terça-feira, 22 de outubro de 2013

Refletindo sobre a vida







Pelos caminhos da vida
quantas histórias vivemos,
 quantos enredos erramos
 ao inserir um texto
repleto de enganos,
tão fora de contexto?


Quanto cenário destruído,
inverdades  imbuídas
num palco que não nos pertence.
Quanta cena atribuída
ao teatro que não retrata a vida
e que a realidade dispensa.


Em busca dos sonhos
quantos planos mudamos.
Quantos se perdem,
 quantos conquistamos.
Nem sempre o que mais sonhamos
é o que realizamos...

Infinitas  estradas  se bifurcam
a nos confundir. A qual seguir?
Qual nos levará ao que idealizamos?
Em quantos erros incorreremos,
quantos acertos  acertaremos?
Certo ou errado, como saberemos?

Errando e acertando
 construiremos nossa história,
simplória ou repleta de glórias
e a experiência adquirida
reescreveria uma nova vida
se o tempo voltasse atrás.
Só uma existência é pouco demais.

_Carmen Lúcia_

O melhor de mim





O melhor de mim


Retiro do íntimo a dança e o melhor de mim.
Sinto-me mutilada, metade de nada.
Tanto tempo entranhada, enraizada,
se fez coração, oração, corpo, alma, paixão.
Por que mantê-la guardada agora?
Deixe que se extravase pela vida afora.

Já não rodopio, me perco nas voltas,
 nas pontas dos dedos não me fio,
devagar  conduzo meus passos, a revel,
onde, outrora, preenchia os espaços
levitando em giros, alcançando o céu...

Ouço a melodia que minha essência cria
e a alma dança, sem técnica, em harmonia,
livre como  ave em busca de seu reino
na mais perfeita coreografia,
 sem qualquer treino.

Descreve nas nuvens versos e rimas,
na dança se integram poesia e bailarina
que me levam, leve como a brisa,
a imaginar que lá estou eu
num acervo imaginário de arabesques,
pas de deux , sapatilhas, dedicação,
viravoltas, definição, perfeição,
cenário sublime que se torna eterno
aos meus olhos turvos pela emoção.


_Carmen Lúcia_





domingo, 20 de outubro de 2013

Ela


Ela

Ela

Atravessa a porta destravada,
tão cedo descobre a estrada.
Parte, ávida de anseios,
grávida de sonhos e devaneios.

Quer recuar, sente medo.
Desconhece a vida
e seus segredos...
Decide continuar.
O novo mundo a atrai.

Pisa os campos em flores,
 vê pássaros cantores e cores,
 grama macia, cheiro de mato,
alecrim deixando seu rastro.

De repente, a relva vira asfalto
e os campos, selvas de pedras
trucidando flores e pássaros cantores ,
exalando cheiro de óleo diesel.
E o mundo se torna desprezível.

Conhece a vida e seus enredos
e a cada experiência vivida,
uma ilusão perdida...
Amores irrisórios, oportunistas,
frutos da sociedade capitalista,
tolhem sua identidade, sua ingenuidade.
O abuso e a exploração entram em ação.

Hoje traz o riso nos lábios
e lágrimas nos olhos...
No sorriso de menina há o pranto da mulher.
Seu coração diz não,
mas em contradição
sua boca tem que dizer sim.

_Carmen Lúcia_


Morte e ressurreição de um poeta



Sangra, agora, seu coração...
Mudo, destroçado, descompassado.
Quer bramir um verso,
despertar a emoção...
Mas cala-se ante o gemido que brota
confirmando a triste derrota.
Sangrando assim, não é capaz...
Sangrando assim, seu verso jaz.
Outrora voava com a fantasia,
som de violino em feitio de poesia,
seus versos percorriam céus e terras...
Era o amor indo ao encontro de almas vazias.
Pisotearam o poeta, tiraram-lhe a visão,
rasgaram os seus versos, escarraram suas rimas...
Amores perversos, almas desumanas,
maldade imbuída na mente humana.
Hoje, um farrapo vagueia pelas esquinas,
um resto de inspiração o incita à nova vida...
E tateia as emoções pelos cantos, perdidas,
restaurando seus versos, resgatando suas rimas...
Esculpindo sua alma...Um verdadeiro artista!

