sexta-feira, 31 de março de 2017

Tempo da sabedoria


























Era, de todos os tempos,
o melhor …
Tempo em que se atirava
a impulsos tresloucados
sem medir o que viria
 da insensatez  de nada medir.
Em que a inconsequência era fato,
não impedia a ousadia do ato
de se fazer o que bem se quis.
Era um ser feliz por um instante,
ou por uma eternidade…
Era um se entregar constante
 por caminhos da liberdade,
a sede de beber felicidade
 sem o certo ou errado, nenhuma falsidade.
Dar o pulo do gato, desvendar o segredo
ainda que se quebrasse a cara
ficando de cara com a tristeza
a servir de consolo
ou  lição para a evolução.

Era tudo ao mesmo tempo,
eclosão de sensações,
explosão de sentimentos
em que não se ponderava…
Pior não ter feito nada
e se arrependido
depois do tempo perdido.

Era um tempo em que se vivia.
 Era o tempo da sabedoria.


Carmen Lúcia


quarta-feira, 29 de março de 2017

Dias conturbados



















Nesse tempo de rapidez tamanha,
de não mais saber onde mora o longe,
da tecnologia que nosso ar respira
e o pensar expira, pois a tudo ela responde,
da compulsão de olhar para uma tela fria
causando estragos, mentes doentias,
largando um mundo inteiro para lá,
juntando distâncias que se percorria
com a emoção de se querer chegar,
de se encontrar, trocar carinhos, 
sentindo o toque real  de tal magia…

Perco-me em pensamentos
num vaivém de dias desencontrados.
O ano quase se foi,
os meses não querem ficar,
os dias apressados
estão todos agendados.
O amanhã já é ontem,
o ontem virou saudade,
o hoje está cansado,
 chegou bem atrasado.

Despeço-me dos ricos detalhes.
Merecem pausa  para os apreciar.
Despeço-me da fantasia,
o tempo é curto pra se divagar…
A noite  vem chegando,
o dia vai raiar…
Não dá mais  para sonhar.


Carmen Lúcia




terça-feira, 28 de março de 2017

Os olhos de Carmen!




















Poema de Mauro Veras


.
Na foto, dois olhos, duas portas abertas
e a sede de conquistas que impulsiona navegadores:
o coração sempre a bater destemido!
o trem que apita sem dizer o destino!

Carmen, carmina, carme ... se acalme, poeta!
a jovem musa tem a essência das flores,
mas tem a força e o calor do sol a pino
sobre a areia fina de uma praia deserta.

Seus olhos denunciam o arrebatamento das paixões,
das paixões que movem legiões de soldados,
que têm o destemor dos riscos e do perigo
mas que também é suave como a muda do trigo!

Carmen Lúcia, a poetisa densa e amorosa
dona de uma poesia fina e arriscada, como as rosas ...
onde, envergonhado, um pequeno espinho se amiúda e some ...

Carmen Lúcia ... o que mais esperar da mulher
que traz a poesia e a luz no próprio nome?


Obs.: Poema realizado durante a cerimônia de minha posse na Academia Virtual Navegantes das Estrelas, em 01/11/2006, e dedicado à poetisa Carmen Lúcia.

segunda-feira, 27 de março de 2017

Protagonizando o outono





















Vivo o outono.
Não só a estação do tempo,
também a que trago aqui dentro,
outorgando tristonha
o cair  de folhas secas
e sua entrega ao vento.

No ar, galopa a polinização,
sem posição, sem direção, sem reta,
 um redemoinho de grãos
buscando lugar para procriar…
Em mim, rebelião de células
que desocupam lugar e secam,
causando  tristeza,  transtorno
 embolando-se com o outono.

Mistura de cheiros em ebulição,
Infusão a machucar o pulmão
dificultando o respirar
provocando inquietação,
o desconforto de não saber explicar
o que não tem explicação.

Vivo o protagonismo da estação.
Sou folha que cai e se rende ao vento,
a fragilidade do amor que se vai
e se abriga ao relento.
A árvore desnuda
sem sequer uma muda
pra lhe agasalhar.

Temporariamente sou  outono.
Infinitamente continuo outono.
Tom tristonho, cores irreais,
folha amarelada em abandono
de papel ou de outono,
à espera de uma história imortal.

Carmen Lúcia




sábado, 25 de março de 2017

A magia do pensamento




















Voa, pensamento, voa…
Veja a primavera em Berlim!
As folhas por aqui morrem,
flores estão sem jardim,
dormem, tristonhos, os beija-flores,
borboletas procuram suas cores.

Voa, pensamento, voa,
cruza as terras do além-mar,
abraça Lisboa, Tomar,
Cascais e suas conchinhas,
beija Luizas a faiscar
poemas e telas sem planos
naifgando  Pessoas, Fridas,
Caetanos.

Permeia ruas em Paris,
segue a rota que bem lhe condiz
cega-se ao brilho da luz,
faz o que ainda não fiz,
embroma-se nas lavandas,
embriaga-se de perfume
e voa seguindo seu lume.

Voa sobre oceanos
envoltos de brumas ao amanhecer,
espera a lua acordar,
o sol desaparecer
e banhe-se ao luar.


Volta quando tudo mudar.
Aqui está como antes,
sem flores, sem cores,  sem atenuantes…
Volta quando a primavera voltar.
De cada canto me traga um encanto.
Semeia-me da essência de cada lugar.
Voa, pensamento, no etéreo de sua magia
Você pode voar…


Carmen Lúcia



quinta-feira, 23 de março de 2017

Foste com o outono






















Foste com o outono
como folha silenciosa
sem aviso, de improviso
sem despedida sequer…
 Foste a folha escolhida
pela árvore da vida
e nova missão requer.
Na quietude de tua alma,
na plenitude do amor sem condição,
no ápice do sonho e realização
flutuaste lenta e tristonha,
remanso a adormecer na imensidão.

Sabias que um dia entenderíamos
e ganharíamos de novo o chão.
Deixaste o que tinhas em mão
a penetrar  nossos sentidos,
a violar alma e coração…
Tua essência, teu perfume, teu sorriso
tua emoção…
Teu colorido indescritível
lançando nuances ao tempo
não roubará nenhuma estação.
Renascerás a flor mais bela
em cada primavera
de todas as eras,
e eras …e eras.


Carmen Lúcia


sexta-feira, 3 de março de 2017

Pichação



















Picho o mural do céu
entre nuvens vagando ao léu
onde é concebível o expressar sincero,
riscar em todas as línguas
a alma em flagelo,
o desengano,
a revolta de cada ano, do tempo,
do cotidiano…
Aumento o som do vento
a carregar pelo mundo
os contratempos, os impropérios.
Que os carregue
para o quinto dos infernos.
Picho de preto nuvens carregadas
de lágrimas evaporadas, salgadas,
a desaguar toda amargura
no oceano que circula
nesse leva e traz da vida.
Picho a morte, a despedida
sem passaporte de volta,
a revolta
em muros já pichados na imensidão.
Picho com emoção,
(lei que rege o coração)
em nuvens de algodão,
a estranheza da leveza
com que exerço a pichação,
tendo na poesia a direção,
a verdade e a impunidade.
Picho a propriedade alheia que se esgueira
e o vazio do espaço a levantar fronteira.
Picho a “fábrica de deboches”,
o escárnio a conduzir fantoches
que já não são como antes.
Há cérebros pensantes.
Grafo nas entrelinhas do horizonte
a vida que segue, o amor que se esconde,
e no íntimo de meu ser
grafo a arte, baluarte do saber viver.

Carmen Lúcia