quinta-feira, 30 de maio de 2013

Tentando recomeçar



Desfaço os laços que nos mantinham atados.
Agora sós... Cada um pro seu lado...
Restam os nós, que o tempo vai desatar...
Que a vida há de apagar...
E a imensa bagagem de experiência,
anos a fio, conflitante convivência...
Páginas de um livro que quero virar...
Enredo desgastado.Um novo virá?
Cada um por si, sem hipocrisia, sem medo...
Reconstruindo outra história, sem pompas, sem glória.
Apenas uma simples e verdadeira história...
Criamos uma redoma...Seguiremos imunes...
Da dor, do desamor...Sairemos impunes...
Dos vendavais ou fortes temporais.
Nosso alicerce é de pedra e seguro,
nossa janela isenta de mau agouro...
Nada poderá nos derrubar...
Fortalecidos hoje estamos...
Ouso dizer que nos salvamos.


    (Carmen Lúcia)

terça-feira, 28 de maio de 2013

De todos os meus sonhos



De todos meus sonhos
poucos foram realizados...
Alguns, desperdiçados por imaturidade,
outros, por terem perdido a validade
e já não me encantavam tanto...
Joguei-os em qualquer canto.
Muitos foram roubados,
apreendidos, vendidos, copiados.
(Até com sonhos temos que ter cuidado...)
 
Do todo restou-me pequena parte,
Ínfima partícula do que havia sonhado
e com ela pretendo agora embarcar...
Voar sem tirar os pés do chão,
calar pra ouvir só a razão,
fábrica de sonhos sem emoção,
 justa, inflexível , previsível,
gerando  sonhos de fácil  conquista,
 voos que não se perdem de vista.
 
Não era o que eu queria, os sonhos que quis realizar...
 Incompetente pra seguir em frente, deixei de lutar,
deixei  o tempo irredutível os  levar,
fraquejei perante  trancas e tramelas,
aprisionei as imaginações mais belas
fechando portas e janelas,
sufocando os mais sonhados sonhos, 
deixando-os agonizar...
 
 
 
 
 _Carmen Lúcia_
 

segunda-feira, 27 de maio de 2013

A quinta estação



Não me importa o passar do tempo,
nem a velocidade com que passa.
Já me acostumei a olhar pela vidraça
as cirandas das estações em arruaça
atropelando-se umas às outras
deixando ao vento uma folha seca,
uma flor desidratada,
doce fragrância de pouco cheiro,
uma nesga de raio solar,
um sopro de frio a acenar:
“Um dia hei de voltar,
no outono ou verão.”
Talvez na quinta estação...
Nada disso mais importa
já que não cabe a mim mudar.
Sigo nessa carruagem torta,
vazia de sonhos, sem saber onde chegar.
Alguma emoção na bagagem
ainda teima em perdurar.
A cor me confunde a visão,
não sei se está viva ou apagada
ou em que matiz ficou estagnada.
Que me importa se o tempo é veloz?
Se é algoz, pau mandado, adestrado?
Se está sob o comando... de quem?
Ou se corre a procura de alguém...
Já plantei, semeei , vi florir
e colhi o que mais cultivei,
já sorri, já dancei, poetizei,
e amei, e sofri, e chorei...
Que me carregue com ele, o tempo,
e me entregue ao fadário que me cabe,
bem ligeiro antes que impeça a saudade
ou o próprio tempo se acabe.

_Carmen Lúcia_

sábado, 18 de maio de 2013

Indagações à vida





 

Onde está o meu entusiasmo?

As coisas que me faziam estremecer?

A vaidade a me bater,

o espelho a me ver

sempre impecável,

irretocável?

Batom, blush, rímel, esmalte, laquê?

As roupas da moda,

os saltos dos sapatos

que me elevavam

a ver lá de cima

a vida acontecer embaixo?

 

O amor próprio, onde foi parar?

O amar a mim mesma, em primeiro lugar?

Os sorrisos, as gargalhadas,

as noitadas, as baladas,

as danças improvisadas,

o desejo irrefreável de viver?

O coração descompassado,

o rubor destemperado,

o sorriso dissimulado,

o meu sim apaixonado...

 

As sessões de cinema,

o amor sentado ao meu lado,

os beijos disfarçados,

os tremores tresloucados...

 

Quando deixei de viver?

Em qual ancoradouro aportou minha autoestima?

Qual  livre- arbítrio assinou a minha sina?

 

_Carmen Lúcia_

 

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Amo a Língua Portuguesa



Amo a língua portuguesa.
Com franqueza, com pureza, com certeza.
Ela me navega na imensidão dos mares,
na mansidão dos ares, além do  infinito.
Desbravo os mais profundos abismos
e seus mistérios abissais...
Alcanço o ápice das montanhas, 
percorro a estrada de meus ancestrais...
Então finco minha bandeira luso-brasileira.
 
Desvendo em palavras as minhas proezas,
de minhas bravatas relato as grandezas.
 
De origem latina, primitiva, abrangente
difunde e aflora a “Última flor do Lácio”;
incita o poeta a dar vida às palavras,
faz das palavras imagens dos anseios da gente.
 
Vinda de caravelas aqui aportou;
trouxe um abraço que me cativou...
permeou as belezas, protestou as mazelas,
deu à flora e fauna ricas definições,
das riquezas da terra desenhou emoções.
 
Amo da língua portuguesa 
a magia, o lirismo, o encanto.
Com ela choro o meu pranto,
grito a dor causo espanto.
Sou rio, sou tanto, sou música e canto...
Choro, sorrio, me acarinho em seu manto.
Divago em palavras a minha alegria,
na página em branco derramo a agonia.
 
