quarta-feira, 30 de julho de 2014

Que tempo é esse?



Que tempo é esse?


 Tempo que traz nova vida
e até nos convida para celebrar.
Tempo que arrebata a vida
e ainda se olvida de quem faz chorar.

Tempo que gira veloz,
carrossel de emoções, temível algoz.
Às vezes tempo de paz, de amor e paixões
ou que gera a guerra  sem trégua
e segue gerando  frias solidões.

Tempo, que num repente, muda cenários,
o belo, o feio, caminhos arbitrários...
Cobre de flores a esterilidade do chão,
 entre gotas de chuva e de sol
faz nascer o arco- íris e o arrebol.

Tempo, um vaivém de dores, rancores,
ciranda de risos, amores, perdão...
Tempo que faz do poeta, artesão,
sincronia de arte e paixão.

Tempo que dispensa rimas
rimando a todo tempo
os passos da bailarina,
tempo que morde e assopra,
 beija e se desdobra
para não abraçar.

Tempo que escreve sem linhas
no branco (que assusta) da folha, a sina.
Que leva o remédio da cura,
os disfarçados efeitos especiais
e deixa o que não mais perdura,
o que nos transforma
em (d)efeitos colaterais.


_Carmen Lúcia_










terça-feira, 29 de julho de 2014

Antes que a chama se apague




Quero encontrar palavras
que traduzam meu modo de ser.
O que fui, o que sou, o que um dia serei.
Os fatos reais, banais, atemporais,
que o mundo lembra e esquece,
ou não lembra ou não esquece jamais,
apesar da chama acesa que permanece
e só se apaga quando mais nada acontece.

Que das palavras brotem versos
em canteiros de sóis, girassóis, arrebóis,
a surpreender o mundo que dorme,
ou não se conforme, talvez,
com o desvario da insensatez
ou com o que nos consome,
mas a alegria ainda ronda;
o sonho persistente sente fome.

Os versos azuis pintados
na tela da manhã que reluz
são um convite para a dança
que não posso recusar
enquanto a luz me alcança...
É aí que me enquadro,
consigo me encontrar
e me integro nesse quadro
enquanto meu tempo durar.

_Carmen Lúcia_

sábado, 26 de julho de 2014

A poesia virá...



E a poesia virá
nascida de todo lugar...


livre, plena, pura,
apesar do breu da noite
que traça mistérios no ar
ocultando a lua insinuante
que através de uma nuvem entreaberta
revela um brilho de sedução
provocando um fascínio ofegante
que prontamente despertará.

E a poesia virá
quando ao abrir os olhos
vir a noite virar dia
colhendo toda a alegria
da manhã que sugere renascer
encobrindo a nostalgia
de um sol que se faz poente
e languidamente
desmaia no horizonte
após da tarde, a despedida,
e calmamente se vai...

E a poesia virá
quando a esperança ficar.
Ainda que a dor atormente,
o mundo tornar-se descrente,
o sofrimento teimar em arder
queimando o cerne da gente,
a alma só ganhos terá
lapidada pelo ourives do tempo
trazendo a certeza de que passará.

E a poesia virá,
simplesmente,
sem palavras, brandamente,
com o silêncio que se fará,
traduzido pelo encantamento
dos versos que o poeta interpretar,
enlevado pela emoção
de quem fala sem falar.


 _Carmen Lúcia_

sexta-feira, 25 de julho de 2014

Qualquer dia



Qualquer dia desses vou virar a mesa,
vou chutar o balde e mudar meu texto,
sair desse cenário tão fora de contexto,
dessa mesmice mórbida que só me retesa.

Qualquer dia desses eu ponho o pé na estrada,
mudo a jornada, faço diferente,
tomo novo rumo , descubro outro mundo,
bato em outras portas, vejo novas gentes.

Qualquer dia desses quebro a rotina,
me ponho a dançar tango, à moda argentina,
e se o inusitado prostrar-se a minha frente
a ele dou o braço e sigo irreverente.

Qualquer dia desses...e ele se aproxima,
quebro o marasmo, vou de encontro ao vento
levada pelo encanto do surpreendente,
vivendo as emoções que traz um novo tempo.

_Carmen Lúcia_

domingo, 20 de julho de 2014

Amigo




Amigo
De todas as horas
Dos tempos difíceis
Dos tempos de agora
Da alegria que canta
Do pranto que chora
Do ombro emprestado
Do colo molhado
De riso e de pranto
Da cumplicidade
Da fidelidade
Segredos guardados
Confiados, trancados,
Um só querer bem.

Amigo
Sempre comigo
Mesmo distante
Presença constante
Que sente o que sinto
Ausente pressente
Escuta o que digo
Presente consente
Aconchego e abrigo
Que já foi embora
E não se afastou
É anjo da guarda
Está onde estou
Amigo é pra sempre
E a quem não se recorde
A amizade é um amor
Que se eterniza, não morre.

_Carmen Lúcia_

sexta-feira, 18 de julho de 2014

Meu mundo




Lá fora me chama o tempo
e incansável, meu nome proclama
ecoando nas marolas do vento,
ora brando, ora turbulento.
Aqui dentro, mundo imaginário,
eu me retranco.
Burlo as leis do calendário,
horas, dias, meses e anos
e deixo o tempo ir, sem resposta,
sem realizar o que mais gosta.
Retiro as travas da alma,
libero o que me acalma
emoções sinceras e retidas
que em catarse se manifestam
contra as opressões da vida.
Abro uma janela no peito,
meio que sem jeito, exangue,
e a luz, antes como um bumerangue,
penetra agora interior adentro
reacendendo minha existência,
meu pensamento, minha essência.
Revela o amor adormecido
na invisibilidade da abstração,
entre as metáforas, escondido,
nos textos mudos e não ditos,
nas entrelinhas da composição.
Ah, tempo, passe a contento,
não mais importa que me chame o vento,
pois no mundo em que me adentro
a poesia rompe ao romper o dia,
o amor é amor de fato, é nato
e a fantasia se tornou real.
_Carmen Lúcia_