Nível divisório (e ilusório) entre
dois mundos
que não se encontram, mesmo perto,
sempre juntos.
Realidades paralelas, não se cruzam,
se recusam…
A apoteose e o apocalipse, a
discrepância, a discordância.
Em cima o sol, a passarela, a vida bela,
poder sonhar, a ostentação, a ambição.
Embaixo a escória, restos de vida,
degradação,
o submundo, o escracho, a solidão.
No alto, a vida indo ao encontro do
sucesso.
Debaixo, escorrendo ao retrocesso.
Passa o burguês indiferente à desigualdade
e indiferente, o indigente...o que
perdeu a identidade.
Muitos despencam lá de cima, lá do
luxo,
feito suicidas, enclausurados pela dor.
Sombras que assombram, que retratam o
desamor,
são bichos-homens, vira-latas, degustam
lixo.
E permanece lá em cima a indiferença.
Todo o glamour, a arrogância, a
burguesia,
e os maltrapilhos, recolhidos,
embevecidos
com os out doors, os pisca-piscas...Zombaria!
Até quando esse cenário revoltante?
Só se aproximam pra tirar fotografias,
virar manchetes nas colunas de jornais,
tão cordiais com tais problemas
sociais!
E as soluções? Ora, quanta hipocrisia!
Quando acolhido pelo abraço maternal
e acarinhado pela morte, o indigente,
seu corpo jaz, caído ao chão, sobre um
jornal.
Do pedestal (aí se cruzam), a
sociedade
vem dissecá-lo para o bem da
Humanidade.
Carmen Lúcia
02/11/2006
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