quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Escrevo?



Escrevo...
a folha em branco me impele
provoca-me
convoca-me
remexe meus neurônios
os sentimentos à flor da pele
quer que me revele
que me rebele
trace recônditos da alma
a ansiedade que me transtorna
o momento em que me encontro.
Palavras se difundem
 confundem as emoções
debatem-se em confronto
emudecem as razões.

Escrevo...
um emaranhado de letras
embargadas na mente,
de início, incoerentes,
mas que ganham sentido
de repente
à medida que descrevo
a verdade (in)contida
a palavra que não digo
o silêncio que consente
em calar o que sinto.

Escrevo...
no papel em branco
- meu cais-
onde aporto meu barco,
onde choro meus ais
onde volto e parto
e o branco do papel já não é mais
 molhado e pardo
descreve a neblina
de pranto e de mágoa
expressa o que quero
o que  grava a minha retina
mas que nunca revelo.

_Carmen Lúcia_

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Enquanto tu dormias...






o sol se escondeu,
dando passagem à lua
que ao mudar de fase
tirou sua roupagem
e mostrou-se nua,
qual dama lá do céu...
e reluzia nova
clareando trovas,
sonhos de menestrel.
Enquanto tu dormias...
eu petiscava lantejoulas
e peroladas estrelas,
nobre coroa
que piscava entre véus
e namorava a rua,
no silêncio da noite...
mudez dos becos úmidos,
expectativas...
aroma de rosas...
aguardar das avenidas...
encontros pútridos...
sentimentos torpes.
Enquanto tu dormias...
corujas sombrias
piavam a espreitar
sombras escuras
vagando perdidas,
tentando encontrar
as chaves de cofres
que lacram segredos
de fortes enredos...
nem mesmo alquimia,
nem pedra filosofal
ou toda a magia
transmutam o final.
Enquanto tu dormias...
a brisa da noite
soprava soturna...
e lá no telhado
ao ver-se ameaçado,
um gato a miar...
arrepiado,solitário,
arisco...livre...
( qual alma de poeta)
partiu pra outro lugar
sem se deixar pegar.
Enquanto tu dormias...
homem solto nas ruas
divagava pra lá e pra cá...
deslumbrado, inebriado
por alucinações...
luziam bares,
retiniam gargalhadas...
encontros loucos,perdidos
entre cores de anúncios
coloridos e neon...
Enquanto tu dormias...
As canções cobriam os palcos 
e o homem
tudo via e ouvia
qual pássaro a alardear
um trinado vibrante...
distribuía
suas impressões
entre luzes,
velas
e paixões...
Repentinamente
a sombra errante
desaparece num instante,
fugaz como o tempo
...para os amantes...
Enquanto tu dormias...
... e nada vias... 

     Carmen Lúcia & Angela
Oiticica

domingo, 18 de janeiro de 2015

Despedida (In Memoriam)






Hoje a vida me pegou desprevenida...
Mais um torpedo lançado sem dó,
o tudo transformou-se em nada,
o que se fez do pó, voltou ao pó.
Que fazer quando tudo já foi feito
e não há mais jeito de se reverter?
Impossibilidades, limitações,
fragilidades enfraquecidas,
debilitada impotência
que nos permite apenas sermos humanos.
E choramos o pranto mais sofrido,
a dor inconformada de ter perdido.
Carregar esse vazio até passar o frio
e outro tempo venha aquecer
o lugar que sempre há de ser seu...
Esse não morreu!
Curar essa ferida que arde,
lembrar-me que existe a saudade
de um tempo que já não faz parte
mas traz as lembranças do que se viveu.

_Carmen Lúcia_

sábado, 3 de janeiro de 2015

Dancemos

  Dancemos.
Esvoaçando no ar, voando sobre o mar,
girando por todo lugar.
Gravemos no ponto mais alto
nossa história de amor.

Dancemos.
Enfrentando fronteiras
sem luta ou rancor,
levando nossa bandeira
em ritmo de amor.
Que a leveza da dança
desfaça a dureza da dor.

Dancemos...
A dança dos cisnes...
*E antes que a água se tisne
e a morte leve um de nós...
Que ela nos leve a ambos,
pois o outro morreria logo após.

Dancemos.
Multipliquemos nossos passos
invadindo espaços
à medida da dimensão de nosso amor
e entre montanhas, jardins e nuances
demos mais ênfase ao nosso clamor.

Dancemos,
deslizando por rios serenos,
cascatas brancas e brandas que entoam a paz,
cantemos a mesma canção
das águas dançantes, em tons bem iguais.

Dancemos...
O bailado dos flamingos
em busca da alma gêmea,
santuários e cenários tão lindos,
incompatíveis à sensibilidade humana,
sublimando nobres sentimentos
antes do acasalamento.

Dancemos.
Cirandas da vida, retratos de emoções,
ao som de melodias que vêm do coração
ao tecer coreografias plenas de poesias
onde o amor acontece sem nenhuma utopia.

Dancemos.
Deixemos falar a expressão da alma,
mostremos nossa transparência,
curvemo-nos em reverência
ao Amor!

*alusão ao poema:Os cisnes(Júlio Salusse)

(Carmen Lúcia)
01/06/2009