terça-feira, 22 de dezembro de 2015

O que é Natal?



O que é Natal?

No ar prenúncio de Natal...
Data máxima da cristandade.
Jesus virá ao mundo para nos salvar,
Espírito Santo a se materializar.

De Maria o sim concedido para o gerar,
em seu ventre o filho de Deus acalentará
sem pecar, em sua casta humildade,
ato sublime e decisivo para a humanidade.

É preciso celebrar, a data cristã relembrar,
não deixar que tal abnegação se perca
ao buscá-la na cruz em que Jesus morreu.
É preciso resgatar o tempo e tentar mudá-lo
ao realizarmos essa mudança em nós.

Despojarmo-nos do egoísmo que impera,
da arrogância descabida que revela
uma sociedade competitiva a visar ganhos,
abandonando os que vivem em abandono
implorando uma migalha de amor, de atenção, de pão...

Até que esmoreçam e troquem as correntes...
as que deveriam ser de amor, por tristes algemas,
calando para sempre qualquer sentimento nobre
que poderia ter raízes e crescer no coração do pobre.

Enfim, mais um natal desponta.É dezembro!
Nunca é tarde, sempre é tempo.
A esperança baila, mas não vai embora.
Quem sabe vejamos melhor agora.

Ainda é hora de se plantar o amor,
de cultivar a semente,
perpetuar seu significado,
de auxiliar a estancar a dor,
perdoar e ser perdoado.
Esse é o Natal que Jesus almejou.

_Carmen Lúcia _

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Juntando versos






Hoje  acordo mais leve
sem o fardo do mau pressentimento
causado por antigos vendavais…
Olho a luz do dia
e a melodia improvisada pela sintonia
-alma e coração-
leva-me a dançar em sentimentos,
salpicando o chão de emoções,
bailarina a esbanjar talento
em suas fases de condoídas vibrações.

Entrego-me ao abraço do momento
sentindo o afago do encantamento.
Junto  versos avulsos e perplexos
de desgastadas poesias
a decantar saudade e agonia…
Quero renovar-lhes a fantasia
-que já pende à realidade-
esquálida, entorpecida,
cedendo a tal fatalidade.

Mas pela fresta do anoitecer
perdem-se palavras e significados,
a luz se vai com o entardecer…
Sinto o peso do escuro
e meu coração, medo do futuro.

_Carmen Lúcia_


quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Hoje




Junto os dias felizes,
ainda que recorrendo ao passado,
às cores dos campos matizados,
relva que hoje acolhe meus pés
amaciando a caminhada.

Faço e desfaço o que bem quiser.
Brinco de criança, sou esperança
do bom tempo que fizer.
 Entrego-me a  besteiras
sem me preocupar
com o que der e vier.

Deixo o amanhã para depois…
Que me espere  na última curva
de uma estrada turva
marcada por atropelamentos,
derrapadas de quem às pressas
quis chegar ao topo da jornada.


Busco o sonho guardado
numa esquina qualquer do tempo…
Com um sopro o faço reviver
após anos  de cárcere privado
e agora vem me surpreender
realizando o desejo mais esperado.


Traz o hoje, presente embalado
pela essência do inesperado
 certeza do que se pode viver
descartando desperdícios
 de instantes fracionados e contados,
mofados pelo ócio de se perder,
apostando no amanhã
que pode não acontecer.


_Carmen Lúcia_


domingo, 22 de novembro de 2015

Clarão





Quando o sol já não me brilhava
e o dia se fez noite em mim
surgiu você feito um clarão,
levou  minha solidão,
companheira da rotina
de não ter nada a fazer…
Mudou a minha sina,
reativou meu coração,
fez barulho por querer,
reacendeu  a velha chama
da alma semiapagada,
do sonho pós-esquecido,
do padrão pre-estabelecido,
 de um mundo vivido à parte
de tudo o que invade,
faz festa e inquieta
e hoje vira saudade…
Do silêncio que persuade,
cala e consente
a vida desligada
vivida do nada.

Quero viver o seu sorriso,
esquecer aquele aviso
"Proibido deixar viver."
Aquecer-me a sua chama,
ouvir o que minh’alma clama
o que a vida reservou pra mim.



(Carmen Lúcia)






quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Rumo à loucura




Quero um dia de loucura
leve, sem amargura,
ilógico, com brandura,
parar com a procura
de achar onde não tem…

Quero fazer a razão
ficar sem entender,
perder toda a noção,
enlouquecer também.

