terça-feira, 30 de junho de 2015

Tempo perdido



Tempo perdido


Que vou fazer das horas
se elas passam e aqui fico
a escrever o que vivi, o que vivo
me esquecendo de realmente viver
e com as horas ir embora
em busca do que possa acontecer.

Deixar de só sonhar, de querer ficar
guardando o melhor para depois
e o depois é sonho que pode não vir,
é a consequência de não partir,
é mundo vago, mistério não revelado,
mania que as pessoas têm
de deixar para o amanhã
 o que hoje lhes convém,
a vida passeando distraída
apitando a alegria feito  trem
da partida ou que ainda vem
aportando  emoções abarrotadas
em cada estação, em cada jornada.

E no vaivém das horas eu fico…
 Con(verso), escrevo meu sonho retido,
estrofes revelam o que  reza minh’alma
e no esconderijo da noite que acalma
penso nos sonhos em abandono,
folhas que se perderam  no outono
sem possibilidades de retorno,
sem alcançar o tempo a deslizar,
pois tempo não para pra sonhar.


_Carmen Lúcia_



domingo, 21 de junho de 2015

Onde mora o poeta?



 São muitas as moradas
que acompanham suas jornadas...
Onde a inspiração reside
onde a alma se divide…
Mora além de seus limites
onde o  voo assim permite.
Nas ruínas de escombros
ou  num palácio de sonhos,
num cantinho lá no céu
ou num quarto de bordel.
No copo cheio de cachaça,
na última gota de prata.
Num sorriso puro e lindo,
na passagem do sujo pro limpo.
Também debaixo da lua
em qualquer calçada da rua…
No amor que nunca passa,
na paixão que causa desgraça.
Na obsessão de um desejo,
na ternura de um beijo…
Mora na felicidade
que causa tanta saudade.
Mora na guerra e na paz,
na alma que se refaz...
No ocaso,  no alvorecer,  no arrebol,
na borboleta que pousa no caracol.
No pivete com arma na mão
a olhar o  brinquedo  no balcão.
No povo que vem lá do norte
e brinca com a própria sorte.
Mora na encenação,  nos palcos da vida,
na realidade, na sociedade iludida…
Mora nesse  universo,
nas trovas em prosa ou verso,
em toda a parte do mundo,
no abismo mais profundo.
Mora ali, lá, acolá,
na esperança sem fim,
na lágrima que vai rolar
 mora aqui dentro de mim.


(Carmen Lúcia)
Como em tudo há poesia aos olhos do poeta, ele mora em toda a parte...até nos confins do mundo!

sábado, 20 de junho de 2015

Cara e coroa



Sou a mais viva cor do arrebol,
Também a nuvem negra que encobre o sol.
Sou um gesto nobre de carinho,
Também o frio incesto de seu ninho.
Sou a calma de um mar tranqüilo,
Também sou um furacão bravio.
Sou outono e vento que vêm desfolhar,
Também a primavera e o frescor a aflorar.
Sou a branca paz que pacifica,
Também o arsenal que mortifica.
Sou a moça pura,acervo de poesias,
Também a prostituta das noites vadias.
Sou a bênção que a alma refaz,
Também a maldição de ancestrais.
Sou a seca do sertão agreste,
Também a chuva fina que umedece.
Sou luz, sou chama, sou clarão...
Também sou trevas,sombras e escuridão.
Sou tudo isso que me mostra,
Cara e coroa...
Quem aposta?


Carmen Lúcia

sexta-feira, 19 de junho de 2015

Dona da verdade





Sou daquelas cuja a razão 
comanda a existência
sou perita nas exatas ciências
excluo o improvável
não admito o erro
nem qualquer divagação.
Tenho os pés no chão
dos padrões da inquisição sou regente
e reagente dos distúrbios emocionais
tão banais que os pisoteio
e nego seus sinais.
Dona da verdade
marcho sem descanso
no concreto que me rodeia
ultrapasso alma e coração
e vou…
Sou fruto da essência radical
busco apenas o previsível
empacoto qualquer sinal de emoção
meço a vida em folhas de papel
traço a rota, escolho meu caminho
e conforme dogmas engessados 
esbarro nas paredes 
e na fria rede da convicção..

Nada me seduz
preferindo a certeza  à fascinação
não peregrino
sei de onde vim e para onde vou
mantenho o ritmo, não mudo…
nem deixo acelerar a emoção
transgredir o certo? 
desacatar a tradição? 

Não!

