de caminhos
que não levam a caminho algum.

Entrego-me ao inesperado,
ao sonho inusitado,
às contradições do dia,
à luz de cada manhã,
à espera compulsória, ilusória,
alienada ao mistério não revelado
da incerteza do amanhã.

Prefiro-me a mim,
como sou, assim,
(in)lucidez que vibra
a cada lampejo do sol,
co’as  miudezas da rua,
co’as voltas do girassol,
com a nova fase da lua.


Carmen Lúcia





















sexta-feira, 27 de abril de 2018

Utopia



























Não há chão para meus pés.
As escolhas foram em vão.
Banho-me em igarapés
 cercados de ilhas, isentos de vãos.
Sem a correnteza do rio
ou o renovar de cada instante
de todo dia que vem desfilar.
Quando eu for embora
sei que irei vazia,
meu coração aqui irá ficar.
E minh’alma dançará
pelos cantos das esquinas
com minha fantasia
e aquela música que tocará.
Perdi-me em versos, em pobres rimas
buscando poetisar o brilho do universo.
In versos, fiquei por lá.
Ninguém sequer me via, me lia
ou compreendia minha poesia.
Fala-se em ódio, polarização.
Entre os seres, a desunião.
Falas que não competem ao poeta,
atitudes inversas a sua religião.
Jogo a toalha no chão.
Talvez me vá para sempre
ou volte algum dia.
Tentar abraçar a utopia.


Carmen Lúcia

terça-feira, 24 de abril de 2018

Ânsia de viver

















Quis viver o amanhã, hoje.
Ter tudo de uma vez, agora.
Corrida insana. Desejo aflora.
Num instante obter o que degola.
Deixa o que há de mais caro,
as raízes , a identidade,
o amor tão raro.
Olha por cima, maldiz o agouro.
Era o arrimo, o remo, o rumo…
Não mais seria o velho prumo.
E foi, pisando a dor, o abandono,
a terra de pranto molhada,
a essência de si, ceifada.

Cegou-lhe o brilho falso da vida,
o cansaço de noites mal dormidas.
De palco em palco absorveu aplausos.
Sentiu-se rei. Foi sua própria lei.
Não contou com os bastidores,
as histórias  verdadeiras,
risos parcos, dores embusteiras.
Sucesso é armadilha sorrateira.

Precisou voltar.
Algo o impelia, o conduzia.
Talvez aquela voz da consciência
que quebra o gelo, a resistência…
Postou-se diante da morte,
 (realidade até então nunca vivida),
chorou o pranto verdadeiro,
acenou o adeus  derradeiro
e combalido, olhar a esmo,
sentiu que jamais seria o mesmo.


Carmen Lúcia






sábado, 21 de abril de 2018

Frias grafias



















Escrevo…
Mas letras são símbolos.
Não tremem o que sinto.
Não ouvem gemidos.
Registram emoções, apenas.
Descrevem sensações, à pena.
Mentem, não confrontam olhares
condizentes, convincentes.
São paus mandados, impressões
que não se impressionam jamais.

Grafam as  dores com sinais
metafóricos, irreais…
Escrevem expressões
frias, caladas, impessoais…
Ah, se pudessem falar…
Se retratassem emoções,
saíssem do papel
em busca de direções
e materializassem
seus registros,
suas marcas,
seus sinais…

Basta de insanidade!
Isso é querer demais.


Carmen Lúcia

Lembranças vivas























Eucaliptos rodeiam estradas de chão,
florinhas colorem beirais e caminhos,
maritacas acordam outros passarinhos,
olores campestres perfumam o rincão.
Ranger de rodas, charretes, carroças,
saudosa lembrança, tempo que se foi,
sorriso no rosto corado,
menina e seu carro de boi alado.
No morro o gado, o rastelo, o arado...
Vaquinhas leiteiras, mato capinado,
sem cercas de arame, ao som de riacho,
cascatas bailando montanhas abaixo.
Os ultravioleta do sol das manhãs,
o fogão à lenha, as chaminés,
o doce de pera, de cidra e maçã,
bolo de fubá, broinhas e café.
Ao pé da colina uma capelinha,
a cruz trabalhada, telhado grená,
a Ave- Maria, silêncio e harmonia
e a romaria do povo a rezar.
Varanda da casa, fiel namoradeira,
segredos guardados da vida inteira,
samambaias, avencas,
vasos dependurados,
o som do berrante tristonho da tarde,
gado em marcha atendendo ao chamado.