Não dar mais palpite
na vida de ninguém,
deixar correr solto
o que faz tão bem.
Não mais comandar
desejos de alguém
mudar o rumo do sonho
de ir sempre  além…

Apenas um dia…
 sentindo a liberdade
vivendo a alegria
correndo a rédeas soltas
crendo na fantasia.


Um dia de emoção,
somente…
Um dia de ilusão,
dormente…
Deixar o coração
pensar que sou feliz
pulsar suas batidas
ouvir o que me diz.


_Carmen Lúcia_




Passou...








Passou feito canção
sem deixar rastros ou marcas
só o som de melodia
da mais doce sinfonia.
Passou feito um sussurro
um murmúrio de riacho
calmo,carregando a lua
refletida em seus braços.
Passou feito uma brisa
leve carícia em meu corpo,
suave, soprou meus cabelos
secou o suor de meu rosto.
Passou feito o raiozinho,
último do sol poente,
que aquece de mansinho
deixando a alma contente.
Passou feito uma pluma
tocada pelo vento
rodopiou com leveza
tendo que ir, não querendo.
Passou deixando poeira,
trilha de estrela cadente,
traçando no espaço uma esteira,
espetáculo comovente.
Passou deixando poesia,
paz, lirismo, fantasia,
sem pressentir que passava
falou-se em harmonia.
Passou deixando no ar
perfume de pura essência,
quem o sentiu reviveu
o tempo da inocência.
Passou percorrendo o mundo,
pedindo socorro e guarida,
muitos não viram que era
o Amor, simbologia da vida!


_Carmen Lúcia_

terça-feira, 17 de novembro de 2015

O que já se foi





Nuvens pesadas escondem o sol.
A primavera recolhe as flores
 apáticas  combinando desbotar
por não sentirem  afago da luz solar.

Ei-la que surge nesse cenário apagado.
Um vestido roto oculta o corpo minguado,
o perfil desfigurado, sua fragilidade.
Menos a alma inquieta maior que ela.
Menos os sentimentos a aflorar na pele.
E a emoção, registro de sua sensibilidade.

Perdida no tempo, encontra-se nas lembranças,
prende-se na saudade.
Refugia-se na solidão dos lugares que desconhece.
Vara a noite e a madrugada. Amanhece.
Quer ir, sem saber onde, vagar sem horizonte.
Reencontrar-se com o passado, talvez…
Chegar onde não mais podia, desta vez.

Mistura lágrimas das nuvens e dos olhos.
Gotas que aplacam marcas do corpo, do chão,
atenuando  as que marcaram o coração.
 Pede ao tempo, restauração,
devolução do que lhe tirou das mãos.
Passado é implacável.Clama em vão.


Resta pedir ao futuro o resgate
do sorriso roubado, da felicidade,
mas não quer abandonar o passado.
Alimenta-se de ausências, cultiva-as.
É o que preenche seu vazio,seu espaço.
Ausências que aliviam suas dores
regadas feito flores em qualquer jardim.


_Carmen Lúcia_




sábado, 14 de novembro de 2015

O poeta chora...




E o poeta chorou…
Chorou pelo que podia ser
e não foi…
Por tudo que cultivou
e não deu…
Pela flor que poetizou
e morreu.
Chorou pela insensatez,
pela aridez que se assolou,
pela pequenez que se inflou,
combalido mais uma vez
por ter perdido o sentido
tudo aquilo que fez…
Pela “esperança equilibrista”,
pelo fim do show do artista,
pela crueza fria que se estabeleceu,
pela paz que o mundo, um dia,
creu.
Chorou convulsivamente
de uma só vez…
Como uma criança
que sem nada entender
precisa, de repente, crescer,
castigada pelo que não fez,
esquecer a bala que a amargou,
encarar o mundo mau que hoje se instalou.
E o poeta chora…
Fora vencido nessa hora.
Chora por mim, por você,
pelo que sonhou…
As lágrimas são palavras
que não quer dizer
agora.


