segunda-feira, 23 de março de 2015

Viaduto




Nível divisório (e ilusório) entre dois mundos
que não se encontram, mesmo perto, sempre juntos.
Realidades paralelas, não se cruzam, se recusam…
A apoteose e o apocalipse, a discrepância, a discordância.

Em cima o sol,  a passarela,  a vida bela,
poder sonhar, a ostentação, a ambição.
Embaixo a escória, restos de vida, degradação,
o submundo,  o escracho, a solidão.

No alto, a vida indo ao encontro do sucesso.
Debaixo,  escorrendo ao retrocesso.
Passa o burguês  indiferente à desigualdade
e indiferente, o indigente...o que perdeu a identidade.

Muitos despencam lá de cima, lá do luxo,
feito  suicidas, enclausurados pela dor.
Sombras que assombram, que retratam o desamor,
são bichos-homens, vira-latas, degustam lixo.

E permanece lá em cima a indiferença.
Todo o glamour, a arrogância, a burguesia,
e os maltrapilhos, recolhidos, embevecidos
com os out doors, os pisca-piscas...Zombaria!

Até quando esse cenário revoltante?
Só se aproximam pra tirar fotografias,
virar manchetes nas colunas de jornais,
tão cordiais com tais problemas sociais!
E as soluções? Ora, quanta hipocrisia!

Quando acolhido pelo abraço maternal
e acarinhado pela morte, o indigente,
seu corpo jaz, caído ao chão, sobre um jornal.
Do pedestal (aí se cruzam), a sociedade
vem dissecá-lo para o bem da Humanidade.


Carmen Lúcia
02/11/2006


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