quarta-feira, 10 de agosto de 2022

Eu?


 Eu?


Incógnita de mim.

Insolúvel teorema.

Solução e problema.

Simplicidade. Complexidade.

Mentira e verdade.

Imperfeição!


Eclipse solar. Lunar.

Total, parcial.Penumbral!

A busca da claridade.

Não e sim.

Começo, meio(aturdida), e fim.


Ilha perdida.

Arquipélago da vida.

Barco à vela. À deriva.

Onde ancorar?


Brilho do sol. Arrebol.

Crepúsculo e cores.

Primavera. Beija- flores.

Borboleta que sonda

a flor que não encontra.


Eu: nó, nós.

Coluna. Coliseu.

Amor.

Julieta e Romeu.

A cotovia de quem descreveu.

O canto.A dor. O pranto.

O riso.Acalanto.


Pergunto-me:

Onde me acho?

Em qual plano?

Oceano? 

Riacho?


Ou me engano?


Carmen Lúcia


Agosto/ 2022

terça-feira, 9 de agosto de 2022

O que fazer?


 O que fazer?


O que fazer

se o dom se vai

e numa feroz retranca

sentimentos se fecham,

coração se tranca,

castra o que se pode gerar.


Em revolta se volta, 

na conspiração consigo mesma,

-a inspiração-

ferramenta que alimenta

o sonhar.

Inativa, tende a enferrujar.

Se desfaz, não é capaz.


O que se tem à mão

é a vontade inabalável

de se pronunciar

e a palavra se encrua,

não permite se dar,

entalada na passagem de tantas 

que querem falar...

E mudar.


Diante da "anticatarse"

a alma se contorce,

o verso se distorce,

a rima se escorre,

o poeta morre.


Carmen Lúcia


(09/08/2022)

quarta-feira, 27 de julho de 2022

Fim de linha


 Fim de linha


O poço esgotou.

A água secou.

Agora tentar sobreviver.

Ar rarefeito.

Tudo foi feito.

Sugado.

Retirado daqui e de lá.

Não há expectativas.

Avanços tecnológicos não chegam até lá.

 Física quântica não repara as partículas.

Resta ansiedade do final da espera.

Nenhuma luz altera o que foi prescrito.

Palavras repetitivas desconstroem versos.

Nenhum juiz absolve se é lei da vida.

Conspira contra, o universo.

Apenas alguns paliativos,

curativos da alma

que teima em se enganar.

Pensa que é cedo.

Não tem medo.

Algumas belezas ainda encantam

sem o viço de antes.

Nascer e por do sol, giros do girassol, noites de luar, estrelas a brilhar...

Hoje têm o gosto do não mais.

Músicas estridentes, letras sem nexo, aberração...

Não tocam o coração.

 Visão holística não vê a vida como um todo.

 Sim como engodo.

Mas enquanto se vive, há esperança.

E nessa linha tênue que balança

está todo equilíbrio, segurança.

Única alternativa:


Deus, onde está?


Carmen Lúcia


(27/07/2022)

domingo, 24 de julho de 2022

E os sonhos?


 


Quer se ouvir...

Burburinhos fazem escarcéu,

ensurdecem.

O interior se omite,

não aparece.

A voz da consciência

não executa seu papel.

Amortece.


Talvez nada mais resta a ser dito.

Cala-se.

Esgotaram-se palavras, avisos,

opiniões,

pedidos.

Não há mais caminho.

Final de destino?


Para.

Ouve seu coração

 bater baixinho.

Ele que foi bússola,

agora precisa de direção...

Se nem a si escuta

como pedir orientação?

Arrisca um atalho,

não sabe onde vai dar...

precisa andar,

sair desse lugar.


Às cegas, encara o desafio.

Tateia o nada,

perde o chão,

a noção,

 desatina.


É seu próprio abismo.

Sua tempestade, seu sismo,

 tudo o que imagina...

Precisa se resgatar.


Vamos, acorda a voz da consciência!

Chacoalha e desperte seu interior!

Grite ao coração: Bate mais rápido! 

O caminho é longo, 

o tempo é curto.

Contorne o abismo e caminhe...

Lute! Insista! Persista!

E nenhuma tempestade 

impedirá 

um sonho  se realizar!


Carmen Lúcia


25/07/2022

segunda-feira, 11 de julho de 2022

Desculpas à vida


 



devo desculpas à vida

convivi pouco com ela

desperdicei oferendas

dei vazão às mazelas

deixei o tempo passar

"tanto céu...tanto mar..."

não vi as coisas mais belas

" vou voltar na primavera..." 


pisei caminhos desencontrados

e me encontraram perdida

deparei-me com o medo

de encarar a vida

retrocedi meu caminhar

e me dei como vencida


tracei vários enredos

sem vivê-los ou tentar

sonhei alto, fiz planos

não arrisquei voar


ausentei-me com as ausências

morri antes da morte chegar

me escondi na multidão, 

no escuro, sem barulho, sem razão


hoje me encontro com ela

cara a cara com a vida

quero dar-lhe um sentido

desculpar não ter vivido

 sussurrar em seu ouvido:

A vida é bela!


