segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Pensamento navegante

Pensamento navegante

Pensamento navegante



Navega, pensamento,
cruza os mares,
enfrenta as marés,
acalma a turbulência,
germina os ares
da mais pura essência.
Desperta os sonhos
que geram resplandecência. 

Junta-te a eles, percorre a luz
 inebria-te da luminosidade.
Perde-te nesse clarão,
fecunda-te de significados,
percorre o infinito 
 alheio ao sol eclipsado,
ignora a escuridão.
Cresce  seguindo sempre
 a melhor direção.


Navega, pensamento,
não temas as calmarias.
Insiste em teu intento
mesmo que não haja vento,
ainda que na contramão do tempo.
Iça as velas do teu barco,
vive esse momento
peregrino bardo.

És livre, podes seguir em frente,
alcança o teu desejo,
tu, que podes navegar,
busca o teu ensejo,
realiza os sonhos
que eu sempre quis realizar...

Vai, adentra as brumas do oceano,
desvenda-lhe os mistérios,
arranca-lhe os panos,
envereda-te em seus encantos
reais e surreais,
constrói os teus castelos,
povoa-os de ideais
e volta para me buscar.


_Carmen Lúcia_

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Pássaro mutante

Pássaro mutante

Pássaro mutante
De quantos voos necessitas
pra extravasar teus trinados?
De quantas cores te camuflas
pra desmascarar camuflados?
Às vezes, suave passarinho,
na construção de seu ninho.
Esposa, filhos, lar...
Por outras, és sabiá,
entoas tristes gorjeios
trazendo saudades de lá...
Ou então, um beija-flor!
Planando... Não sais do lugar.
Voo rasante, apaixonante,
rodeias a flor pra lhe falar de amor!
Transmutas-te numa gaivota
quando queres reverenciar o mar.
Entre nuvens desapareces,
em altas ondas ressurges...
Voos coreográficos
em azuis celestiais.
E quando ronda o furacão
és o condor que reaparece
e das grandes montanhas desce
camuflando-se de negro tufão,
em defesa dos oprimidos,
no combate à corrupção.
_Carmen Lúcia_

domingo, 18 de agosto de 2013

Mais um dia

Mais um dia

Mais um dia


Hoje, mais um dia
dessa minha jornada
em busca de me sentir feliz.
Mais um dia ofertado,
enrolado no branco a ser esboçado
o que ainda não fiz...
O que me escapa das mãos
e traz a sensação do inacabado.

Sonhos que tenho sonhado
e à noite me têm assombrado 
acusando os que  não realizei.
Sentam-se à beira da cama,
projetam  em minh’alma 
o que ela reclama
quando o dia termina
e há muito por fazer.

O amigo que não abracei,
a flor que jamais cultivei,
o vizinho que fica ao meu lado
e  despercebido, nem é relembrado.
O certo mantido calado,
o errado bem alto, bradado,
e agora não têm mais razão de ser.
Certo ou errado? 
Quem pode julgar ou ser julgado?

A tristeza de minha poesia
que às vezes mantém o leitor afastado.
A alegria que meu eu contagia
e em meus versos nem sempre é exaltada.
As lágrimas que deixo rolar
sem a humildade de as compartilhar...
A primavera que em mim existia
e hoje já  não me encanta mais.
Quero com ela renascer...
Ser flor, ser cor ou simplesmente ser.

Hoje me é dado mais um dia...
Dia de ver os sonhos realizados.


_Carmen Lúcia_

sábado, 17 de agosto de 2013

Convivendo com a dor

Convivendo com a dor

Convivendo com a dor



Aprendi a conviver com a dor.
Encarei-a de frente, venci o terror.
Deixei que ficasse ao meu lado
e meio que acabrunhado
meu passo conseguiu se mover,
ainda que desconsertado.

Imprescindível parceira da vida,
presente na lida, nos versos, no amor,
ao mesmo tempo em que espezinha
a alma lapida e nos faz crescer,
embora sendo um fardo
pesado e doído de sobre-erguer.

Há dor nos mais belos poemas
surgidos do cerne que rasga o interior,
nascidos das chagas que não cicatrizam
se não vêm à baila e explodem com a dor.
E o grito que damos traz o eco que somos.

Aprendi a valorizar a vida,
os simples detalhes lhe aumentam o valor,
que a dor não pode ser desprezada
quando não aprendemos por amor;
 quem pela vida passa por passar
não conhece o direito sagrado de chorar.


_Carmen Lúcia_



Como uma águia

Como uma águia

Como uma águia



Dou-me a uma pausa.
A canção já não consegue encantar.
A música destoa na pauta.
É preciso parar e refletir,
repensar para seguir.
As palavras já não fluem certas.
Quebram-se, desconexas.
A razão se mostra emocional,
a beleza se funde com o trivial.

Os passos se confundem na trilha incerta
que já não comporta meus sonhos parcos,
despojos guardados num barco prestes a naufragar...
O saber me neutraliza. A ignorância é concisa.
Permite-me repousar.
Pequenas mortes fazem-me recuar
e poetizar tristezas 
choradas em meu acervo sentimental.

Meu voo é rasante, aquém do normal.
A vida não pode parar.
Feito águia, recolho-me ao ninho.
Entro em processo de renovação.
Desfaço-me das penas, dilaceração,
fardo pesado de lamentação,
das garras que se me fixam
detendo-me no mesmo lugar.
Esqueço o tempo, persevero e espero
o momento certo de continuar
e pra bem alto, voar.


_Carmen Lúcia_