sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Babilônia








Difícil conviver imune de pecados
ou conviver, simplesmente,
em meio a essa Babilônia que se espelha
e se prostra a minha frente
tentando dominar corpo e mente,
impondo um sol brilhante, ilusório,
que cega e se apaga de repente
priorizando decretos humanos
acima dos humanamente divinos...
Desfilando por tortuosos caminhos
uma verdade anacrônica, desgastada,
deteriorando-se passo a passo
num confronto irreversível com meu tempo,
com o que penso, com o que faço...
Vestes escarlates e púrpuras bailam
convidando para uma dança sensual
onde a razão e o bom senso
se desequilibram nesse ritual
e se afastam dos princípios certos da moral.
Impossível beber do cálice sagrado
e conciliá-lo ao pecado mortal.
Procuro outros jardins que não sejam os da Babilônia,
onde as sementes plantadas gerem frutos do bem,
onde a vida transcorra simples como os rios,
embora chorem o que o homem deflora
maculando suas águas límpidas que cristianizam
navegadas pelo amor, luz e serenidade
numa trajetória imaculada.

_Carmen Lúcia_

Instabilidade da alma



Quero rir uma risada boba
nascida à toa em qualquer lugar,
trazendo à tona todo sentimento
para explodir e extravasar no ar,
até tornar-se gargalhada
franca e escancarada
pra contagiar.

Quero abraçar motivos,
fúteis e expressivos
para me encantar...
Todo detalhe que me baste e afaste
do desencanto de não mais sonhar...
Se porventura dormir a magia
ou a tristeza quiser acordar
de um baluarte vem a alegria,
o meu consolo se eu quiser chorar.

Quero reviver prazeres
colhidos, contidos nos alvoreceres,
vividos e guardados em minha lembrança,
lugar onde o tempo jamais alcança
ou não tenha tempo para alcançar.
Quero recolher palavras
pra preencher a minha fantasia
e cirandar durante noite e dia
sentindo pingos de pétalas macias
chovendo em mim, versejando rimas,
num festival de cores que a vida anima.

Quero da madrugada, a oração,
a serenata pura, sem estrelas ou luas,
pra que eternize extrema emoção,
a comoção do orvalho entre lágrimas,
a melodia vinda do coração,
momento silente, do âmago ardente,
e do poeta que "finge a dor que sente",
mas que consente quando tudo silencia
e chora a alma na mais bela poesia.

_Carmen Lúcia_

"O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente." (Fernando Pessoa)

terça-feira, 4 de novembro de 2014

Precios(idade)




Essa minha nova fase...
Novo capítulo, novo ciclo,
final e recomeço de nova estação,
folhas caídas, árvores desvestidas,
mudança que gera conflagração
até que a poeira se assente ao chão.
Procuro por palavras espalhadas
juntamente com as folhas, em variação,
que definam essa minha nova etapa
e teçam versos ritmados à emoção...
Nada que me prenda ao passado
para que não me ausente do presente
e que ele me apresente uma forma evoluída
de conduzir com sapiência a minha vida.
Que eu nunca perca o encantamento de ver cores,
a simplicidade continue a ser meu lema,
e quando não puder me expressar com as palavras,
que minhas mãos falem, a transbordar afagos.
Que a mágoa nunca venha me rondar,
mas se vier, seu espinho eu possa retirar
e quando um dia a lágrima brotar,
que o coração fale pelo meu olhar.
Quando estiver cercada por pessoas
e a sensação é de não ver ninguém por perto,
é a solidão que num momento incerto
chega de soslaio, mas logo se escoa.
Inevitável será sentir saudade...
Lembranças que do peito quero esvaziar
para que as novas ocupem seu lugar
e minha (precios)idade eu possa desfrutar.

_Carmen Lúcia_
05/04/2011

O resto não importa






No peito, marcas que tento apagar,
na alma, vincados os sonhos que ainda restam...
Nos olhos, misto de fim e começo,
no coração, batidas descompassadas, aos avessos,
prenunciam vida e recomeço...Novo endereço.

Na mala, vastas e ricas experiências.
Recair nos mesmos erros? Reticências...
É preciso tentar, dar a cara a tapas,
viver o novo, talvez desconcertante etapa;
rasgar fotografias amareladas
que fazem sofrer e não levam a nada.

Abrir cortinas e janelas,
deixar o sol entrar, inundar...
Mesmo que por uma fresta.Que festa!
Ver lá fora a esperança voltando
e o amor timidamente bater à porta...

Vou abri-la!O resto não importa.



              (Carmen Lúcia)