sexta-feira, 14 de junho de 2013

Mudanças...




Em fase de reconstrução
quebro meus tabus, estereótipos vencidos,
normas, padrões, regras , princípios,
tudo o que faz infeliz
e que a mim já não condiz.

Boto o pé na estrada...
Mudo a fachada, a cor descorada
mantida por nada.
Ausência de vida, pulsação, ação atrevida
 acomodada em mórbida situação.

Perco a chave de casa deparando a saída
e me entrego ao que vier, sem  despedida,
ao que me desperte o desejo de viver.
Tiro da bagagem o supérfluo,
o peso, o excesso,
o desânimo expresso
num cansaço mental, moral, letal.

A inércia sem controvérsia nem manifesto.
O sim bradado em contradição,
o não engolido por persuasão .
Quero gargalhar até chorar
lágrimas que brotem do sorriso...
Gritar mil vezes sim e não.

Florir em qualquer estação
sem respeitar placas de aviso...
Pisar na relva verde
 e de verde reabastecer a alma
até que ela aporte num cais que seja calma,
 onde seja feliz, onde conforte a alma.


_Carmen Lúcia_




Vida sem vida



Por onde se perdeu a minha vida?
Em qual esquina tropecei em minha sina?
Qual derrocada me deixou tão derrotada?
Que passo em falso me atirou ao cadafalso?
Sou um fantasma que trafega com o vento;
um leve sopro e me ancoro em qualquer tempo,
se vier mais forte, meu suporte se arrebenta
e a poeira do meu rastro se incendeia,
e me abrasa, levando-me à cegueira.
Por que de mim a vida se perdeu?
Pergunta infértil que não leva a nada,
visto que a resposta sou eu...
E o silêncio que me inunda se aprofunda
na essência congelada
retratada em meu ser, que sem saber,
sem se conter, quer responder...
Poderia ter sido feliz, mas não quis.
Sem qualquer explicação, de tudo me desfiz.
Sonhos que gerei e que não busquei
ou tardiamente procurei...
E já não tinham mais razão de ser.
Amor que imortalizei, mera ilusão...
Versos que materializei, inspiração,
espatifados no mais alto patamar,
onde a poesia conjuga o verbo amar;
que desprezei, não o soube conjugar...
E não me amei, nem me deixei amar.
Sou corpo sem abrigo,
espectro sem jazigo,
alma a perambular...
Que ainda ousa a chance
da luz de um novo dia,
virar a página e resgatar a vida,
ir ao encalço da esperança perdida,
sepultar a vã filosofia,
deixar de morrer a cada dia
e a cada amanhecer
dançar a dança do saber viver.
E sobreviver...
Louvando a graça recebida!
E na próxima esquina, ainda espero,
Esbarrar-me com o novo...
Recomeçar do zero!

Carmen Lúcia

terça-feira, 11 de junho de 2013

Incomparável




Comparo-te ao outono,
ao dourado de meu sonho,
às folhas que se esvaem
num tempo bem ameno
de sol que às vezes brilha
acarinhando o dia
em outras que desmaia,
e brilha a nostalgia.
Comparo-te a chuva miúda
gotejando vida...
Em mim brotando alegria,
afastando qualquer melancolia
ao desabrochar da primavera...
Envolvente e mágico perfume
e a inquietante espera
da tua presença com teu lume...
Tens o fascínio do mistério
e a chave da revelação
da eterna mutação da natureza,
sedução da estação que preconiza
a suave inquietação de tua beleza.
Comparo-te ao ritual do fim de tarde
quando o tempo parece parar
e por detrás de uma vitrine embaçada
observa folhas amareladas, outonais,
ladeando a passarela de sonhos irreais.
É como se depois da tempestade,
da bravia tormenta e da neblina
com o arco íris se encontrasse
encantando-me a retina.
A noite vem de repente...
Véu negro pontilhado de prata.
Traz fantasia, sons e odores inebriantes
que arrebatam...
Pergunto-me: És deus? Um mito?
Surreal? Metafísico?
E sinto romper a linha tênue
atada à lógica e à emoção
e me amparo ao desequilíbrio
insano da incompreensão.
Perco-me na imensidão do meu medo
sem saber ao certo a dimensão
desse enredo...
Apenas enveredo-me nesse sonho
que transita entre o real e o irreal
nessa aventura inigualável...
Nesse sentimento sem palavras...
Para sempre Incomparável!


_Carmen Cecília e Carmen Lúcia_

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Dor tangente





Brada o silêncio
a dor tangente que fica
quando o amor se vai.
(Im)Piedosamente
se faz presente
-mente-
canta canção
- simulação-
Esbanja abraços
se embola em laços
em nós atados
no coração,
em mim.
Como  jasmim
num jardim d'Outono.
Pura melodia
ou emoção
nesse momento
de poesia e abandono.
A dor entoa
(por mais que doa)
acordes de bandolim.
Se faz saudade...
Sem dó nem piedade
cavouca lembranças
de um amor sem fim
como se fim não houvesse
e tanta tristeza coubesse
no meu coração,
em mim.
Abraço-a.
Se a dor insiste
rebate a vida,
a emoção persiste
ainda que sofrida,
e toda inspiração
gerada da agonia
recolhe lindos versos
compondo poesia.
Confunde a solidão
por não estar tão só,
por sermos par constante,
ao menos um instante,
na dança exaurida
que baila a despedida
ao som do bandolim...
Ah, dor! Que é canção,
é flor de meu jardim,
toca o coração,
dói dentro de mim.


