terça-feira, 28 de junho de 2016

Amor transcendental




Te amei...
mais do que a mim mesma
 
Te amei...
acima de todos os credos e conceitos
 
Te amei...
ao transcender o topo da supremacia
 
Te amei...
amor incondicional, sem princípio nem final
 
Te amei...
sem preconceitos, normas ou direitos
 
Te amei...
com toda a sabedoria do universo
 
Te amei...
com a insanidade lúcida dos amantes
 
Te amei...
ao encontrar-te nos meus versos
 
Te amei...
como o poeta ama a poesia
 
Te amei...
vislumbrando a primavera em cada estação
 
Te amei...
fiz de ti meu pergaminho e religião
 
Te amei...
nos avessos dos defeitos onde repousa a essência
 
Te amei...
a cada nascer e pôr do sol
 
Te amei...
vivendo os vendavais, esperando o arrebol
 
Te amei...
no silêncio de tuas respostas
 
Te amei...
na realidade transitória que perpetua nossa história
 
Te amei...
nas lágrimas vertidas que a alma revigora
 
Te amei...
durante todo o sofrimento sofrido
 
Te amei...
quando te achei ao te achares perdido
 
Te amei...
e te amarei para sempre...
muito além do que for permitido...
_Carmen Lúcia_

sábado, 25 de junho de 2016

De ti, a poesia




Procuro, em vão, não relembrar tua partida,
inevitável que ela acontecesse um dia,
nada é pra sempre, tudo muda, se transforma...
a cada tempo uma desilusão aflora,
assim é a vida, nem ao amor perdoa.
E vou vivendo cada momento que ecoa...
Tua lembrança é saudade que alucina,
mas faz nascer a poesia e a esperança
de renascer cada manhã de todo dia
e recolher a tua luz para meus versos...
E então me perco na emoção de estar contigo
e me revejo retratada em teus olhos...
No aconchego de teus braços me imagino,
e a fantasia me extasia com teus beijos.
Na poesia mais sentida és minha rima...
Em meu bailado, a expressão de minha alma,
toda canção de amor te traz para o meu lado,
vivo contigo a inspiração que me acalma.

(Carmen Lúcia)

Algo nesse mundo




Talvez algo neste mundo...
não sei o que exatamente,
se do poço, o fundo
ou o surgir da ascensão repentina,
nos fazem seres invasivos
e também profundos
ou simplesmente viventes
da rotina deprimente.
Hoje o dia é alegre,
brindado pela brisa.
Vibrações de vida
desenham cantigas;
estonteantes trinados
e flores,
gerando bordados,
cobrem qual cortina
os aromáticos muros
da avenida...
Às vezes assim é a vida.
Por outras, se torna baldia;
pensamentos de morte
em mentes vazias
desconjurando a sorte,
fechando cortinas...
descrendo do padre eterno,
cavam o próprio inferno,
mergulham no desalento
carregam o mau pressentimento
de estarem de mal com a vida.
Há os que choram sorrindo,
os que sorriem chorando...
Nos olhos, sorriso se abrindo,
os lábios sorvendo o pranto;
a dor aparente, levando,
fingindo não a estar sentindo.
Lágrimas não solucionam,
mas deixam o peito mais brando.
Um a um, esses encontros
vão e vêm
em nossos corações...
Noturnos e diurnos
momentos
que nos fazem humanos,
sangrar e irmos além
dos emparedamentos nulos,
para vivermos a vida sempre,
mesmo que disforme.
Ainda que se a contorne,
sem submissão!

Angela Oiticica & Carmen Lúcia

Carmen Lúcia
04/05/2009

sexta-feira, 24 de junho de 2016

Seja para mim




Seja para mim...
o fato mais marcante de minha história
preenchendo lacunas de minha trajetória
de tempos que não vivi... Sobrevivi.
Seja para mim...
O bem que esmorece as grades
das muitas que se afincam na terra,
liberta-me e em voo livre nada mais aferra.
Seja para mim...
o elo da felicidade e do amor perfeito
que nunca alguém um dia experimentou,
que nunca alguém jamais sonhou.
Seja para mim...
o riso que esconde as dores,
o amor que energiza o mundo
e que prepara encontros bem profundos
para gerar mais e mais amores.
Seja para mim...
um desafio íntimo, do mal a minha cura,
como escrever poemas sem amargura
ou embarcar em louca aventura.
Seja para mim...
a luz das tardes de inverno
que amarelada parece se apagar
dando a impressão que o tempo corre devagar.
Seja para mim...
O companheiro de meu dia a dia
e que calados, sempre lado a lado,
seguindo o brilho de cósmicas poeiras
possamos ver o céu se encher de estrelas.
Enfim, seja para mim
o que sempre serei para você.

_Carmen Lúcia_

quarta-feira, 22 de junho de 2016

Alma peregrina









A inquietude me leva a transitar…
Não quer me deixar  ficar.
Meu ser físico teme se deixar levar.
Mar de águas indolentes, segue inerte sua corrente.
Rio que quer desaguar,  mas nunca chega a mar…
Ah, corpo, que não se entrega ao divagar!