_Carmen Lúcia_

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Medos e verdades




Aparta-se dos sonhos.
Acomoda-se na angústia de ser quem não é.
Deixa que a fragilidade se expanda como quiser.
Não sabe como torná-los palpáveis.
O medo de parecer diferente,
destoar-se perante toda a gente
vivendo a mesmice peculiar do lugar
ganha a frente, imponente.
Entrega-se ao pleonasmo repetitivo de dias iguais.
Desiste dos sonhos.Sonhar jamais!
Tranca-os numa gaveta de medos.
Seus sonhos, seus segredos, seus enredos.
Há tanto dentro dela…
Palavras que jamais foram ouvidas
ditas no silêncio que gritava,
ao vento que passava
e parava para escutar…
Ao tempo que em veloz andança
abraçava a marcha lenta
dando tempo ao tempo
na esperança de mudança
da utopia em realidade.
Talvez um dia a gaveta se abra
(e venha à tona a verdade)
pelo acúmulo de sonhos guardados,
sufocando os medos,
revelando segredos
e os caminhos se esparjam
dando passagem aos enredos.


(Carmen Lúcia)

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Sonhar sempre




Quando tudo termina
ainda há como recomeçar.
Recolhe-se os sonhos
amontoados num lugar,
sopra-lhes as fuligens,
um sopro de vida para os reanimar,
aguça-lhes as asas,
apara as arestas
para os fortificar…
Agarra-se à esperança
(ela está ali a esperar)
ainda que o desânimo
peça-lhe que se vá…

Ensaia mais um voo
com o cuidado de não se estatelar.
( Tantas vezes se esqueceu de acordar.)
Fia-se nas rezas, em seu escapulário,
seu mantra, seu sacrário,
seu rosário de contas desgastadas,
na chama acesa da vela ao seu lado.
Volta a acreditar…
Não sonhar é morrer
e ainda há tanto pra viver…
Viver o que a alma apela,
o que a alivia, o que é poesia.
Abra portas e janelas.
Tira as tramelas…
Deixa o futuro entrar.


(Carmen Lúcia)

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Louca, eu?





Nasce o pensamento num repente…
Floresce em proporções tamanhas, irreverente.
Vagueia pela trilogia: alma, coração e mente.
Estranha mente! Lucidez insana.

Transborda pelo vazio do corpo,
escorre em qualquer direção,
inquietação em desvario,
palavras que não sabem se aquietar,
querem parar pra se anunciar,
perdidas, sem quem as oriente.
Quase amargura…Deprimente.
Mistura de lucidez com loucura.
Percorro caminhos até elas,
encho-as de significados…
Abro todas as janelas
e num só apanhado
coloco-as nos versos que traço,
pedaços de minha emoção.
Estranhice? Aberração?
Alguém não entendeu…
Ou não se perdeu na inspiração.


_Carmen Lúcia_

quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Falhas irreparáveis




Faltou dar significado à vida.
Viver o instante antes da partida,
trancar a porta aos sentimentos precários,
desnecessários para um transcorrer palpável.
Renascer a cada dia de esperança e alegria.
Faltou o recomeço, o afã de reinventar
motivos para comemorar
as artimanhas da sedução,
o fetiche da paixão. Exorbitação.
Faltou alimentar os sonhos…
Enfraquecidos morreram sem desabrochar,
como um rio que nunca chega ao mar.
Faltou caminho, chão aos nossos passos,
espaço para cultivar o bem que seria
as almas em união, corpos em comunhão,
destino a nos conduzir ao nosso lugar.
Faltou poesia.Versos se trombaram à revelia
sem sequer um gesto de amor.
Sem o encantamento da magia.
Faltou fidelidade à essência,
matéria-prima da existência.
Encarar o fracasso como reticências…
Faltou a demora na escolha das linhas
e das cores na trama dos teares
construindo o artesanato do amor
na delonga que exige o tempo,
seja lá quanto tempo for.
(Amor não se constrói da noite para o dia.)
Faltou futuro para tanta ousadia,
faltou bravura a desenhar o futuro,
faltou firmeza do ancoradouro seguro.
Faltou confiarmos em nós mesmos.
Abraçarmos o que nos convinha.
Contermos os desatinos.
E sucumbimos.
_Carmen Lúcia_

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Desafio







Encara de frente o desafio…
Nem noite escura, nem solidão, nem frio.
Nada que a acovarde a prosseguir,
andar pelo caminho que escolheu,
devolver-lhe a liberdade que perdeu,
 seguir de cabeça erguida na vida
com a leve sensação de que venceu.

