quarta-feira, 27 de setembro de 2017

Contração
























Algo indescritível me traz aqui...
Novamente aqui...
Frente ao que me foge,
diante do que fugi,
do que não mais alcanço e me engole,
  não mais me atrevo. Esqueci.
Ou finjo não fazer parte de mim.

Algo mais forte que a própria força
do vento, do tempo, do universo,
do reverso que faz o mundo assim,
me conduz , me rege, destroça,
desacerta a direção
e em voz de comando
me traz para si,
aqui...

 E venho, e vim, e virei...
O coração dita a lei,
a emoção abre espaço,
arde no peito a inspiração,
debate-se em contração...
Palavras se enfileiram ao lado,
ofertam seus significados,
e uma a uma,  posicionadas,
desenham meu interior
expondo o que vieram fazer,
pra que vim
e sempre virei.


Carmen Lúcia


segunda-feira, 25 de setembro de 2017

Vem, Primavera!
























Vem, Primavera,
deixa tua marca sobre a terra,
tanta beleza embevece
e enquanto passas, entorpeces
 sentimentos prestes a morrer.

Vem, Primavera,
não desapontes quem te espera,
teu aroma chega nas vésperas,
tua essência reverbera,
tuas cores vêm depois...
Encobre o frio do inverno
congelando corações.

Lamento o chão inundado
de lágrimas roladas, pranto salgado,
o  ar impuro,
 fumaça suja de quem o exala.
O mar de lama infindo
onde nosso barco vem caindo.

Tanta primavera assim
não há de ser em vão....
Ainda há de haver sensibilidade,
motivo pra celebração.
Passes altiva sem te macular,
conserves as vestes divinas sem te sujar,
pássaros tristes irão te saudar,
borboletas deixarão os casulos
e um tanto amassadas
sobrevoarão o lugar.
Amores renascerão
rastreando tuas flores,
rimando com tuas cores,
as mesmas que trazias
e fazias o mundo vibrar...

Vem, Primavera,
faz a tua festa,
sejas nossa alegria
ainda que utopia
pra nos fazer sonhar.


Carmen Lúcia



quarta-feira, 6 de setembro de 2017

Quase



























Quase fui,
mas a pressa de avançar,
encarar o desconhecido,
cravar os pés desprotegidos
em terras que os poderiam tragar,
fez-me sentir medo...
E recuar.

Quase deixei
envolver-me a emoção
quando batendo no cais
mares e barcos tardios
lançaram suas velas,
redes para me sequestrar.
E eu, resgatando-me,
tive que ficar.

Quase segui
a caravana que passou...
Cigana expatriada,
sem destino, em abandono,
entregue à liberdade
de ser como o vento,
de não calar a verdade,
de ser quem não sou...
Coragem para prosseguir
  foi o que faltou.

Quase desisti...
Faltava aquela palavra
para enfeitar o verso
e ela zombava, fugia,
não queria ser rima,
fazer parte da poesia,
iluminar meu universo.
 Num esforço triunfante,
força que desconhecia,
trouxe para o poema
a palavra que lhe pertencia.


Carmen Lúcia






Primavera e ilusão























Finda-se a espera.
E a primavera ronda o ar.
De enorme beleza
prepara seu trunfo,
espreita seu mundo,
sonda seu lugar,
 espaço onde brotar
cores, flores, amores,
essas rimas singelas
nascidas  à vela
essências do amar.
 Sob crivos de pureza
reverbera
tempos de delicadeza,
luzes para clarear.


De chuvas de lágrimas
orvalha-se,
crisálida ainda presa,
prepara-se,
supera tristezas,
casulos da escuridão,
une-se às rimas,
faz-se versos
de alegria e solidão.

Semiborboleta
de promessas vestida
refaz a emoção...
Retoca a poesia,
seduz o poeta
a mais uma ilusão.
Basta o sol nascer de novo,
romper-se a casca,
deixar o ovo,
cicatrizar a ferida,
e a borboleta atrevida
voa bailando jardins
na primavera dos sonhos
plantados  dentro de mim.



Carmen Lúcia