sexta-feira, 29 de maio de 2015

Através dos versos







Trago na boca sabor de sol,
 calor incessante a aquecer o sonho.
No olhar, a luz jorrada pelo arrebol,
acesa pela esperança  de um porvir risonho.
Na garganta a voz rouca de quem silencia
o brado resguardado a esperar pelo dia
de se  fazer ouvir o que a alma fala.

Trago nas mãos a calosidade da lida,
missão por hora  cumprida,
o que me reservou a vida, simples guarida,
acervo de minhas rimas e composições,
palavras recolhidas de minhas emoções
levando-me onde bem quero,
onde almejo e espero  
a realização dos sonhos.

Trago na alma a lágrima do inocente
que ao se calar, consente,
a culpa que jamais foi sua,
julgado a revel, justiça incomplacente,
verdade inconveniente,
injustiça a prevalecer,
e o culpado jamais castigado.

Minha  impotência em só descrever
 fragilidades em estrofes e  versos
 captadas de um mundo adverso
talvez possa ir além de escrever…
Um dia toque o ser insensível.
Quem sabe fale ao coração de alguém.




(Carmen Lúcia)





domingo, 24 de maio de 2015

Amanhecer






Quando nasce a manhã
busco a luz do sol…
Oculto-me da sombra
a se interpor  entre mim e o arrebol
tentando sequestrar a alegria
de simplesmente amanhecer…

Percorro espaços na sede do calor
a acalentar a alma que se extasia
ao sentir o abraço do romper do dia
que outrora só comprazia
e me alcançava onde bem me atrevia
em estar, em sonhar, em nascer co’a poesia…
Como se o próprio Deus me dissesse:Bom dia!

Hoje já não alcanço tanta luz
ou o sol esconde sua claridade.
Tento lhe buscar, avanço…Descanso.
Seu brilho perde a intensidade,
o encanto do dia não mais seduz.
Uma  sombra soturna agora invade
roubando a alegria de simplesmente
  amanhecer…


_Carmen Lúcia_



quinta-feira, 21 de maio de 2015

Estradas





Aqui as estradas se bifurcam…
 Em desnorteio procuro um sinal,
um final ou um  recomeço,
 metas que orientam (e desconheço)
a prosseguir até chegar ao final,
ainda que por caminhos sem fim.
Um testemunho, um endereço
a me levar ao destino cabido  a mim.

Acertar o passo, ter convicção do que faço,
encontrar o que me propus  a buscar,
ao que me entreguei anos a fio
tentando acertar, enfrentando desafios.
O que me coube por desígnio ou fé
navegando mares, nadando contra as marés.

Nesse desvario solto pelo mundo,
às  vezes “manso lago azul”
por outras, mar profundo,
em que ponto estou?
Qual caminho  tomar?
Não sei. Vou continuar…
Preciso andar…discernir…
E seguir o primeiro que surgir.


_Carmen Lúcia_

terça-feira, 19 de maio de 2015

Enquanto...







Enquanto o sonho durar
e tiver asas para voar
hei de viajar, de desbravar,
encarar limites, ir  mais além…
É que a poesia não mensura espaço,
perde-se no  abraço,  num traço,
num passo, num rastro,
 num bem…

Enquanto o encanto durar
e a inspiração resistir
não desfarei o quebranto…
A sensibilidade - meu manto -
meu canto de ilimitações.
Irei onde anseio ir
buscar o outro lado
do lado que ficou pra lá.

Enquanto o lirismo persistir
e a inspiração pulsar
em lúcida, translúcida,
insana forma de amar,
de se entregar,
quero me aconchegar, me doar
à fragilidade que dança,
à beleza que alcança
todo e qualquer patamar…
onde a poesia existe
e o amor insiste
em querer ficar.



_Carmen Lúcia_




terça-feira, 12 de maio de 2015

Bem sabes





Bem sabes…
de tudo que sinto
do quanto ressinto
em  não mais sentir
pra não me ferir
 me persuadir…

Bem sabes…
a vida que levo
ao que me entrego
a que me enlevo
o quão me atrevi
 chegar até aqui…
(eu quase morri)

Bem sabes…
(e o  sabes muito bem)
o que me faz bem
me traz bem aquém
 me leva além
 distante de mim
 bem longe do fim…

Só não sabes…
(jamais irás saber)
ainda me busco
onde quis me perder
apenas me ofusco
na luz que acender...
rebato, me acho, me ato
me trago até mim…
me acato, me capto, resgato
e me digo: Sim.




_Carmen Lúcia_


quinta-feira, 7 de maio de 2015

Aridez do sertão






No semblante,  traçados  da  terra  ressequida
retratam  o solo agreste do sertão
onde  a  chuva miúda chuvisca distraída,
onde o atípico verde-musgo  foi morar
 brotado dos (es)poros das células mortas
 em desencontro com o habitat,
com a secura nativa da pele,
deixando um ar de desconsolo e desalento
em quem vive a longevidade sem vontade
porque a morte se esqueceu de a levar…


Esconde-se no brilho seco do olhar
perdido no mais longínquo sertão
à espera  que a ilusão lhe traga, em vão,
 alguém que lhe jurou voltar…
A dor não mais a incomoda,
 acomoda-se na calosidade de seus flancos
a carregar cestos de caju e de cajá
e a sobrevivência  provinda desses frutos,
passos trôpegos  para lá e para cá…

Virou parte de seu funesto itinerário
a lida vivida no âmago seco da vida,
no retiro desguarnecido do coração solitário,
no cerne do sertão onde nada acontece,
nas contas já puídas do rosário,
na velha ilusão que esmorece,
na desilusão tecida em macramê,
na desesperança de nada acontecer.



_Carmen Lúcia_




sábado, 2 de maio de 2015

A vida convida









Pisa o que ficou, segue adiante,
carrega consigo o que foi relevante.
Só! Algumas doces lembranças
que ainda não viraram pó
e registram  a leveza dos fatos
não marcados pelo dó.

A vida sempre fica aberta
mas tem que se saber entrar…
Retomar a rota interrompida
ouvindo os sinais de alerta
ou errando para acertar.

Sonhar não tem hora certa,
sempre é tempo de sonhar…
embramar-se em  fantasia
dar novo ensejo à alegria,
 em nova estrada ver o sol brilhar.

Mas o tempo uma hora fecha,
não deixe o sonho se atrasar
que a porta pode se emperrar
deixando-o  lá fora
por ter perdido a hora de chegar.

 Sem a mala pesada que cansa
siga o curso que o amor alcança,
sem resquícios do que ficou pra trás.
Rupturas  que  não têm concerto,
que o tempo corrói e não refaz…

 Nasce de novo, renova,
faça do coração o marco zero,
abraça a causa que lhe comova,
deixa a emoção povoar cada lugar…
É a vida convidando para amar.


_Carmen Lúcia_