Despreza a fragilidade costumeira.
Desconhece-se. Jamais ousara assim…
Engole palavras rotineiras,
(agora clichês) ninguém as ouve
 ou não as quer ouvir.
Ecos vagos levando de si
a força de expressão enfraquecida,
amordaçada pela submissão,
 desmotivada pelo não ser.

Hoje marca o  recomeço…
Na mente traz o endereço
do que quer, do que espera, do que planeja.
Na bagagem, o aprendizado
que a duras penas ganhou do passado,
o que basta para um sonho realizado
após tantos poréns, talvezes e nãos.
 Afronta, sem medo, os reveses,
coloca seus pés onde os leva a emoção,
onde palavras ecoam o que realmente é,
significados a delinear uma nova mulher.


Carmen Lúcia



quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Quem sou?



Já não sei quem sou,
onde estou,
pra que lado vou…
Me perdi na valsa da vida
sem  chance de me achar,
sem contrapartida pra me engabelar,
nada que me incentivasse a luta,
ousar a disputa, perder ou ganhar.
Descompassei ao querer girar,
cambaleei por todos os cantos
sem ter onde me aprumar.
Ceguei-me à ilusão de encantos,
quis parar…
Valsei a contradança sem par,
sem aliança imbuída de cumplicidade
na realização de sonhos,
e poder, um dia, com eles voar…
 Sonhos que me vestiram para me reencontrar.
Fugiram-me motivos, sorrisos, entusiasmo.
Secaram-me lágrimas, sinais de emoção.
Não mais encontro condução
a me possibilitar continuar.

Abraço a poesia.
Ela me reverencia,
 me acompanha noite e dia.
Com ela choro e rio.
Em segredo, desabafo.
Agravo e desagravo.
Nela eu confio.


_Carmen Lúcia_




terça-feira, 20 de outubro de 2015

Rituais para um sonho





Enquanto meu sonho dorme
busco a canção que o seu sono acolhe,
ensaio a dança mais bonita,
coreografias de brilhos, tules e fitas,
passos leves, pontas e giros,
voos rasantes, etéreos, delirantes,
cores pintadas de magia,
luzes que nunca se apagam
de uma aurora que veio para ficar.
Silencio e deixo a música soar…
Danço no silêncio que embala,
num ritual, de gestos, que fala
versos que vêm para agregar,
murmurar a poesia sem bradar,
sussurrando para não acordar
o sonho que ainda imaturo
não deve se concretizar.
Quando chegar o momento
quero meu sonho isento
de tudo que me faz chorar…
realizado plenamente,
gerado na essência de meu ventre,
nascido para me realizar
e de mãos dadas comigo
versejar, cantar, dançar…


_Carmen Lúcia_

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Caminhos e sonhos









Os caminhos estão abertos…
Um tanto que desertos,
talvez pela escassez de sentimentos
ou pela fartura de almas em desalento.
Basta escolher o que melhor aprouver,
 o mais estreito, o mais perto, o mais certo,
onde os pés não tropecem
e transitem a favor do vento
sem pisarem a paisagem do lugar
num tempo lento, pois pressa já não há.
 Sem se declinar em algum momento,
deixar-se levar pela brisa a passar
num voo rasante, volante,
de carona nas asas de uma borboleta
permeando cores, flores, vida, amores…
Horas morosas vertidas em ampulheta.

Caminhos que levam a conferir
onde se aportaram os sonhos,
os mais lindos, os mais ousados,
os mais inusitados ou tristonhos…
Em que desvio a luz não brilhou,
em que instante deixei de sonhar
e alguns se mofaram sem se vingar,
sem sequer a chance de recomeçar.
Em quais cantos repousam os encantos
que me fizeram sorrir, viver, descrever
o que a alma transborda em prazer.
 Agora clamam por voltar
e eu perdi o rumo, as asas pra voar.
Abraço o desencanto,
tranco os caminhos.
Posto-me num canto.



(Carmen Lúcia)




sábado, 5 de setembro de 2015

Lá fora




Senta-se à beira da janela.
Lá fora o imprevisível a espera…
O olhar se perde no belo que se abre
recolhendo as cores da tarde, que se fecha.
Vê o sol dar seus últimos suspiros.
Algumas estrelas brilham em silêncio
na noite que chega e toma espaço
respeitando a lacuna da lua que não veio
 tornando a noite mais escura.

