segunda-feira, 2 de maio de 2016

Andarilhos




    

Ainda que a esperança finde
e o descrente mude seu rumo,
pendure os sonhos em linhas tênues
das calçadas escuras sem quinas,
 esquinas tortas, esburacadas,
armadilha sutil que arrebata
traga o que ainda presta,
leva o que ainda resta
nessa infinda caminhada
e mate o desejo de ser,
do ser, de viver, do renascer…

Ainda que o vento frio sopre
e sufoque  sentimento que toque,
apague a chama que aquece, clama,
congele almas, plante pedras,
sangre pés, amordace vozes,
aperte nós, distancie-nos de nós,
peregrinos sem histórias em busca de nada,
vidas sem vidas, seres inexistentes
pisam asfaltos ilusórios, transitórios,
fundem o fosco do trilho com o olhar sem brilho
isentos do mundo,  indigentes sem prumo
desistentes de sonhar…

Ainda assim prosseguirei com minha fé
agarrada à certeza profícua de que vai dar pé,
mesmo que a incerteza tente me derrubar
sonharei tantos sonhos quantos queira sonhar
até que o fosco dos olhos volte a brilhar
e o mundo mude, devagar,
devolvendo vida à vida,
semeando sonhos em todo lugar.


(Carmen Lúcia)



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