_Carmen Lúcia_
 
 
 

quinta-feira, 9 de maio de 2013

Mãe, uma rosa...



Sigo teu rastro, o perfume que exalas,
tuas palavras, o mantra a conduzir à paz,
ando teus passos e transpasso meus limites
alcançando a luz que o teu ser ao meu emite.


Olho o espelho e te vejo em meus traços,
teu sorriso sorri comigo, me acaricia,
me agasalha, no inverno, teu abraço
que me aperta quando o frio se anuncia.
 
 Teu exemplo não me deixa desistir
quando cansada sinto que não vou chegar,
tua força me impele sempre a ir
e sempre vou, ouvindo a voz do teu clamor.
 
Mãe é imortal, estrela que não se apaga,
mesmo se a moldura não perdura e se acaba
fica a essência a preencher toda a carência
do filho que a tem presente, ainda que na ausência.
 
Colho uma rosa, colho-Te, em teu jardim...
 cor vermelha a pulsar em minha veia, em mim.
Beijo-te com a doçura de teu acalanto,
sopro teu orvalho, lágrima de meu pranto.
 
 
_Carmen Lúcia_
 

sábado, 4 de maio de 2013

Retrato de mãe


Retrato de Mãe

Retrato de Mãe
Diáfana era aquela luz...
Lembrava vida, Jesus,
Que em teu ventre havia...
Mãe, Mulher, Maria!
Cristalizaram-se as águas,
Puras, límpidas, pacatas...
De imenso brilho a manhã surgia,
Essência de amor personificada
Exalando aroma intenso, de incenso, de alvorada...
A paz sacramentou o mundo,
Momento sagrado, fecundo...
Em uníssonos, sons pianíssimos,
Cânticos e hinos, apaziguadores,
Vindos do âmago, oravam louvores,
Unificaram-se os matizes,
Berços das cores, dos esplendores,
E toda beleza resplandeceu o ar,
Colorindo todos os cantos de encantos,
Nuances suaves a divagar, testemunhar...
Invadindo espaços etéreos, surreais...
Encontro inusitado de sentimentos,
Unidos pela aura branda do vento...
Os mais nobres e delicados,
Os mais discretos e cordatos,
Os mais sublimes e abençoados,
De auréolas divinas, coroados...
Mãe!Ousei descrever o teu retrato!
              
                 Carmen Lúcia

Saudosismo




Revejo
O passado. Como se um filme velho e puído
renovasse minha lembrança
pelas tantas vezes reprisado e assistido.
Revivo
As tantas vezes com ele me identificado
como fosse eu a protagonista
das tantas emoções vivenciadas e vertidas.
Relembro
O tempo era magia.
A felicidade corria a me alcançar
E a dor, transitória. Não vinha pra ficar.
Reivindico
O tempo que nem vi passar,
a felicidade camuflada em algum lugar...
As emoções. Não querem despertar.
Rejeito
A dor que machuca o peito
e hoje veio pra ficar.
A saudade daquele tempo,
a vontade de voltar.
O saber que não há jeito,
pois se jeito se pudesse dar,
não ficaria desse jeito...
já estaria lá.
Carmen Lúcia

quarta-feira, 1 de maio de 2013

Rupturas




De repente, a expulsão...
Rompe-se o cordão,
O calor daquele abrigo.
A união umbilical
rompida pela contração.
O frio, o desconforto,
o susto que faz chorar,
o ter que encarar
a separação.
O mundo.

De repente, cerra-se a cortina,
muda-se o cenário,
embaçam-se as luzes,
tremula a ribalta
de um palco improvisado,
perguntas impertinentes,
respostas não condizentes,
personagens alternadas,
história remexida,
show irreverente.
A vida.

E as rupturas se vinculam.
Começo de caminhada,
o papel, as linhas tortas,
o branco sendo tingido,
o sentido das palavras,
o destino a se cumprir,
o tempo a exigir:
“Ande, não pare!”
O tempo.

Fase da colheita...
Colher o que plantou.
O cultivado, permanece...
O resto, esmorece.
Bem que se pudesse
o tempo pararia...
Uma nova chance.
Começar o Novo!
Não:De novo!
Carpe Diem.

Vem o cansaço,
o descompasso,
o desejo de parar
e a vontade de chorar
as partidas, despedidas,
amigos, entes queridos,
sonhos não vividos
truncados pelos caminhos.
A realidade.
Saudade.

Às vezes, a Felicidade.
Momentânea, raridade.
De soslaio ela invade
e se vai sem alarde.
Reta de chegada.
Fim da caminhada.
(início de outra jornada?)
Atrela-se a ruptura...
A última, derradeira.
(ou seria a primeira?)
Maktub.


_Carmen Lúcia_


Raro momento




Quero beber esse momento especial,
raro encontro da alma com a paz,
sorver o mel e as delícias do instante
tão fugaz, em fina taça de cristal.
 
Extasiar-me dos belos sonhos
carcerários do medo,
vítimas de enredo isento de ousadia,
pintá-los no rosto com mestria
e num segundo
viver toda felicidade do mundo.
 
Brindar comigo mesma...
Só a lua a me espreitar,
enfeitiçar-me do luar
a transpor minha janela
e plena de alegria
rodopiar com ela.
 
Ainda que não perdure e tudo acabe de relance
e num tapa o tempo se vá, longe de meu alcance.
 
Breve momento, perpetuado...
A emoção em festa, flagrada num flash,
a essência da essência apregoando meu semblante
e a vida a reprisar esse mágico instante.
 
_Carmen Lúcia_