domingo, 22 de novembro de 2015

Clarão





Quando o sol já não me brilhava
e o dia se fez noite em mim
surgiu você feito um clarão,
levou  minha solidão,
companheira da rotina
de não ter nada a fazer…
Mudou a minha sina,
reativou meu coração,
fez barulho por querer,
reacendeu  a velha chama
da alma semiapagada,
do sonho pós-esquecido,
do padrão pre-estabelecido,
 de um mundo vivido à parte
de tudo o que invade,
faz festa e inquieta
e hoje vira saudade…
Do silêncio que persuade,
cala e consente
a vida desligada
vivida do nada.

Quero viver o seu sorriso,
esquecer aquele aviso
"Proibido deixar viver."
Aquecer-me a sua chama,
ouvir o que minh’alma clama
o que a vida reservou pra mim.



(Carmen Lúcia)






quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Rumo à loucura




Quero um dia de loucura
leve, sem amargura,
ilógico, com brandura,
parar com a procura
de achar onde não tem…

Quero fazer a razão
ficar sem entender,
perder toda a noção,
enlouquecer também.

Não dar mais palpite
na vida de ninguém,
deixar correr solto
o que faz tão bem.
Não mais comandar
desejos de alguém
mudar o rumo do sonho
de ir sempre  além…

Apenas um dia…
 sentindo a liberdade
vivendo a alegria
correndo a rédeas soltas
crendo na fantasia.


Um dia de emoção,
somente…
Um dia de ilusão,
dormente…
Deixar o coração
pensar que sou feliz
pulsar suas batidas
ouvir o que me diz.


_Carmen Lúcia_




Passou...








Passou feito canção
sem deixar rastros ou marcas
só o som de melodia
da mais doce sinfonia.
Passou feito um sussurro
um murmúrio de riacho
calmo,carregando a lua
refletida em seus braços.
Passou feito uma brisa
leve carícia em meu corpo,
suave, soprou meus cabelos
secou o suor de meu rosto.
Passou feito o raiozinho,
último do sol poente,
que aquece de mansinho
deixando a alma contente.
Passou feito uma pluma
tocada pelo vento
rodopiou com leveza
tendo que ir, não querendo.
Passou deixando poeira,
trilha de estrela cadente,
traçando no espaço uma esteira,
espetáculo comovente.
Passou deixando poesia,
paz, lirismo, fantasia,
sem pressentir que passava
falou-se em harmonia.
Passou deixando no ar
perfume de pura essência,
quem o sentiu reviveu
o tempo da inocência.
Passou percorrendo o mundo,
pedindo socorro e guarida,
muitos não viram que era
o Amor, simbologia da vida!


_Carmen Lúcia_

terça-feira, 17 de novembro de 2015

O que já se foi





Nuvens pesadas escondem o sol.
A primavera recolhe as flores
 apáticas  combinando desbotar
por não sentirem  afago da luz solar.

Ei-la que surge nesse cenário apagado.
Um vestido roto oculta o corpo minguado,
o perfil desfigurado, sua fragilidade.
Menos a alma inquieta maior que ela.
Menos os sentimentos a aflorar na pele.
E a emoção, registro de sua sensibilidade.

Perdida no tempo, encontra-se nas lembranças,
prende-se na saudade.
Refugia-se na solidão dos lugares que desconhece.
Vara a noite e a madrugada. Amanhece.
Quer ir, sem saber onde, vagar sem horizonte.
Reencontrar-se com o passado, talvez…
Chegar onde não mais podia, desta vez.

Mistura lágrimas das nuvens e dos olhos.
Gotas que aplacam marcas do corpo, do chão,
atenuando  as que marcaram o coração.
 Pede ao tempo, restauração,
devolução do que lhe tirou das mãos.
Passado é implacável.Clama em vão.


Resta pedir ao futuro o resgate
do sorriso roubado, da felicidade,
mas não quer abandonar o passado.
Alimenta-se de ausências, cultiva-as.
É o que preenche seu vazio,seu espaço.
Ausências que aliviam suas dores
regadas feito flores em qualquer jardim.


_Carmen Lúcia_




sábado, 14 de novembro de 2015

O poeta chora...




E o poeta chorou…
Chorou pelo que podia ser
e não foi…
Por tudo que cultivou
e não deu…
Pela flor que poetizou
e morreu.
Chorou pela insensatez,
pela aridez que se assolou,
pela pequenez que se inflou,
combalido mais uma vez
por ter perdido o sentido
tudo aquilo que fez…
Pela “esperança equilibrista”,
pelo fim do show do artista,
pela crueza fria que se estabeleceu,
pela paz que o mundo, um dia,
creu.
Chorou convulsivamente
de uma só vez…
Como uma criança
que sem nada entender
precisa, de repente, crescer,
castigada pelo que não fez,
esquecer a bala que a amargou,
encarar o mundo mau que hoje se instalou.
E o poeta chora…
Fora vencido nessa hora.
Chora por mim, por você,
pelo que sonhou…
As lágrimas são palavras
que não quer dizer
agora.


