Quantas vezes morri e renasci...
beijei as folhas secas de um chão ressequido
coladas em meu rosto pelo suor e lágrimas.
O vento da estação levou o meu canto,
dissipou a brisa
que soprava meu pranto
deixando a poeira arder meus olhos.
Agosto, dias sem inspiração, inversos a versos
regados a partidas sem vindas, sem vidas,
despedidas, ais,
barcos sem velas, sem cais.
Lágrimas que deixam na boca o gosto de sal,
entorpecendo a alma, trincando o cristal.
Agosto que trago colado em minha retina,
enroscado em meu
fado, minha sina,
peso de um legado abandonado e bandido
que mesmo sem querer, trago comigo.
Acervo de minhas dores, meus desgostos,
meus dissabores, meus rancores.
Deito-me na terra seca, empoeirada,
cravo-lhe minha alma desarmada,
encosto meu ouvido aturdido
a espera de quem não quer nada
e ouço ressoar em seu mirrado ventre
a flor em semente ser gerada
prenunciando setembro, enfim,
anunciando que agosto terá fim.
_Carmen Lúcia_
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