Fica inerte e nas paredes frias do quarto
reverte seus impenetráveis recatos
em desejo de se lançar na escuridão
sem os badulaques de contra-mão
à procura de um sol que acalente
o inverno de seu coração.
De partir sem saber para onde
em busca que a livre a alquimia
 das infinitudes do mundo,
 retalhos costurados, sobras do dia,
restos de dor dissipados, nenhuma fantasia.

 Deixa a janela que nada mais lhe revela
a não ser o escuro da noite sem lua
e cintilações de estrelas ,
meras ilusões do passado.
Decidida, parte em busca da vida.
Não olha pra trás, se desfaz dos recatos,
tentáculos querendo lhe agarrar
e antes que o sol renasça, de repente,
quer estar o mais ausente,
no longe que seus pés possam alcançar,
a observar,  do poente,
a  vida como se vive
na graça de ser livre.



Carmen Lúcia

terça-feira, 1 de setembro de 2015

Setembro





Enquanto o homem se perde
em vaidade descabida,
na ambição que exorbita 
a desonestidade convicta
a galopar entre nós,
ultrapassando medidas,
regras, arrebentando os nós,
a natureza silenciosa e implícita
move-se debaixo da terra,
conspira a favor, sem trégua,
sem dar espaço pra guerra,
em harmoniosa sintonia,
cumplicidade virtuosa,
terra, semente, amor…
Cuida de seu interior,
da riqueza ainda embrião…
Nenhuma fadiga, muito labor,
esbanja sabedoria
em sua arte-magia,
sublime dedicação.
O bem vem nos ofertar
sem nada pedir em troca,
somente preservação
na singeleza que toca
e que o homem não vê,
não sente, não crê.
O verde começa a surgir...
A esperança a renascer!
Um galho desponta,
algumas folhas prontas
embrulham um lindo botão.
Desabrocha uma rosa…
Amarela!
Prenúncio de Primavera.
Prepare o seu coração…


Carmen Lúcia

segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Viver sem sonhar



Deixa de lado o coração,
motivos que desencadeiam emoção
com o propósito de não vacilar,
não cair em novas emboscadas
e decidida resolve mudar.
Faz da razão seu itinerário,
bússola que conduz à vida abrupta.
Do rude, seu escapulário,
gládio a proteger o desamor.
Não esmorece, não reverbera,
não se debruça ante a dor mais severa.
Lágrimas não mais salgam seu rosto.
O sal arde e aumenta a ferida,
acalma a alma mas descobre o desgosto
de quem quer encobrir o que sensibiliza.
Fecha-se no invólucro a que se submete,
dopa os sonhos que não querem agonizar.
Suporta.Não fantasiar é o que importa.
Sonhos já não condizem com seus planos
isentos de qualquer desengano.
Não vai muito longe…
Finge crer no que a razão esconde…
Coração em abandono para de pulsar,
razão sem coração não sabe raciocinar.
Melhor voltar atrás…
Viver sem sonhar é retroceder
até morrer.

Carmen Lúcia

sábado, 29 de agosto de 2015

Liberdade tardia




Quantas vezes perdoei...
Mais que setenta vezes sete.
Quem sabe a alma se abastece
e nunca mais venha a sofrer.
Dei minha cara à tapa
sem sequer contradizer
as vontades que preponderaram
e por longo tempo vi prevalecer.
Calei minha boca em consentimento
mesmo com um não na ponta da língua
a explodir a qualquer momento
podendo até reverter minha vida
alterando o argumento.
A covardia e o medo se infiltraram em meu peito
e mais uma vez o não se calou, rejeito.
Mantive o disfarce colado a minha face
e a irrealidade projetando o que não era,
o que não quisera, o que não condissera com a verdade.
Oportunidade perdida não volta atrás.
Mas o tempo é borracha. Apaga e volta a escrever.
Reinventa enredos. As emoções já vividas
deixam o palco e num canto qualquer, vão morrer .
O perdão não tem mais razão de ser.
A história em questão muda o contexto,
os capítulos se compactam, pedem fim,
a mágoa até então guardada, jaz isenta desse texto.
A liberdade concedida passa bem longe de mim.
Feito um pássaro cativo diante da gaiola aberta
sem saber o que fazer, sem ter para onde ir.
Alça um voo rasante, itinerante sem destino.
Retrocede ante a dubiedade dos caminhos...
Tem nas mãos o livre arbítrio,
mas não no cerne o desejo que impele.
A liberdade interior que o libere.