Carmen Lúcia


(11/07/2022)

quinta-feira, 7 de julho de 2022

Meus quereres


 Meus quereres


quero a paz da consciência tranquila

 o mundo em plena harmonia

quero o pecado após remissão

sem indulgência

só perdão

içar velas, deixar o ancoradouro

cruzar o oceano sem direção

quero o cântico suave

a me carregar

pra onde eu queira estar

da brisa sentir o ar

e respirar...e respirar

quero só um pouco do que era

quimeras...quimeras...

rever a flor da primavera

plantar gerânios na janela

matar a fome de bondade

buscar caminhos da verdade

ao me perder entre meus medos

quero uma noite de loucura

tropeçar em meio aos erros

retinir bravuras

descontrolar sentimentos

retidos há tanto tempo

 e agora vêm aflorar

viver o dom de curar afetos

e antes de tudo

descobrir o que é amar


quero...quero...quero...


Carmen Lúcia


(06/07/2022)




domingo, 5 de junho de 2022

Sem pensar


 Sem pensar


Cala-te, pensamento!

Necessito silêncio.

Uma pausa sem pensar.

-enquanto estrelas te provocam, a brilhar-

É o que pede o momento.

- e detalhes põem à tona o encantamento-


Mente, pensamento!

-cancela tua viagem ao firmamento-

Ignora as palavras!

-à medida em que seus significados fazem sonhar-


Quero o vazio!

- espaços clamam teu vagar, guardam teu lugar-

Repensar!

Apagar da memória o que dói.

-e compassadamente , em rimas e métricas, marca o papel-

O verso tóxico que destrói.


Porém não me ouves.

Me escolhes para teu propósito,

cercas-me com artimanhas,

me confrontas com o belo

-expondo a primavera e o sol a me chamar na janela-


E me rendo sem pensar

ao teu mundo paralelo.


Carmen Lúcia


junho/2022

terça-feira, 31 de maio de 2022

Casulo

 




Quero sair do casulo

-desenclausurar-

de crisálida à borboleta

-metamorfosear-


Antes larva aprisionada,

sem boca, olhos pra nada...

Hoje, cores acentuadas, 

anseio voar!


Voltear os jardins,

transparecer entre flores,

sentir que a primavera

entre ventos a soprar

manda recados pra mim:

"Vem sonhar"!


Dou-me asas, me liberto

do mundo trancafiado,

das vezes que morri

sem mesmo ter notado,

do mundo em que vivi

atrás daquela janela

do tempo que perdi

sem nunca perceber

que a vida é bela.


Carmen Lúcia

segunda-feira, 30 de maio de 2022

Sem título


 Sem título


O tempo para.

Não volta nem vai.

Não traz nem leva.

Comoção! Não há estação...


Agruras...o choro que rola.

Ansiedade, a síndrome do agora.

Saudades, aos cântaros.


Um alarmante "salve-se quem puder".

Clima pesado, agonizante.


Sem perguntas! 

Pra que respostas?

Cada um a tem pra si.

Sem trazer pra fora.


Liberdade controlada,

autonomia coersiva, reservada.


Por detrás de minha janela

os pássaros voam,

os girassóis giram,

um espetáculo traz a tarde,

a paisagem exorbita, grita,

ninguém toca nela.


A vida é bela

por ser inacabada,

pelo detalhe que não se alcança,

pela metade que falta.


O tempo não se atenta e para.

Avançamos?


Carmen Lúcia


_ 30/05/2022_

sexta-feira, 11 de março de 2022

Era...

 Hoje seria aniversário de minha mãe, se estivesse entre nós. Posto esse poema que me faz sentir conectada a ela e me calo. Ele fala por mim.


Era...


era toda sentimentos

os mais inusitados

lacrados perpetuados

emoção a toda prova

era o que era por dentro

e transbordava pra fora


passional (ir)racional

(im)parcial total...

verdadeira guerreira

e tantas eiras e beiras

de não se caber mais


-era ela e mais ninguém-


era dor, dissabor, amor também

alegria vestida

tristeza transvestida

versos que não existem mais

era isso e muito mais

o arrimo o ninho a cantiga de ninar

o caminho o destino

a manhā, o amanhã...

o sol o arrebol

o giro do girassol...


era...já não é mais

o que foi ficou prescrito

e isso jamais morreu:


errou

acertou

viveu!


Carmen Lúcia


(11/03/2022)

quarta-feira, 9 de março de 2022

Asas cortadas

 


Meu sangue latino

-brasileiríssimo-

tenta derrubar barreiras

percorrer todas as veias

sem desatrelar

( persistir e bombar)

coração descompassa

bate pra lá

trepida pra cá

arritmia rouba o ar

esquenta a verve

que não sai do lugar


aparo as asas

e num voo raso

tento alcançar

sonhos que sobrevoaram

( ontem bem quistos)

 hoje bizarros

se quedaram

um a um

entre dores, aflições,

vãos e nãos

sob as batidas de um 

coração

derrotado.


Carmen Lúcia


(27/02/2020)

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2022

Devaneios

 devaneios


o tempo

o contratempo

o ter que continuar


a brisa

o arrepio

o alívio

o descarregar


o ímpito

o frêmito

o desvio

o descarrilhar


o lugar

o infinito

o não poder chegar


o vazio

o incontido

o grito a estalar o ar


a dor

o retrovisor

a vida ficando pra trás


o regresso

o retrospecto

o não querer voltar


a chance

a revanche

o desejo de recomeçar


Carmen Lúcia


11/02/2022