                (Carmen Lúcia)

sábado, 19 de outubro de 2013

O nascer da poesia







Frêmitos navegam meu corpo, ancoram minh’alma,
despertam sensações latentes vertendo mares desconhecidos,
vêm com o calor que queima e a mansidão que acalma,
veleiros a velejar por versos ainda não traduzidos.

Clamam por detalhes escondidos pelos cantos,
sonhos demolidos, restos de paixões pelas esquinas,
pedintes que esmolam, ignorando seus encantos
que afloram minhas retinas, rabiscando rimas.

Partículas que teimam em clarear a escuridão
rogando que as recolham, saciando suas sinas,
pedaços que imploram por gestos de restauração.

Fecho meus olhos, entrego-me a devaneios,
e o nascer da mais divina inspiração
gera a poesia, aquietando meus anseios.


_Carmen Lúcia_

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Viajantes

Somos ínfimos pontos de uma imensidão
nesse desencontro de universos
onde transladam sonhos, barganham versos,
num transitar perplexo e de abandono.
Buscando seus espaços, almas perdidas,
desfazem-se dos laços, em despedidas,
anseiam referências, com persistência,
o marco zero da vida, o que inicia... 
(ou o que termina?)

Somos partículas de um todo,
(ou de um engodo?)
Que atirou a todos em arremesso...
Marcados, predestinados, etiquetados...
Cada etiqueta, novo tamanho e novo preço...
E o tributo a ser pago, a revirar ao avesso.

Somos viajantes de um mesmo barco
a tripular pelo oceano, desejos parcos...
Barcos empoeirados, repletos de lama,
a navegar em águas límpidas...
...e indisponíveis aos nossos planos...

(Carmen Lúcia)

Hoje é dia de sonhar


 Hoje é dia de sonhar...
Deixar falar alto o coração,
Empolgar-se, viver de emoção,
Liberar intrínsecas vontades
A saciarem vasta liberdade.

Hoje é dia de sonhar...
Fazer do amor matéria-prima
A se entranhar e fazer trilhas
Até onde o sonho alcance, avance
E persistente, tende a se concretizar.

Hoje é dia de sonhar...
Ficar disponível a eventualidades...
Imprevisto é tempero da felicidade
Quando bruscamente o coração invade
E o sacode, incita, rouba a fatalidade.

Hoje é dia de sonhar...
Andar, correr, mergulhar na ilusão...
Voar, planar, resgatar o que perdeu,
Pensar que o ontem nem existiu
E o amanhã, saudade do que viveu.

Carmen Lúcia

Rompendo correntes





É inevitável que preciso mudar.

Libertar-me de padrões que engoli

com a garganta seca de ansiedade,

de tabus apregoados, tatuados em mim,

bradando aos meus ouvidos atrocidades

e tudo o que não olvidei de ouvir.



Liberar desejos engavetados, lacrados,

que eu repudiei de maneira hipócrita

com a vontade louca de ceder,

me envolver, te devolver,

presa a preconceitos cravados no peito

que me impediam de ver, viver, querer, ser...



Quero afastar a hipocrisia de meus atos,

e renascer, fluir com meus anseios,

 integrar-me aos teus devaneios

que também são meus.

Guardei-os em segredo pra revelar agora.

Talvez não seja tarde demais...



Não vais embora! Verás do que eu sou capaz...

Desfaze tuas malas, crê que eu mudei...

O medo já não há...De me entregar, de me doar.

E meus pudores, herança de ancestrais,

crendices abissais, não os carrego mais...



Recriarei meus sonhos e alçaremos voos,

ousando alcançar a plenitude desse nosso amor

vitimado por um passado que abominei.

Fica! O tempo te dirá que eu mudei!



_Carmen Lúcia_