Vivo o outono.
Não só a estação do tempo,
também a que trago aqui dentro,
outorgando tristonha
o cair de folhas
secas
e sua entrega ao vento.
No ar, galopa a polinização,
sem posição, sem direção, sem reta,
um redemoinho de
grãos
buscando lugar para procriar…
Em mim, rebelião de células
que desocupam lugar e secam,
causando tristeza,
transtorno
embolando-se com o
outono.
Mistura de cheiros em ebulição,
Infusão a machucar o pulmão
dificultando o respirar
provocando inquietação,
o desconforto de não saber explicar
o que não tem explicação.
Vivo o protagonismo da estação.
Sou folha que cai e se rende ao vento,
a fragilidade do amor que se vai
e se abriga ao relento.
A árvore desnuda
sem sequer uma muda
pra lhe agasalhar.
Temporariamente sou outono.
Infinitamente continuo outono.
Tom tristonho, cores irreais,
folha amarelada em abandono
de papel ou de outono,
à espera de uma história imortal.
Carmen Lúcia
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