_Carmen Lúcia_

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Medos e verdades




Aparta-se dos sonhos.
Acomoda-se na angústia de ser quem não é.
Deixa que a fragilidade se expanda como quiser.
Não sabe como torná-los palpáveis.
O medo de parecer diferente,
destoar-se perante toda a gente
vivendo a mesmice peculiar do lugar
ganha a frente, imponente.
Entrega-se ao pleonasmo repetitivo de dias iguais.
Desiste dos sonhos.Sonhar jamais!
Tranca-os numa gaveta de medos.
Seus sonhos, seus segredos, seus enredos.
Há tanto dentro dela…
Palavras que jamais foram ouvidas
ditas no silêncio que gritava,
ao vento que passava
e parava para escutar…
Ao tempo que em veloz andança
abraçava a marcha lenta
dando tempo ao tempo
na esperança de mudança
da utopia em realidade.
Talvez um dia a gaveta se abra
(e venha à tona a verdade)
pelo acúmulo de sonhos guardados,
sufocando os medos,
revelando segredos
e os caminhos se esparjam
dando passagem aos enredos.


(Carmen Lúcia)

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Sonhar sempre




Quando tudo termina
ainda há como recomeçar.
Recolhe-se os sonhos
amontoados num lugar,
sopra-lhes as fuligens,
um sopro de vida para os reanimar,
aguça-lhes as asas,
apara as arestas
para os fortificar…
Agarra-se à esperança
(ela está ali a esperar)
ainda que o desânimo
peça-lhe que se vá…

Ensaia mais um voo
com o cuidado de não se estatelar.
( Tantas vezes se esqueceu de acordar.)
Fia-se nas rezas, em seu escapulário,
seu mantra, seu sacrário,
seu rosário de contas desgastadas,
na chama acesa da vela ao seu lado.
Volta a acreditar…
Não sonhar é morrer
e ainda há tanto pra viver…
Viver o que a alma apela,
o que a alivia, o que é poesia.
Abra portas e janelas.
Tira as tramelas…
Deixa o futuro entrar.


(Carmen Lúcia)

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Louca, eu?





Nasce o pensamento num repente…
Floresce em proporções tamanhas, irreverente.
Vagueia pela trilogia: alma, coração e mente.
Estranha mente! Lucidez insana.

Transborda pelo vazio do corpo,
escorre em qualquer direção,
inquietação em desvario,
palavras que não sabem se aquietar,
querem parar pra se anunciar,
perdidas, sem quem as oriente.
Quase amargura…Deprimente.
Mistura de lucidez com loucura.
Percorro caminhos até elas,
encho-as de significados…
Abro todas as janelas
e num só apanhado
coloco-as nos versos que traço,
pedaços de minha emoção.
Estranhice? Aberração?
Alguém não entendeu…
Ou não se perdeu na inspiração.


_Carmen Lúcia_

quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Falhas irreparáveis




Faltou dar significado à vida.
Viver o instante antes da partida,
trancar a porta aos sentimentos precários,
desnecessários para um transcorrer palpável.
Renascer a cada dia de esperança e alegria.
Faltou o recomeço, o afã de reinventar
motivos para comemorar
as artimanhas da sedução,
o fetiche da paixão. Exorbitação.
Faltou alimentar os sonhos…
Enfraquecidos morreram sem desabrochar,
como um rio que nunca chega ao mar.
Faltou caminho, chão aos nossos passos,
espaço para cultivar o bem que seria
as almas em união, corpos em comunhão,
destino a nos conduzir ao nosso lugar.
Faltou poesia.Versos se trombaram à revelia
sem sequer um gesto de amor.
Sem o encantamento da magia.
Faltou fidelidade à essência,
matéria-prima da existência.
Encarar o fracasso como reticências…
Faltou a demora na escolha das linhas
e das cores na trama dos teares
construindo o artesanato do amor
na delonga que exige o tempo,
seja lá quanto tempo for.
(Amor não se constrói da noite para o dia.)
Faltou futuro para tanta ousadia,
faltou bravura a desenhar o futuro,
faltou firmeza do ancoradouro seguro.
Faltou confiarmos em nós mesmos.
Abraçarmos o que nos convinha.
Contermos os desatinos.
E sucumbimos.
_Carmen Lúcia_