_Carmen Lúcia_.

sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Expectativas





 Minhas expectativas tantas
superam as possibilidades
(decisiva força tamanha)
de quererem ir adiante.
Morrem no meio da praia,
sequer beijam o mar,
alçam  voo sem voar,
esbarram em sôfrego impulso,
rastejam,  trôpego recurso,
voltam pro mesmo lugar.
E há tanto pra andar!

Minha  vontade de seguir adiante,
 peregrina e radiante,
segue só, dia e noite,
incansável, sem limite
onde o corpo não permite
mas a alma  acompanha…
Sangra meu peito arfante,
fere o ser cambaleante
impedindo-o de ir…
E há tanto pra seguir!

Meus sonhos vagueiam estradas
onde trafegam sorrisos,
palavras e significados,
onde meus dias concisos
pedem pro tempo esperar,
onde meus passos erram
ao tropeçarem nos trilhos
ou a cancela fechar…
deixando muito por acabar.
Onde chegar é preciso
e o sonho pede pra se realizar.
E ainda há tanto pra sonhar!


_Carmen Lúcia_



domingo, 23 de agosto de 2015

Sem rumo

Oh, Deus! Será que enlouqueci?
Transgredi os limites da razão,
Fui além dos sonhos, das medidas da emoção,
E em meio a desequilíbrios e turbilhões
Nem sei quem sou, onde estou, pra onde vou...
Vesti e desvesti inúmeras fantasias.
Transvesti-me de sábia e aprendiz.
Na louca vida de encenação e ostentação,
Querendo ser eu mesma, fui atriz,
Onde ser verdadeira é mera ilusão.
Busquei no túnel escuro a flor do dia,
Para espantar meus medos, fiz poesia.
Subi ao pódio, sem ter vencido a luta,
Tentei me enganar e contornar os fatos,
Fui santa, fui puta...no decorrer dos atos.
Levanto o pano vermelho, me olho no espelho:
Frinéia ou Messalina, Pompadour ou Marie...?
E tenho a sensação de que nunca me vi
Desconheço-me...Silêncio contemplativo...
E permaneço no gerúndio, perdendo-me no infinitivo.
Enfim, a quem recorrer, senão a Ti?
Quando tudo esmorece ainda resta a prece
E a esperança de um dia Te ouvir.
Santa, puta, demente ou carente...
A verdadeira alma a Ti eu esculpi!

Carmen Lúcia/SP

terça-feira, 18 de agosto de 2015

Pra que palavras?






Pra que palavras
faladas ou registradas,
guardadas no pensamento,
se deturpam-lhes o significado
matam-lhes a essência
calam-nas na escalada
ensurdecidos ante a carência
de serem bem interpretadas
se em tempo algum serão escutadas?
Pra que palavras
se elas voltam sempre
cabisbaixas, indiferentes
ou nunca retornam
levadas pela contundente ilusão
de uma palavra com lábia
e nem são interpretadas
do jeito que as descreve o coração?
Pra que palavras
se quase todas já foram usadas
em sonhos decadentes
paixões desenfreadas
amores já descrentes
em mundos inconvincentes
e viram estátuas
sem anunciarem o que sentem?
Pra que palavras
se quando delas preciso
se ausentam num espaço conciso
deixando-me só, eu e eu,
num cerco onde me confino
com o vazio de se estar só
a confabular comigo mesmo
o desencantamento
de cada palavra que se perdeu.
Prefiro o silêncio que ainda é meu...
_Carmen Lúcia_

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Sem rumo






Não sei se prossigo ou fico,
o que me espera em outra esfera,
não sei explicar o que sinto,
o que quero e espero.
O espaço aqui se estreita,
não capta o que meu coração revela.
Se algum sentimento me resta
ou alguma palavra se presta
a me servir de lenitivo,
ensinar-me outro rumo
sem o amargor do absinto.
Meu pensamento se esparge
sem ter mais onde ancorar,
na primeira muralha bate
como barco sem rumo,
perdido, só quer voltar.
Giro com o mundo veloz
na vagareza de meus passos
e meu descompasso, cruel algoz,
aponta a todo instante o que não faço
sob as cores de um sol radiante
gerando matizes num campo brilhante
que minh’alma ultrapassa e não vê
e minha sensibilidade não mais alcança.
_Carmen Lúcia_

quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Meu pai




Meu pai


Quero você comigo
de novo, meu abrigo,
a me apontar caminhos
que perco a toda hora
sem chegar nem ir embora…

