quinta-feira, 7 de maio de 2015

Aridez do sertão






No semblante,  traçados  da  terra  ressequida
retratam  o solo agreste do sertão
onde  a  chuva miúda chuvisca distraída,
onde o atípico verde-musgo  foi morar
 brotado dos (es)poros das células mortas
 em desencontro com o habitat,
com a secura nativa da pele,
deixando um ar de desconsolo e desalento
em quem vive a longevidade sem vontade
porque a morte se esqueceu de a levar…


Esconde-se no brilho seco do olhar
perdido no mais longínquo sertão
à espera  que a ilusão lhe traga, em vão,
 alguém que lhe jurou voltar…
A dor não mais a incomoda,
 acomoda-se na calosidade de seus flancos
a carregar cestos de caju e de cajá
e a sobrevivência  provinda desses frutos,
passos trôpegos  para lá e para cá…

Virou parte de seu funesto itinerário
a lida vivida no âmago seco da vida,
no retiro desguarnecido do coração solitário,
no cerne do sertão onde nada acontece,
nas contas já puídas do rosário,
na velha ilusão que esmorece,
na desilusão tecida em macramê,
na desesperança de nada acontecer.



_Carmen Lúcia_




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