_Carmen Lúcia_

(idos de 2007)

segunda-feira, 19 de março de 2018

A gente espera






















A gente espera...

de novo o dia raiar,
 a noite chegar,
 o galo de novo cantar
mais uma vez…e outra.
Reforma no “quartel de Abrantes”.
 Tudo está como era antes.

A gente espera…

Um dia… Não tem hora.
Não carece ser agora.
(Com cautela, não atrela.)
O cessar da bala perdida
que certeira, levou uma vida.
Mais uma…e tantas…
A dor escrever outra história.
A dela, a sua, a nossa agora.
Guardada só na memória
dos que a tem.
Aí entra o coração…
Reconstruí-lo? Quem?
A gente espera
o rufar dos tambores,
 o fim dos clamores
o tempo de paz…
A justiça di-vagar
 sobre injustiças sociais,
intolerância, preconceito,
a hipocrisia virar preceito,
as emendas (in)constitucionais.
(em sigilo que se faz)

A gente espera

o tempo passar,
 o crime continuar perfeito,
o bandido nunca ser suspeito,
num mundo desigual
onde ser de mentira é normal.


A gente espera, se cansa,
recua, avança…
E cumpre o destino
 de sempre esperar.
(Até o mundo acabar.)




Carmen Lúcia



sábado, 17 de março de 2018

Essências




















Estão sempre ao meu lado
seja de que lado for,
sopram meu pranto calado,
compram minha dor.
Partilham a alegria,
exultam o amor.
Levam meu sorriso brando
 a irromper em gargalhada
brotando um mar de lágrimas,
doces gotas bem dosadas.
Movem-se (e me removem)
pra lá e pra cá,
num jeito leve de se levar.
Amenizam caminhos.
São portos, são ninhos
pra quem chegar, se abrigar.
Quero-os sempre comigo.
São anjos!
São poucos, são tantos!
Tesouros de imensa valia,
simples riqueza singular.
Chamam-nos essências,
ou também  amigos!


Carmen Lúcia

quinta-feira, 15 de março de 2018

Desabafo


















Senhor,
em teus pés derramo as dores
e o livre arbítrio em tuas mãos.
São dores varadas por vãos
de pregos cravados, lacrados,
teares da reles fiação
movidos a rancores
da livre submissão,
liberdade sem permissão.
altares de vis significados, 
 puros cânticos de manipulação,
violação dos santos quereres,
 ultraje aos  justos poderes.

De um lado, a fragilidade, o ensejo.
Do outro, o insano desejo…
O caminho ladeado de flores
Incrustado de espinhos
sangrando amores.

Senhor,
dá-me outra direção
ou a tua perfeição…
Essa minha imperfeição
me coíbe crer
que a vida vale a pena
ou que um dia vou morrer.

Por esse meu desabafo
gerado de meu coração
ajoelho-me humildemente
e te peço perdão.

Carmen Lúcia




quarta-feira, 14 de março de 2018

Ora pro nobis


























Estranha inquietude me domina…
Tem a ver com a lua
que  e regula
as minhas fases nuas.

Infinita calma me apraz…
Tem a ver com o mar
em ondas e brancas espumas.
O vaivém da paz.

O rito da oração me fascina…
Tem a ver com a liturgia mormente,
com a fé que ressoa veemente.
Sacramento engolido calado.

Meu credo é desapegado…
Tem a ver com a morte e o fim.
Minh’alma cheia de pecados.
“Ora pro nobis”,  por mim.


Carmen Lúcia




















domingo, 4 de março de 2018

A vida é bela





















Inocente, 

fora cruelmente sentenciada.
Infância truncada, 
brincadeiras roubadas,
portas fechadas.
Pais? 
Não os tivera jamais…
Não no amplo sentido da palavra:
amor, doação, alimento, proteção, lar...

Crescera, aos trancos e barrancos,
um pouco aqui, um pouco acolá,
entre a vontade de ser feliz 
e a monstruosidade do mal,
num contraste entre pedras e flores,
entre o medo que não sabia confessar.

Conhecera um falso lar.
Adolesceram-lhe os sonhos.
Adulteraram-lhe a adolescência.
Envelheceram-lhe a vida.
Estupraram-lhe as flores.

Num encontro com a dor
se viu maior que sua cruz
ao perceber que a sombra
só existe quando brilha alguma luz.

Lutas, lágrimas, cansaço.
Enfim o remanso ao seu encalço.
Um objetivo em mente:
Alertar sobre o mal(u) frequente
do abuso sexual.




Carmen Lúcia