Há dentro de mim um lacre,
que só me deixa respirar
e que me faz calar o impossível
mantem-me segura 
casta e pura
sem as amarras da paixão.


E pra quê o coração?
Porque corre sangue em minhas veias
numa rota prevista e controlada
mas que sutilmente me prende na sua teia
quando o rubor do meu rosto encabulado
mostra que por trás da máscara da alegria
chora uma mulher solitária,
com medo da contradição…

Que se der um passo em falso
é capaz de sucumbir num turbilhão
deixar que a insanidade lúcida imploda padrões
incorra em erros, acertos, emoções…
e que basta só um sopro pra se entregar à paixão
enquanto eu teimo em dizer não…

Carmen Lúcia e Arlete Castro

Encenação



Como protagonista
executei o meu papel.
Dei o melhor de mim,
mais do que podia,
mais do que se exigia
e fui extremamente fiel.
Não sei se a mim mesma
ou à história que revivia.
Nunca uma encenação saíra tão perfeita.
Nenhuma cena precisou ser refeita.
Não foi difícil encenar aquele amor,
mas foi difícil encarar de novo a dor.
Saí de cena!
(Saí mesmo?)
Agora o impossível.
Separar a história, a atriz
da vida verdadeira,
da vida que restou,
da cena derradeira.
Confusa, já nem sei o que é real.
Saio do palco, perco o chão, sobra emoção…
E continuo contracenando com a ilusão.

_Carmen Lúcia_

quinta-feira, 18 de junho de 2015

Quando dei por mim...





Quando dei por mim
 o mundo havia mudado.
Parei…
 Embora o tempo não houvesse parado.
As pessoas já não eram as mesmas…
Afeições, aflições, feições, expressões.
Estranhei…
Procurei olhar bem por dentro,
talvez algum indício em cada uma,
um sinal que preenchesse essa lacuna
ou me guiasse onde as pudesse  achar.
Ou me achar…


Divaguei…
Fiz da ilusão passaporte para o indefinido.
Por onde andei esse tempo todo?
Criei com minhas mãos terrível engodo.
 Nele mergulhei...
 Fuga insensata de querer permanecer,
 viver a utopia da poesia que criei
onde o mundo era exatamente o que sonhei.
Vi-me só ante a multidão que desconhecia,
a mesma da qual me dispersei e pertencia
e agora se afasta sem sequer me entender.

Despertei….
Perdi  a contagem dos dias, meses, anos…
Das madrugadas varadas em desenganos,
das manhãs em que nem via o sol nascer
mas o descrevia como quem sempre o vê,
sentindo seu calor e luminosidade,
brilho ilusório de felicidade.
Impossível voltar atrás no tempo,
dizer às pessoas o que não foi dito,
que me perdi no que foi escrito
e  foi escrito tudo o que senti.
O que vivi.





_Carmen Lúcia_




sexta-feira, 12 de junho de 2015

Descobertas




Quando caminho pelo âmago de mim
e percorro cada recôndito calado,
descubro, em partes, porque sou assim…
Todas as sensações e um sonho irrealizado.

Adentro cada canto isolado
apagado pelo silêncio de afago,
  acarinho-me expiando o que isentei,
   amo-me em cada parte que desprezei
e se reparte no mais profundo de meu ser.

 Acende-se o meu íntimo acarinhado,
cada pedaço se junta num único querer bem
povoando  os vazios desconfortados,
confortando-me como jamais fez ninguém.

Emoções reagem em clima de festa,
invade o coração a alegria que resta,
o dom  da inspiração se manifesta
e o todo é luz que do sol infesta
varando a janela da alma por uma fresta.




_Carmen Lúcia_






segunda-feira, 1 de junho de 2015

Faróis esverdeados





Em teus olhos verdes
singra o parco barco...
Em tons esverdeados
 mar de seu destino...
Navega o seu fardo
gira redemoinhos
na esfera íris negra
cede ao teu tornado
ancora em teus cílios
negros, longos, fartos...

Encantado ao fascínio
deslumbre desvairado
fica sob o domínio
da luz verde-esmeralda
naufragado na armadilha
de faróis esverdeados...
Imerge, rodopia
emerge assombrado
rende à tua magia
faróis alucinados
candeias abrasantes
 rumo desorientado...

Olhos enfeitiçantes
barco hipnotizado...


                (Carmen Lúcia)



*** Aos meus amigos, cultivemos o verde e salvemos nosso planeta ex-azul!***