Luiza Caetano e Carmen Lúcia

sexta-feira, 7 de junho de 2013

Leva-me...




Leva-me, oh, mar!
Às profundezas de teus mistérios,
entre águas, algas e corais,
onde jazem desfeitos navios e castelos,
histórias guardadas não reveladas,
onde habita num sacrário, a paz.

Leva-me, oh, oceano!
A circundar em tua imensidão,
 participar de teu plano como um rito
navegando meu barco farto de conflitos,
despejá-los nas ondas que nunca voltam
onde o horizonte despenca no infinito.

Leva-me, oh, céu!
Põe-me asas, carrega-me contigo.
Quero transcender a mansidão de teu véu,
 descortinar alcovas de amores incontidos,
alçar um voo atrevido, destemido
e abraçar toda brandura  do infinito.

Preciso transitar entre as estrelas,
descobrir onde acordam, onde  adormecem
e me cobrir de fantasias e cintilações.
Onde a noite surge e a manhã começa,
pra onde vão as minhas orações
quando aos céus dirijo minhas preces.

Leva-me, oh, montanha!
A permear entre névoas, cascatas e entranhas,
trilhar a rota da emoção num sonho colorido
e lá de cima vislumbrar um mundo mais bonito.

_Carmen Lúcia_










quarta-feira, 5 de junho de 2013

Tributo à Vida



Tributo à Vida

Vida, grata por manter-me viva.
Ver o sol nascer devagarinho,
aquecer o mundo e num toque de carinho
derreter geleiras de corações truncados,
olhares vazios, janelas emperradas.
De almas aflitas que anseiam ser tocadas.

Vida, grata por manter-me viva.
E poder ver o vaivém do mar...
O festival de barcos e velas içadas
Indo e vindo em ondulações e emoções
no verde-azul das águas...
Caminho de sonhos, partidas e chegadas.

Vida, grata por manter-me viva.
Andar pela relva ainda molhada
de orvalho suave da madrugada
a refrescar meus pés durante a caminhada
numa estrada salpicada de dor e muita flor,
onde o espinho não penetra tanto quanto o amor.

Vida, grata por manter-me viva.
E me ter guardado boas lembranças do passado.
Hoje tenho o presente em minhas mãos.
É nele que me situo e meu viver é compactuado.
O amanhã é penumbra que o tempo engole,
é rédea fora de meu controle.

Vida, grata por manter-me viva.
E ter o privilégio de confabular com o universo
tentando entender toda a dimensão de seu mistério,
pedindo estrelas para enfeitar meu verso
e à lua, nova fase para que eu sempre recomece
crescente, cheia de vida, da alegria que permanece.

_Carmen Lúcia_

domingo, 2 de junho de 2013

Abrindo janela



Pra que  fresta? Pra que tramela?
Decidi escancarar minha janela...
Deixar de me esconder por detrás dela,
fotografando o mundo pela metade
presa ao ostracismo que me invade
queimando detalhes, belezas escondidas...
o elã vital, motivo maior, sentido da vida.
 
Nada de cortinas, chega de vidraças.
Quero ver o sol transpassar inteiro,
aberto, liberto, total,
a queimar meu corpo, aquecer a alma,
irradiar as flores de meu quintal.
 
Descobrir os cantos, mistificar encantos,
torná-los metáforas da vida,
reativar a esperança frágil e encolhida,
vê-la renascida sob nova luz.
 
Basta de raiozinhos, trancas nas janelas...
Quero o sol ardente derreter correntes.
Abrir janela e pular por ela,
juntar-me aos sentimentos que joguei lá fora,
catá-los com a mão, resgatar a emoção.
 
Obstruir os caminhos da dor...
E sorrir, cantar, correr, viver.
Deixar ao acaso a restauração  de meu ser.
 
_Carmen Lúcia_
 
 

sábado, 1 de junho de 2013

Reencontro





Ainda ouço teus passos se distanciando,
perdendo-se na esquina que te engolia,
tragando-te afoita,  droga  à revelia,
mutilando uma história que ainda aconteceria.

Sibilam em meus ouvidos as badaladas de um sino
marcando as horas, trilha sonora que estribilha
rasgando-me a carne, mostrando meus avessos,
tendo a lua a compactuar com meus tropeços.

Ainda ouço o estardalhaço dos soluços
que meus lábios apertados tentaram segurar
e num sôfrego vazaram, desabados,
num choro compulsivo, sem parar.

Fostes...simplesmente fostes,
( como sempre fostes),
sem medires a proporção do estrago,
a dimensão de inconsequente ato,
carregando sobretudo, tudo...

Talvez me reencontre sem teu disfarce
e me resgate  algum ancoradouro...
Corpo e alma num inusitado encontro, sem ais...
E o silêncio do luar oculto entre a névoa de um cais.

_Carmen Lúcia_