Quero você comigo
a refletir, amigo,
o que fazer agora
no decorrer das horas
do tempo que ainda resta
sem ter você aqui…

Quero você comigo…
Deitar minha cabeça
em seu ombro amigo…
Falar de minha vida,
dos sonhos que ainda restam
e  um dia comigo sonhou…
Pedir nova guarida,
pensar que o tempo não passou…

Quero sua presença
repleta de querência,
 presa na lembrança,
trancada em minha memória,
renascida em suas histórias
a me livrar dos medos,
a me pegar no colo
até cessar meu choro
como fazia outrora.

Quero você aqui comigo
para lhe dar um presente
desses que a alma consente 
e o coração persuade
no ensejo de ser verdade…
Porém, “o que tenho pra hoje
é Saudade.”

(Carmen Lúcia)





domingo, 26 de julho de 2015

Sobre palcos e bastidores





Faço-me sombra e percorro bastidores…
Ouço risos calados, vejo desnudarem-se dores,
o cansaço vir à tona e a verdadeira alma
em frangalhos, mostrar-se
 onde a plateia não alcança.

O som alucinante dos aplausos
ensurdece a alegria que no palco se disfarça
e mesmo tendo portas e cortinas cerradas
perpassa o regaço do artista…
…e o desaba.

Faço-me luz e percorro onde ela não chega,
me prostro diante da essência adormecida
e a aparência guarnecida vive mais um ato,
mais um capítulo de um ciclo, encerrado.

No palco, com relevância, brilha a arte.
Dança,borda, canta, pinta, transborda…
Abre o portal das emoções e invade,
faz-se forte, alicerce que comporte
e atire o artista a sua sorte.


_Carmen Lúcia_


quinta-feira, 23 de julho de 2015

Migração




















Observo as aves migrarem…
Não combinam caminhos.
 Deixam seus ninhos
seguindo o mesmo destino
sem se dispersarem…
Perseguem o mesmo sonho?
Sabem a hora certa de partir,
mudar, viajar, buscar.
Procuram novos rumos
sem desistir nem se aventurar,
já que confiam num porto seguro.

Um voo harmonioso as leva
em leve e total abandono
à meta de um fadário risonho,
aos braços de um futuro qualquer,
de um tempo não fracionado,
espaço que bem lhes aprouver,
viagem atemporal pelo céu.

Em nuvens brancas bordam a paz,
 deixam no ar a plenitude da calma
e a mais inusitada lição de vida
a se expandir com o vento
sem nenhum confronto
 doce encontro em perfeita calmaria,
a simplicidade de saber viver
em sintonia e gorjeios
num festival de alegria.

Pontinhos minúsculos pintam o céu.
Os alaridos dão sinal de fim de festa
ao se abrandarem na curva final.
Distanciam-se… obstinada decisão
de buscar outro clima, provisão,
construir novos ninhos, procriação,
sem temer  que se escasseiem os celeiros,
sem medo de ladrões aventureiros…

Um dia voltarão…ou não!
Outras aves migrarão por esse céu.
Se o homem não manchar o painel.






_Carmen Lúcia_






domingo, 19 de julho de 2015

Alegria triste






A alegria voltou.
Andara tão distante…
Nem sei por onde trilhou
sua presença exultante.
Partiu sem deixar aviso,
quis conhecer outros risos,
eternizar sua existência,
contagiar sua intensidade
entre os que vivem de aparência.
Alcançar, quem sabe, o paraíso
e onipotente, ser exclusividade
dos que são alegres, somente.

Meio tímida se aproximou…
Sorriso trêmulo, embargado,
um tanto envergonhado,
frágil em seu torpor…
Não era a mesma alegria,
trazia vestígios de dor.
O mundo sonhado não havia vingado.
Em contraste com seu júbilo
plantou-lhe desilusão
e seu riso escancarado
de pura alegria, gerado,
sem conseguir seu intento,
 chorou.



_Carmen Lúcia_






segunda-feira, 6 de julho de 2015

Tudo muda...





Um dia tudo muda…
A trama, o quadro, o enredo, o ator.
A vida contracena com a dor,
ainda que o intérprete seja o Amor.
Quem diz ser feliz se ludibria,
 contradiz a fatalidade, se silencia…
Felicidade é bem passageiro,
vem, rodopia, invade e  se vai.
É flor arrancada do canteiro,
 longe de seu meio se esvai.

