sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Hoje é carnaval



Hoje é carnaval

Hoje o dia está triste. Chove lágrimas de um céu cinzento e hostil, em discrepância com o carnaval. Ainda há carnaval!
A alegria descabida e camuflada de um cenário não convincente onde protagonizam a vida vestida de dourado, teima em desfilar pela avenida em desagravo às sanguinolentas feridas.
Querem curá-las a qualquer preço...mesmo arrancando suas cascas com as unhas para sangrá-las de uma só vez. Ou quem sabe estancar o sangue no intuito de reverter a dor e viver intensamente, no sentido mais amplo da palavra, o real carnaval, pois é ele que corre nas veias de um povo sonhador, que não se curva, não se abate, não desiste de fazer desse momento um canal gigantesco, surreal, por onde possam extrapolar todas as mazelas sofridas e dar vazão ao sonho de ser rei, rainha, deus, destaque, bateria, samba, enredo... de até voar, voar... concretizando o "Sonho de Icaro".
Três dias que valem por uma vida! Momentos a serem relembrados e aclamados durante o ano inteiro! Felicidade que alivia a infelicidade das desigualdades e injustiças sociais. Momentos que anestesiam os ais e energizam para a luta de cada dia.

_Carmen Lúcia _

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Quem sou?




Quem sabe não seja eu
nem essa minha vida
da qual venho revestida
e que não sinto vivida.

Penso, logo desisto.
Ajo, mas não existo.
Falo aquilo que calo...
Calo aquilo que insisto.

Encontro-me para me perder.
Perco-me para me encontrar.
E se me perco, me ergo!
E se me acho...Capacho!
E desse tudo
sou Nada!

Nascida na hora errada,
sem data prevista ou marcada,
num tempo de uma outra vida...
Na vida de outrem, perdida,
roubando-lhe a chegada,
truncando-lhe a partida.

_Carmen Lúcia_

domingo, 16 de fevereiro de 2014

Não sei definir felicidade





Não sei definir felicidade.
Seria aquele bombardeio
em plena flor da idade,
hormônios versus hormônios,
 forte rubor na face,
pernas bambas, mil demônios,
taquicardia, ingenuidade,
olhar a denunciar, sem disfarce,
um louco amor que de repente invade?

Não sei definir felicidade.
Seria aquele sorriso largo
nascido da emoção,  ilimitado,
ou a cadência dos seus passos
trazendo você aos meus braços?               
Uma batida na porta...
Balbucios, beijos, abraços,
o mundo esquecido lá fora...
O que mais importa agora?

Não sei definir felicidade.
Às vezes se chama saudade...
É tristeza e alegria,
 lembrança de cada dia,
faz sorrir, faz chorar
a um só tempo
vem e se vai com o vento,
às vezes não volta mais.

E a brevidade do instante
daquela presença constante
perpetua-se para sempre
embora estando ausente.
Nunca mais se desfaz.
Faz tanger o coração
em suave melodia,
faz vibrar a emoção
transformada em poesia.


_Carmen Lúcia_




sábado, 15 de fevereiro de 2014

Lá...






Lá, onde o dia é luz quando amanhece
e o gorjeio do pássaro em sua plenitude
reluz  pela  manhã que resplandece,
acorda o acervo das virtudes, as põe à prova,
onde o silêncio  é prece,  entorpece
e o acorde  vertente das cachoeiras
 é melodia sacra a ressoar horas inteiras
soprando a manhã que desperta
a espera de um dia abençoado.

Lá, onde o ímpio adormece crédulo,
 a fantasia doutrina a heresia,
 a incredulidade se esfumaça na manhã
formando nuvens brancas de sonhos palpáveis,                              
 fantasias plausíveis e versos infindáveis,
 o sagrado cala os burburinhos,
 conscientiza  o homem que profana
e num entrelaço se entrega  à magia,
profetizando um amanhã de paz  e de quem ama.

Lá paira minh’alma, noite e dia,
vagando fontes de inspiração,
lapidando pedras, cravando emoção,
buscando na manhã sem mácula
versos que colorem  a vida,
palavras plenas de significados,
íntegras de harmonia,
grávidas de poesia.

_Carmen Lúcia_


segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Bastidores





Invadi o teu palco
Impedi tua cena
Gestos tresloucados
Ora febris, ora pacatos
Silenciei os aplausos
O teu riso sorvi
O teu pranto extorqui
Ao lavar o teu rosto
Enxugar teu desgosto
E fingir que não vi
O que via em ti..

Removi maquiagem
Toda aquela abordagem
Mascarando teu eu
Tudo o que se perdeu
Personagem irreal
Das tramas ardis
Das teias sutis...

Rasguei o teu texto
Invadi teu contexto
Revelei tua farsa
Sem omissão de nada
Fiz valer a verdade
A que mais te condiz
E te deixa feliz...

Desliguei refletores
Luzes e esplendores
Brilhos, refleti(dores)
E por detrás dos panos
Ocupei teu espaço
Te acolhi num abraço
Beijei o teu pranto...

(Carmen Lúcia)

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Viagem


Viajemos juntos na mesma embarcação...
Tomemos o mesmo rumo, a mesma direção...
Encontremo-nos, por coincidência, na mesma estação
e partamos a sós numa viagem sem fim...


Façamos do acaso nosso ponto de encontro,
sem mágoas que corroem, marcas e confrontos...
Deixemos o destino cruzar nosso caminho,
sejamos alvo da mais ardente paixão...
Almas num só corpo,
mentes que surpreendem
a imaginação...


Entrega-me flores com o teu olhar 
e meu olhar se encherá de cores
que se espalharão pelos lugares
onde transitam livres razão e emoção,
num desequilíbrio lúcido,
numa cumplicidade lúdica,
pendendo às sensações e vibrações...


Tracemos rotas de puros sentimentos,
congelemos nossa vida em momentos,
aqueles que jamais esqueceremos,
aqueles que incitam a sonhar...
Deixemo-nos levar pelo abandono
a conduzir nosso amor, sem aportar...


(Carmen Lúcia)