Abraço a primeira embarcação,
a próxima direção, a condução que virá…
Me lanço ao espaço da abstração.

Minh’alma quer ganhar distância,
alcançar o longe, antecipar o que será…
despejar o peso vácuo que carrega,
dissipar névoa que confunde e cega.

Ir para onde a luz levar,
onde o mistério tende a se revelar
e mostrar o que não sou, partes de meu avesso,
o que de mim desconheço. Reviver.
O que não sou também é uma forma de ser.

Eu sou eu e meus anseios.
E meus anseios não me permitem não ser…

Vou além
com alguém, sem ninguém, porém
tiro meus pés do chão,
dou asas à imaginação
e em abandono,corro atrás do sonho…
Reviver o outono em outra estação.


_Carmen Lúcia_




terça-feira, 14 de junho de 2016

Espero o sol nascer





Espero o sol nascer e aquecer
o frio de meu corpo,
de meu eu,
do meu ser
 que morreu,
 renasceu…

O que insiste em continuar
cumprindo os desígnios da vida
que me fez chorar,
pensar,
parar,
  ficar perdida.

O que insiste em me mostrar
nova trilha a seguir,
persistir até chegar
e voltar pra continuar
fincando círculos intermitentes
em solos contundentes
até que o chão termine
e se volte ao mesmo lugar…

O que insiste em bendizer
que o tempo é escasso
pra tantas voltas do compasso,
para intensos sentimentos,
pra reviver os detalhes
redescobrir  o que  perdeu,
reviver o que morreu.

O que insiste em persistir
no despertar das emoções,
sinos que teimam em badalar
chamando pra continuar
convocando a realizações
de ideais esquecidos por mim.

Espero o sol nascer e aquecer
o que persiste, enfim.


(Carmen Lúcia)

domingo, 5 de junho de 2016

Aprisionadas




Poesia inspirada na composição musical "Pipa, pandorga, quadrado" do poeta, escritor, compositor musical Paulo Tarso, que nos deixou já há algum tempo.Saudades.



Olho o céu coalhado de pipas
dançando ao som do vento, mortas-vivas,
num vaivém de efeitos especiais,
desafiando os fortes vendavais...
E os grandes festivais.
Embaixo a gritaria...criançada e correria,
ajeitam carretilhas...Puxam, riem...Euforia!
Dão mais linha, muita linha...E qual delas ganharia?
Mais altura alcançaria?
A mais ousada, qual seria?
Mal sabem que, aos borbotões,
tentam se livrar dos grilhões
que as mantêm prensadas, enclausuradas, pesadas,
assim como dos trens, os vagões...
os vergalhões.
Anseiam pelas rajadas de vento
que ninguém pode impedir...
Que, de repente, quebrem as correntes...
Libertem-nas, as façam subir...
Livres...leves...soltas...Ao léu!
E o desejo de liberdade prevalece.
O sonho de voar permanece.

(Carmen Lúcia)
_inverno de 2007_

sexta-feira, 3 de junho de 2016

Poesia




É tudo o que comove,
encanta, sensibiliza e move
arrojados sentimentos
indo de encontro ao vento
pairando aqui e acolá…
Um modo de expressar
e conjugar em qualquer tempo
o sentimento que se tem
do tempo que se foi, vem ou virá.
É qualquer forma de arte
que inspira e invade,
adentra a soleira da porta,
acaricia, inebria, reporta,
faz sorrir, chorar, abraça,
bagunça por onde passa,
sai pela janela e parte
buscando sensibilidade.
Não há como impedir…
É como o pôr do sol
que cumpre sua rota
e morre todo dia,
deixando em sua volta
um torpor que extasia
e num repente esvazia
toda a magia celestial
para depois retornar
trazendo nova poesia
nas cores que liberar.
Poesia não se define…
É sentimento que sobra
quando a essência cobra
o que não se consegue falar…


(Carmen Lúcia)

Paradoxos




Tu és...
A realidade da fantasia
O final do infinito
A lucidez do insano
O usual do inusitado
A paz dos conflitos
A conclusão da incerteza
A dignidade do sórdido
A sensatez do insensato
A luz da escuridão
A solução dos problemas
A sensibilidade do insensível
O grito do inaudível
A eficácia do inativo
A força dos fracos
A valentia dos covardes
O exorável da arrogância
O agora da posteridade
O bem do mal
A cronometria da imprecisão
A libertação do alienado
O comedimento da exorbitância
A pureza da malícia
A visão do cego
A exatidão do inexato
A imaginação do inimaginável
A fé da descrença
A essência do desnecessário
O concreto da abstração
O absurdo da razão
A verdade da hipocrisia
Porque és ...
Irreal
Inatingível
Indecifrável
Inalcançável
Inabalável
Inacessível
Inacreditável
Inatural
Incógnito
Incomparável
Incontestável
Indefinido
Indescritível
Inexplicável
Inominável
Insuperável
Intangível
Intemporal
Intersideral
Invulnerável
Inexistente
Portanto...
Não és...
Nunca foste...
Jamais serás...

(Carmen Lúcia)