Um dia tudo muda…
 Bastidores  revelam o lado real.
O fantástico se torna banal,
os valores se desgastam
e os que restam, agarra-se no ar…
A ciranda  perde o encanto
 não canta, não anda, não quer mais girar.

Os sonhos já não têm mais cabimento,
não se encaixam no exato momento
em que é preciso o toque surreal…
Permeiam esquinas, mendigam dó,
tornam-se lacunas de quem vive só,
fantasmas esvaídos  de um sonho mau.


Um dia…(e esse dia chega)
O céu escurece,
o sol não aquece,
o verso entristece,
o universo não quer conspirar…
 palavras ficam escassas,
a poesia se cala,
o poeta se vai…



_Carmen Lúcia_





terça-feira, 30 de junho de 2015

Tempo perdido



Tempo perdido


Que vou fazer das horas
se elas passam e aqui fico
a escrever o que vivi, o que vivo
me esquecendo de realmente viver
e com as horas ir embora
em busca do que possa acontecer.

Deixar de só sonhar, de querer ficar
guardando o melhor para depois
e o depois é sonho que pode não vir,
é a consequência de não partir,
é mundo vago, mistério não revelado,
mania que as pessoas têm
de deixar para o amanhã
 o que hoje lhes convém,
a vida passeando distraída
apitando a alegria feito  trem
da partida ou que ainda vem
aportando  emoções abarrotadas
em cada estação, em cada jornada.

E no vaivém das horas eu fico…
 Con(verso), escrevo meu sonho retido,
estrofes revelam o que  reza minh’alma
e no esconderijo da noite que acalma
penso nos sonhos em abandono,
folhas que se perderam  no outono
sem possibilidades de retorno,
sem alcançar o tempo a deslizar,
pois tempo não para pra sonhar.


_Carmen Lúcia_



domingo, 21 de junho de 2015

Onde mora o poeta?



 São muitas as moradas
que acompanham suas jornadas...
Onde a inspiração reside
onde a alma se divide…
Mora além de seus limites
onde o  voo assim permite.
Nas ruínas de escombros
ou  num palácio de sonhos,
num cantinho lá no céu
ou num quarto de bordel.
No copo cheio de cachaça,
na última gota de prata.
Num sorriso puro e lindo,
na passagem do sujo pro limpo.
Também debaixo da lua
em qualquer calçada da rua…
No amor que nunca passa,
na paixão que causa desgraça.
Na obsessão de um desejo,
na ternura de um beijo…
Mora na felicidade
que causa tanta saudade.
Mora na guerra e na paz,
na alma que se refaz...
No ocaso,  no alvorecer,  no arrebol,
na borboleta que pousa no caracol.
No pivete com arma na mão
a olhar o  brinquedo  no balcão.
No povo que vem lá do norte
e brinca com a própria sorte.
Mora na encenação,  nos palcos da vida,
na realidade, na sociedade iludida…
Mora nesse  universo,
nas trovas em prosa ou verso,
em toda a parte do mundo,
no abismo mais profundo.
Mora ali, lá, acolá,
na esperança sem fim,
na lágrima que vai rolar
 mora aqui dentro de mim.


(Carmen Lúcia)
Como em tudo há poesia aos olhos do poeta, ele mora em toda a parte...até nos confins do mundo!

sábado, 20 de junho de 2015

Cara e coroa



Sou a mais viva cor do arrebol,
Também a nuvem negra que encobre o sol.
Sou um gesto nobre de carinho,
Também o frio incesto de seu ninho.
Sou a calma de um mar tranqüilo,
Também sou um furacão bravio.
Sou outono e vento que vêm desfolhar,
Também a primavera e o frescor a aflorar.
Sou a branca paz que pacifica,
Também o arsenal que mortifica.
Sou a moça pura,acervo de poesias,
Também a prostituta das noites vadias.
Sou a bênção que a alma refaz,
Também a maldição de ancestrais.
Sou a seca do sertão agreste,
Também a chuva fina que umedece.
Sou luz, sou chama, sou clarão...
Também sou trevas,sombras e escuridão.
Sou tudo isso que me mostra,
Cara e coroa...
Quem aposta?


Carmen Lúcia